S. F. Oliveira (2015) Sozinho no Bar. http://sozinhonobar.weebly.com/ ©
Prefácio
Esta coletânea trata de textos associados ao cotidiano. Todos foram escritos em 2011, o que explicaria a insistência em algumas referências como fatos políticos, séries de televisão ou filmes.
Escrever é uma necessidade. É um prazer.
Espero ainda contribuir de alguma forma com o processo de reflexão do leitor.
Existem oportunidades, que escrevo vários textos como um quebra-cabeças. Quero entender algo e isso não acontece de imediato. Escrever o que eu penso, reflete esse processo. Assim, posso precisar de vários textos para compreender alguma coisa que me incomoda. Se o leitor tiver interesse no meu problema e conseguir associar as ideias dos vários textos, finalmente, encontrará aquilo que eu mesmo estava procurando.
INSTINTO SEXUAL: PÍLULA ANTICONCEPCIONAL E VIAGRA
Quem, num momento de revolta, não disse, para os pais, que não pediu para nascer? Deveria saber também, que eles não programaram a gravidez. John Lennon é claro neste aspecto:
"Noventa por cento das pessoas deste planeta, especialmente no Ocidente, nasceram de uma garrafa de uísque numa noite de sábado - são acidentes. Não conheço ninguém que seja um filho planejado. Todos nós somos embalos de sábado a noite." (Playboy - Entrevistas, p. 308)
Trata-se de uma opinião radical. Assim era Lennon. A sua fala corresponde a um contraponto ao "não pedi para nascer". Quando um filho diz isso, deveria ouvir dos pais: "e quem disse que pedimos?" Especialmente no caso de uma mãe, jamais ocorreria uma reação desta maneira. Os pais tentam ser compreensivos com os filhos e com os netos. Por isso, mentem sobre quase tudo, exceto o amor que sente por suas crias.
Renato Russo já dizia: "os seus pais são crianças também". Queria dizer, basicamente, que todos estariam no mesmo barco: a vida. Em outras palavras, sexo é bom pois representa a possibilidade de continuidade da vida. Animais entram no cio para preservar a espécie. No caso do homem, como ele tenta controlar tudo, resolveu também controlar o impulso sexual associado à procriação. Inventou a pílula anticoncepcional. Posteriormente, pensando no sexo como prazer, inventou o Viagra.
Pílula anticoncepcional e Viagra tratam de questões relacionadas ao corpo. Mas o sexo, além do instinto da natureza, envolve, no indivíduo, o lado emocional. Como negar o óbvio? Mesmo quando um ato parece não ser importante, ele fica gravado na mente da pessoa e, de alguma maneira, pode influenciar as suas futuras ações.
É natural resistir a um pensamento que corresponde a um ato desagradável. Resistir, negar, só piora e reforça a neurose, criando problemas para o indivíduo, como a insônia (ponto de vista freudiano). O que fazer, então? Primeiro, assumir para si (e não para os outros) que de alguma maneira a pessoa foi responsável por aquele ato. Segundo, fazer uma autocrítica, afinal, o que a levou a tal situação? Por que o ato gerou incômodo depois?
Autocrítica pode não ajudar a consertar os erros do passado, mas, pelos menos, evita repeti-los no futuro.
SEXO
Qual seria a média de parceiros sexuais que uma pessoa teria ao longo da vida? Essa pergunta não teria sentido algumas décadas atrás, na medida em que as mulheres deveriam casar virgem e o casamento seria baseado na monogamia (principalmente para elas). Hoje em dia é diferente. Assim, a pergunta vale tanto para os homens como para as mulheres.
Num artigo que mostrava os dados de uma pesquisa sobre o comportamento dos homens de diferentes países em relação ao sexo, o número padrão seria acima de 11 pessoas. Em outras palavras, ter relações com até 10 mulheres diferentes seria considerado razoável. Nas respostas afirmativas, os homens brasileiros representavam 55% enquanto os de Taiwan eram só 7%. Os números da Alemanha, França e Grécia foram, respectivamente: 49%, 37% e 42%.
Em um episódio de "Two and Half Men", quando questionado se o "seu número" seria 10, o personagem Charlie Harper responde: "não... é bem acima disso." Nunca me preocupei com este tipo de coisa. Sempre gostei de namorar - normalmente em torno de um ano ou mais - e ser monogâmico. Mas tenho quase 50 anos. Tentei lembrar dos meus relacionamentos. Conclusão? Não seria como a de Charlie... Seria algo que representaria quase o dobro deste número. O meu caso, portanto, confirmaria os dados respondidos pelos brasileiros na pesquisa.
Qual seria o motivo deste comportamento, entre os homens brasileiros? Bem, isso seria um tema interessante para a realização de outra pesquisa. Uma hipótese pode ser o fato do país ser tropical, o que favoreceria um comportamento mais liberal, com modas que enfatizam o uso de pouca roupa e a frequência em clubes e piscinas, quando os homens se deparam com mulheres bronzeadas em minúsculos biquínis (diferente do que acontece nos Estados Unidos, por exemplo). No entanto, trata-se apenas de uma hipótese. As respostas ficariam mais claras com uma pesquisa ampla.
Obs.: a referência do artigo citado é:
PETERSEN, James R. As the world turns. Playboy, Chicago, 42 (2): 142-145, february 1995.
INFIDELIDADE
Existe uma propaganda de carro que um rapaz fala para o amigo:
"você lembra da sua ex-namorada? Tô pegando..."
Depois ele continua afirmando coisas que as pessoas não gostariam de ouvir, mas, por estarem impressionadas com o carro, não prestam atenção no que é dito e ainda afirmam:
"você está me escondendo algo..."
Basicamente, tanto para o homem como para a mulher, ficar o com o ex do (a) outro (a) cria uma certo mal estar na amizade.
No ponto de vista do homem, muitas vezes o amigo namora aquele tipo de garota que seduz todo mundo e fica com muitos rapazes. Por quê não... você? O amigo costuma dizer:
"Eu sei que ela é 'piriguete', mas, poxa, existem tantas por aí... e você tem logo que pegar a minha ex!"
É complicado. Na minha adolescência, o comum era um aprontar algo com o outro. É assim no caso dos homens. Nunca dava para confiar. Se o amigo falava que tinha visto um filme ótimo e que você deveria assisti-lo, você ficava na dúvida, pensando se não seria "outra" que ele estaria planejando contra você.
Bom, pelo menos era assim na minha adolescência, não havia muito respeito um pelo outro, era algo implícito e natural. Falar em ética era dar margem para ser questionado em sua masculinidade.
Neste clima, as exs e nem as namoradas atuais dos amigos eram respeitadas. Se elas tivessem algum interesse, era infidelidade na certa. Naquela época, os amigos até entendiam pois se tivessem naquela situação fariam o mesmo. Em outras palavras, as garotas pegavam a má fama.
Não é uma confissão e muito menos uma justificativa, mas fiquei com namoradas de amigos naquele período. Não sei se faria isso hoje. Mas se fiz antes, imagino que eu não seja do tipo muito confiável...
De qualquer maneira, reconheço que é uma postura inadequada e que deveria ser evitada. Não sei como as novas gerações lidam com o tema, mas essa é a minha opinião.
Claro que não participo de grupos e nem tenho amigos como acontecia na adolescência. Acho que cheguei naquele fase de "Two and Half Men", quando o personagem Charlie Harper pergunta para o seu padrasto: "mas você não tem os seus amigos?" e ouve como resposta:"Charlie, quando você chega na minha idade, os seus amigos, na maioria, estão casados ou mortos."
O problema, hoje, nem é sair sozinho, o difícil é saber diferenciar os casados dos mortos...
A DOR DA SOLIDÃO
Existe um tipo de mal-estar que não pode ser resolvido com remédios nem com terapias. Muitas pessoas fazem vários exames e os médicos não identificam a causa. Teoricamente, está tudo bem com aquele indivíduo. No entanto, o incômodo permanece.
Alguns tentam fugir, inventam um obsessão qualquer e acreditam que, assim, não sentiriam mais aquela dor. Uma alternativa comum é escolher o consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Por um momento, pelo menos, existe a sensação de bem-estar, mas, posteriormente, vem a ressaca e aquela dor ainda está lá. Seria a dor da solidão?
Como diria o poeta, "é impossível ser feliz sozinho." Em outras palavras, existem emoções que só podem ser plenamente satisfeitas com a intervenção do outro. Freud esclarece:
"A experiência demonstra que, aqui, a primeira via a ser seguida é a que conduz a 'alteração interna' (expressão das emoções, gritos inervação vascular). Mas, como já explicamos no início (...), nenhuma descarga pode produzir resultado aliviante, visto que o estímulo endógeno continua a ser recebido (...).
Nesse caso, o estimo só é passível de ser abolido por meio de uma intervenção (...) e uma intervenção dessa ordem requer a alteração no mundo externo (fornecimento de víveres, aproximação do objeto sexual), que, como 'ação específica', só pode ser promovida de determinas maneiras.
O organismo humano é, a princípio, incapaz de promover essa ação específica. Ela se efetua por 'ajuda alheia', quando a atenção de uma pessoa experiente é voltada para um estado infantil por descarga através da via de alteração interna."
Em suma, é difícil admitir que o outro é necessário. É desagradável perceber que aquela fuga não passou de uma ilusão e que o problema permaneceu. Tentar ser feliz com alguém é admitir uma relação conflituosa. Mas, existe outra solução?
O PODER DE SEDUÇÃO DA MULHER
Na Antiguidade, a mulher, como objeto de desejo, era vista com desconfiança:
"Engano possível sobre o corpo que os enfeites escondem e que se arrisca a decepcionar quando é descoberto; ele é rapidamente suspeito de imperfeições habilmente mascaradas; teme-se algum defeito repelente; o segredo e as particularidades do corpo feminino são carregados de poderes ambíguos." (Michel Foucault, O Cuidado de Si, p. 220)
Com o tempo, os truques femininos ficaram mais sofisticados. O silicone, por exemplo, nos dias atuais, sempre gera a dúvida no homem diante de um belo decote. Além das cirurgias plásticas, a mulher ainda conta com vários recursos de beleza, o que a faz ficar horas diante do espelho antes de se considerar pronta para aparecer em público. O homem não quer saber do "processo" e se interessa somente pelo "produto final". Isso o torna uma "presa fácil" ao jogo de sedução da mulher.
Desde pequena, a mulher é educada para dizer "não" e dificultar as coisas na relação amorosa. Tudo deve ser sutil. Esse mistério excita o homem, o transforma num objeto, exatamente no momento que ele acredita possuir maior controle. Enquanto ele é instinto na relação sexual - precisa ser, é ativo, é transparente, é visível com a sua ereção -, ela pode ser dissimulada, fingir, parecer uma coisa e ser outra.
O que a mulher precisa? Poder. Controle. Para isso, necessita, antes, ser desejada e para realizar esse objetivo, ela conta com aqueles recursos. Ela vem para um encontro como um mágico caminha para o espetáculo, ou seja, ela possui muitos instrumentos para desviar o olhar do outro enquanto faz o que realmente deseja.
FAZER SEXO OU FAZER AMOR?
Os atores Charles Sheen e Colin Farrell admitiram que pagaram (e pagam) por sexo. Nelson Rodrigues diferenciava sexo de amor. Sempre fui contra essas ideias.
Usava (e ainda uso) a expressão "fazer amor" e nunca "transar" ou "fazer sexo". Ultimamente, porém, tenho questionado a minha postura: seria possível só fazer sexo? Claro que sim. Basta lembrar-se da ideia do "dark room" - sexo no escuro sem saber a identidade da pessoa.
No sexo, ocorre, algumas vezes, uma "representação" do amor... As pessoas dizem coisas, no calor do momento, que normalmente não diriam umas para as outras. Essa "representação" é comum em filmes de sexo explícito, quando as atrizes fingem um prazer. Uma esposa pode fingir um orgasmo para que o marido a deixe descansar ou pode fingir que está com sono para não fazer sexo com o esposo. Existe mulher que usa, sem necessidade, absorvente, no intuito de frustrar o interesse sexual do parceiro.
Pagar por sexo é pagar por uma representação do outro visando o próprio prazer. Existe algo errado nisto? A afirmação de que num casamento seria só envolvimento emocional e de que a prostituição seria só algo comercial parece não ser tão simples.
Não defendo o sexo pago. O que eu sou contra é a hipocrisia.
Muitas garotas aceitam presentes caros para ficar com homens que, sem isso, normalmente não ficariam. Recusam dinheiro, mas aceitam, por exemplo, jantares, viagens, carros, imóveis e joias. Não quero dizer com isso que elas sejam prostitutas.
A esposa que usa a relação sexual para negociar a reforma da casa com o marido, estaria fazendo o que exatamente? Mais uma vez: existem casos e casos. Nem toda mulher faz chantagem e não existe nada de errado em namorar um rapaz que goste de dar presentes caros para a sua companheira.
O que faço aqui é só problematizar uma situação que, muitas vezes, é apresentada somente em dois blocos: as certas - as esposas - e as erradas - as amantes, as prostitutas.
AS MULHERES VENCERAM
Vieram me contar várias histórias de homens casados que eram humilhados e abandonados pelas esposas. A maioria era de 50 anos. No entanto, descobri que isso vem acontecendo com as outras gerações de casados também, os 40tões, 30tões e até os 20tões.
As mulheres casadas simplesmente perderam a paciência com os maridos! Claro que elas estão certas, nós, homens, tivemos uma educação machista e gostaríamos todos de ter uma "Amélia" em casa. Foi o tempo! Atualmente, mesmo não sendo infiel e cumprindo os supostos deveres de um bom marido, o caminho é sempre o mesmo: a rua.
Chega a ser constrangedor para "a categoria", mas é a realidade. Conheço alguns de 50 anos que voltaram a morar com os pais como se ainda tivessem 12 anos... Colocam a culpa nas esposas, que ficaram com os imóveis, os carros e os filhos, além de deixar as pensões para pagar todos os meses.
Tudo isso pode ser verdade. Entretanto, não é a questão central. Soa mais como uma desculpa de alguém que fracassou no casamento - eu posso falar pois sou divorciado, ou seja, comigo também não deu certo.
A maioria não admite o óbvio: houve muitas transformações no mundo desde 1950 e estamos em...2011. Entendeu? Não? É por isso que o seu casamento não deu certo!
Existe solução? Não. Nós, homens, estamos perdidos e sem futuro em termos de dar continuidade a uma vida de casal. Tenho amigos que casaram duas ou três vezes... e nada! Foram abandonados por todas as esposas.
O que fazer? Eu, por exemplo, aceitei a derrota e aprendi a morar e viver sozinho. Pronto. Assumo as minhas limitações. As mulheres venceram e sempre estiveram certas. O problema, hoje em dia, é que agora elas sabem disso.
VIAGRA, PROZAC E COCAÍNA
No mundo ocidental, ser velho é ser rejeitado. Primeiro, é colocado para fora do mercado de trabalho. Depois, existe uma rejeição do ponto de vista sexual, na medida em que o capitalismo valoriza o novo. Do ponto de vista do Estado, torna-se um problema porque é visto como inativo e recebe aposentadoria. A tendência da sua saúde, com o passar do anos, é piorar.
As crises aparecem como consequências deste quadro: falência, desemprego, divórcio, prisão, asilo, loucura, alcoolismo e suicídio, entre outras. Não são divulgadas pesquisas sobre o uso de drogas na velhice. Talvez isso aconteça porque o usuário de droga, por causa do próprio vício, morre cedo. Outro motivo seria a postura conservadora dos velhos, que aceitam o álcool mas acreditam que a droga seria um mal, algo associado a criminalidade. Existem pessoas que continuaram a usar drogas na terceira idade, como Jerry Garcia, William Burroughs, Keith Richards e Timothy Leary. Entretanto, são exceções.
Na velhice, o indivíduo pode ter mais experiência e dinheiro. Ele utiliza esses dois mecanismos para enfrentar as crises. Como? A sua principal preocupação é disfarçar a velhice, pintando os cabelos, fazendo cirurgias plásticas e usando roupas da moda. Além disto, os desesperados apelam para a ostentação - o que os torna ainda mais ridículos -, usando várias correntes de ouro e desfilando em carrões. Com o dinheiro, podem frequentar os melhores lugares na companhia de belas mulheres. Um exemplo recente é o escândalo envolvendo Berlusconi, na Itália.
No que diz respeito à sexualidade, o Viagra surgiu como um aliado. No entanto, a procura por novidades, nesta idade, pode levar a situações bizarras, como são as orgias promovidas por Hugh Hefner, dono da Playboy, que, de acordo com uma "playmate dissidente", além das mulheres, conta com vídeos pornográficos homossexuais.
Nas festas dos milionários e famosos, não faltam, claro, excesso de bebidas alcoólicas e drogas. Contudo, nem sempre os velhos dão conta da mistura de sexo, whisky, Viagra, Prozac e cocaína (ver sobre a morte de John Entwistle). No filme "Henry & June", o amigo de Anais diz para ela: "abnormal pleasures kill the taste for the normal ones." Entretanto, a excitação na velhice não é como na adolescência, quando tudo seria novidade. A busca pelo diferente é um risco (relações sadomasoquistas, por exemplo), somada ao uso de drogas e à idade, pode simplesmente ser fatal.
Enfim, novas tecnologias, novos medicamentos, novas experiências sexuais, novas drogas e... um velho problema: a representação da velhice no mundo ocidental só não é pior do que a da morte, que também é apresentada como algo extremamente negativo.
MULHERES ALCOOLIZADAS
Teoricamente, os homens trabalham, produzem, gastam e movimentam a economia. O que eles querem? Simples: mulheres. Como lembra Zhirinovsky, "os homens procuram dinheiro para o prazer da mulher, para comprar presentes para ela. (...) Eles não precisam de dinheiro para eles mesmos. Eles precisam para comprar presentes caros."(Playboy, March 1995, p. 55 e 154)
Nesta perspectiva, são realizadas festas que só entram mulheres até a meia noite e elas não pagam pelas bebidas. A estratégia é óbvia. Depois deste horário, é liberada a entrada para os homens. Conheço rapazes que, nesta linha de raciocínio, chegam nas festas e boites depois das duas horas da manhã. Se o objetivo é conquistar uma mulher, se ela estiver alcoolizada e ele não, seria mais fácil.
Existem vários "webites" que elogiam as mulheres bêbadas -"everyboy loves a drunk girl", mas as garotas nas fotos parecem mais mulheres de strip-tease do que garotas normais, daquelas que estudam, trabalham e moram com a família. Será que elas se importam? É comum ver peças de roupas, no cotidiano delas, que antes só eram usadas entre quarto paredes ou em bordéis.
O fato que poderia ilustrar esta situação seria a constatação de que a garota de programa, atualmente, faz faculdade e mora em flats bem localizados.
Claro que existem diferenças entre os vários tipos de garotas que frequentam os bares e as casas noturnas. Alcoolizadas, porém, aos olhos dos homens, todas ficam parecidas, o que levaria, inclusive, a atitudes grosseiras por parte deles - qual mulher nunca levou uma cantada de extremo mau gosto de um homem (bêbado ou sóbrio)?
Em suma, na noite, a ideia que passa seria que uma mulher alcoolizada seria um alvo fácil. Fragilizada, ela faria algo que se estivesse sóbria nem pensaria em tal possibilidade.
O que fica nisto tudo? Primeiro, deve ser pensado o que a pessoa provoca no outro - com as roupas ou a postura. Segundo, antes da famosa terceira dose, vale a pena refletir se compensaria fazer coisas que no dia seguinte deixaria qualquer indivíduo envergonhado.
Dicas são hipóteses. Na prática, costumamos esquecer as teorias e os conselhos, deixando tudo por conta dos instintos. A ressaca, assim, torna-se inevitável.
TRAIÇÃO
Parece que os jovens traem mais hoje do que antigamente. Mentem com mais facilidade. Não se preocupam com as consequências dos seus atos.
Tudo isso é resultado de uma geração de (muitos) pais divorciados e (muitas) mães solteiras, geração que foi criada num clima político sem censura e, na área econômica, sem inflação. As conquistas do movimento feminista aparecem como coisas naturais aos olhos dos mais jovens. A flexibilidade na educação (tanto na escola como na família) contribuiu para a formação daqueles que agora estão com 20 e poucos anos.
Assim, trair a pessoa num namoro não é considerado grave. Para alguns, é um hábito. Fazem isso sempre e em todos relacionamentos. Tudo funciona até o indivíduo experimentar do próprio veneno, ou seja, quando ele realmente gosta de alguém e descobre que foi traído... Vem a sensação ruim de ter sido enganado pela pessoa amada... a dor no coração... a angústia... a solidão...
Em muitos casos, por causa do amor, quer perdoar a traição, mas tem medo que aconteça novamente. Fica claro que alguma coisa "quebrou" na relação e ela nunca mais será a mesma. Mas se está apaixonado, o que fazer? Não consegue mais viver sem a pessoa amada e não suporta olhar na cara dela e lembrar-se da traição. O dilema deve servir como um aprendizado, como uma autocrítica, afinal, o que ele fazia com todos, ocorreu com ele.
Entretanto, nem sempre as pessoas mudam após sofrer uma traição. Muitos desejam vingança, como se isso fosse resolver alguma coisa. Outros escolhem o cinismo. De qualquer maneira, a primeira traição (sim, virão outras) muda algo no indivíduo. A partir daquele momento, ele terá que fazer novas escolhas. A sensação de que era intocável não existe mais. Ele é apenas um ser humano e sofre como qualquer um. Pode ser que fique mias maduro no que diz respeito às relações amorosas. Ou não. Cada um faz o seu caminho. Mas é justo saber que ninguém é melhor que ninguém. Em resumo, estamos no mesmo barco.
DIA DO HOMEM - 15 DE JULHO
Existem datas comemorativas sobretudo para, de um lado, lembrar daquelas pessoas ou categorias que sofreram injustiças - como o Dia do Trabalhador e o Dia da Mulher - e, por outro lado, num ponto de vista conservador, para reforçar mitos e tradições - como, por exemplo, o Dia da Independência. O Dia do Homem, que será comemorado no próximo dia 15 de julho, não poderia ser visto na primeira perspectiva, sobretudo numa sociedade machista como a nossa.
No resto do mundo, a data é lembrada em 19 de novembro. Na Wikipédia, é dito que:
"Os objetivos principais do Dia Internacional do Homem é melhorar a saúde dos homens (especialmente dos mais jovens), melhorar a relação entre gêneros, promover a igualdade entre gêneros e destacar papéis positivos de homens. É uma ocasião em que homens se reúnem para combater o sexismo e, ao mesmo tempo, celebrar suas conquistas e contribuições na comunidade, nas famílias e no casamento, e na criação dos filhos."
Certamente, a Wikipédia, com os seus textos mal elaborados, é uma fonte problemática, assim como a ideia do Dia do Homem. Alguém consegue imaginar "uma reunião de homens heterossexuais para combater o machismo"? Não é por acaso que não ocorrem passeatas ou comemorações em tal dia. Os homens não importam com isso. A maioria nem sabe que a data existe. E os que sabem, não se importam. Por que deveriam?
São as mulheres que reclamam, muitas com razão, das injustiças de uma sociedade machista. Elas que reivindicam direitos de igualdade.
Os homens heterossexuais, em sua maioria, não se preocupam com os direitos dos outros - especialmente os das mulheres. Acreditam que o mundo seria como uma selva e valeria a lei do mais forte. Não choram. Não reclamam. Acham que essa história de comemorar uma data especial é discurso de vítima, de gay ou de mulherzinha. Partem do princípio que homem que é homem não dá bola para esse tipo de coisa. Preferem ver uma partida de futebol e tomar várias cervejas geladas.
A questão, contudo, não é saber se os homens heterossexuais estão certos ou não. O problema está na invenção do Dia do Homem. Quem pediu isso? Quem leva a sério?
MULHERES INTELIGENTES E SOLTEIRAS?
Se antes dos 18 anos fica a sensação que o tempo não passa, depois da maioridade, para muitos, o tempo "voa"... Numa época como a atual, que os filhos matam os pais por motivos cada vez mais fúteis e que a tecnologia atinge quase todos os níveis sociais - celulares e internet, por exemplo -, aquela sensação permanece, mas de uma maneira diferente.
A crianças encurtam a infância, querem se vestir e comportar como adultos. Na adolescência, com o uso de vários recursos, entre eles as carteiras falsas, todos podem, de fato, passar por adultos, tanto do ponto de vista da sexualidade como quanto ao uso de bebidas alcoólicas, cigarros, drogas, entre outros "privilégios" da maioridade.
É comum a gravidez em meninas com menos de 15 anos. Casos de alcoolismo não são raros. A situação torna-se complicada, na medida em que as pessoas nesta idade ainda não têm experiência para avaliar o que seria certo ou errado e não sabem que os atos geram, necessariamente, consequências, podendo ser positivas ou negativas.
Outro fato interessante é que, quando realmente chegam aos 18 anos, parecem cansadas "daquela vida" e nada parece ser novidade. A partir deste momento, os comportamentos divergem, os homens querendo ficar com garotas mais novas e as mulheres achando óbvias as cantadas de "linda e gostosa" e demonstrando tédio naquilo que, antes, era bom: beijar um cara diferente toda noite. Elas ficam mais maduras e seletivas.
Assim, se deparam com um problema realmente novo: os homens, normalmente, preferem aquelas estilo "Marylin Monroe" e não as que questionam e não são ingênuas mais. Com a passar dos anos, a tendência é a situação ficar mais complicada. Quando finalmente elas decidem que querem algo sério, percebem que não existem muitas escolhas no universo masculino. Pior, descobrem que elas deixaram de ser interessantes para os homens de uma maneira geral, que preferem as mais novas e sem tanta experiência.
O dilema pode tornar-se desespero. As alternativas não parecem boas: (1) ficar solteira - mesmo admitindo que o lado emocional ficaria fragilizado e traria problemas como solidão, carência e crises de choro -, (2) admitir que não dá para "concorrer" com as mais novas em condições de igualdade - afinal, elas são "escolhidas" pelos homens - e procurar namorar e casar o quanto antes, para isso, claro, terá que fazer concessões quanto ao "príncipe encantado", o que significa que terá de aceitar um homem com filhos ou divorciado ou paquerador ou desempregado, entre outras características negativas e (3) viver no mundo da fantasia, fingir que a idade não passou, continuar vivendo as noitadas como se nada tivesse mudado, mesmo percebendo que, na prática, é tratada maneira diferente pelas pessoas, sobretudo pelos homens. No caso da terceira alternativa, o excesso de bebidas alcoólicas ajuda na fantasia, mas o dia seguinte sempre chega e, com ele, podem vir a ressaca alcoólica e ainda aquela outra, pior, a ressaca moral.
Muitos podem dizer que eu sou pessimista. Outros podem concordar e afirmar que isso tudo é resultado de uma sociedade machista. De qualquer maneira, estas são as minhas impressões sobre os relacionamentos atuais.
O DIFERENTE E OS OUTROS
Tentam imputar o sentimento de culpa naquele que ousa ser "diferente". São ingênuos que se julgam poderosos.
O "diferente", em sua liberdade, incomoda os outros. Eles não percebem uma ausência de culpa no "diferente". Eles não entendem que a culpa está neles e será a responsável pelos males que sofrerão como insônia, falta de apetite, irritabilidade e desinteresse sexual.
Na superficialidade, imediatismo e imbecilidade, os outros não compreendem o
"diferente" e logo o rotulam de louco. Dizer que o alguém é louco, na sociedade moderna, significa associar essa pessoa a termos como "indigência, preguiça, vícios (...) miséria (...) desemprego (...) decadência social." (Foucault, História da Loucura, p. 487)
Não suportar a liberdade do "diferente" leva ao internamento do louco. A prisão do "diferente" é feita como um favor ao agora tratado como doente. A prisão alivia o incômodo pois seria associada ao favor. No entanto, ela não resolve a infelicidade dos outros. Algo ainda incomoda.
Após o internamento, a próxima forma de exclusão do "diferente" seria a destruição do seu ser com todas as formas de censura, humilhação e repressão. Assim como a derrota do torturador é a morte da vítima, a destruição do "diferente" deve ser invisível e não real - como no caso de uma "morte material".
A morte real é o cheque mate do "diferente". Com ela, os outros percebem a sua falta e a sua importância. Os outros finalmente entendem que os erros estavam neles, dentro da sua patética condição humana. O que os outros recusavam ver, com a morte do "diferente", torna-se claro. Não há como fugir. O "diferente" não existe mais para poder carregar a culpa dos outros.
A morte do "diferente" destrói aquele ridículo castelo de cartas que todos os outros construíram e fingiam ser algo sólido, real e verdadeiro. De uma hora para outra, os outros encontram, finalmente, o espelho e o que percebem naquela imagem é um conjunto do que existe de pior no ser humano: inveja, brutalidade, rancor, infelicidade, violência e tantos outros sentimentos negativos.
A saída de cena do "diferente" representa, ao mesmo tempo, a chegada do espelho e com ele vem a queda dos mascarados outros. O espelho é "interno", não tem como destruí-lo. Ele é eterno, estará sempre com os outros. Ele pode ser definido em uma única palavra: culpa.
COMO TERMINAR UM NAMORO?
Em um dos episódios de Charmed, a personagem Phoebe fala o que um homem deveria evitar na hora de acabar com uma relação:
. Nós ainda podemos nos encontrar (ficar).
. Eu não mereço você... ainda.
. Eu preciso de mais tempo para 'mim' antes de termos mais tempo para 'nós'.
. Não é você, sou eu.
. Seja o que for fazer, não comece uma frase com: 'nós precisamos conversar.'
É interessante como os homens falam uma coisa e as mulheres ouvem algo completamente diferente. Antes de dizer estes conselhos, Phoebe pergunta o que o amigo gostaria dizer para a namorada e ele fala:
"... você sabe, por mais que eu a ame, por mais que eu gostaria de ficar em San Francisco, eu não posso. E eu não sei por quanto tempo o meu trabalho me manterá longe daqui."
Ela interrompe e diz:
" Não, não, o que você disse para ela foi que por mais que você quisesse ficar e fazer sexo com ela, você tem esposa e filhos em outra parte do país."
O amigo fica confuso, claro. Talvez por isso os homens evitem tanto momentos como este. Alguns nunca mais aparecem, simplesmente. É a velha história do marido que diz para esposa que comprará cigarros e nunca mais volta para casa.
Os homens não têm medo do fim de uma relação. O que falta é argumento. Não é por acaso que, em qualquer discussão do casal, a mulher o convence a fazer algo que não gostaria. Claro que nem todos são assim, mas certamente a maioria passou por algo parecido.
Homens e mulheres possuem pontos de vista diferentes do que deveria acontecer na relação. Não existe um "tradutor automático" entre os dois. O que complica ainda mais, é saber que isso é que faz um namoro ser interessante.
Em outras palavras, existe uma grande dificuldade de entender os desejos das mulheres... Aliás, seria somente dificuldade ou poderia ser algo mais por parte do homem, como preguiça ou desinteresse?
De fato, existe uma relação de dominação entre os dois, por isso, em alguns momentos, um pode fazer algo só para implicar com o outro. Em casos extremos, a relação fica inviável e o fim aparece como a única solução. Normalmente, o "fim" é associado a (ao) "ex" e as esperanças são depositadas no futuro relacionamento.
MODELOS E CÉREBROS
A década de 1980 foi das supermodelos (em termos, claro). O interessante é que a música síntese delas (inclusive com a participação das principais garotas) tenha sido "Freedom 90" de George Michael. Na época, o cantor fazia pose de "sex symbol" e, posteriormente, assumiria a sua homossexualidade. Não seria por acaso.
Por que alguém namora ou sai com uma modelo? Para se mostrar, é óbvio. Não tem nada a ver com a modelo. Ela seria como uma ferrari, um objeto que você adquire para mostrar aos outros que você pode e que você é diferente ou (para os ingênuos) que você seria superior.
Na época que participava das seleções para a pós-graduação no Rio de Janeiro, um mestrando da PUC me disse algo que hoje eu entendo: "você fica fascinado com a língua francesa e com as europeias... Vou te dizer uma coisa, comi uma francesa e não foi bom... Nem de longe se compara com uma mulata na cama..."
Ele estava certo. Já me envolvi sexualmente com modelos, negras, orientais, gostosas, magras, gordas, feias, lindas, etc, etc... No final, como diria Mr. Big do Sex and The City, a que importa é aquela que te faz sorrir. É isso.
Faz tempo que não tenho saco para o tipo "gostosa, burra e chata". Peço licença e simplesmente desapareço. Sei que não adiantaria conversar. Nem perco o meu tempo, assim como não explico por que estou em tal lugar ou não. Não sou o que você esperava? "Too bad..."
Quanto às supermodelos, Mr. Big estava equivocado quando dizia que eram apenas "beautiful things". Elas não sabem, claro, mas representam mais do que isso. E esse é o problema: como explicar para "coisas" que elas podem representar (também) algo negativo para a sociedade? Humm... Não dá. Se for se envolver, vale uma vez - o preço é caro (não em dinheiro...e sim em presentes...), mas pelo menos você pode gozar na hora e falar mal depois.
O QUE ACONTECE COM AS MULHERES?
No primeiro episódio de "Sex and the City", a personagem Miranda conta uma história: "eu tenho uma amiga que só saía com homens bonitos e só se divertia. Um dia, acordou e já tinha 41 anos. Ninguém queria mais saber dela. Teve um ataque, não conseguiu mais trabalhar e voltou para o Wisconsin para viver com a mãe. Confie em mim, isto não aflige os homens."
Realmente, esse tipo de história não comove os homens, porque, por princípio, todos foram educados para querer sempre a "próxima" ou a "outra" mulher. Somente em casos extremos, ele "repete" a garota - como no fim de uma festa em que ele não conseguiu ficar com alguém interessante. Uma ex-namorada parece-lhe um caminho garantido, afinal, ele já conhece o "mapa da mina" (péssimo trocadilho, por sinal).
O que acontece com as mulheres? Elas não confiam nas amigas e, de fato, não acreditam nos homens. Elas querem acreditar, são formadas para isso. Entretanto, diante da realidade, elas fingem que acreditam por não terem alternativas ou por terem medo de ficar sozinhas.
O problema está na fase em que elas deixam de ser crianças em tornam-se moças (termo antigo esse). Dos 15 aos 21 anos, elas vivem a melhor fase: são desejadas, cobiçadas, descobrem o poder da sedução e, naturalmente, acreditam que aquilo durará para sempre. As cantadas dos homens reforçam esse mito.
Lindas, novas, magras - assim, elas entram na faculdade. Aqui, elas escolhem dois caminhos: 1) apaixonam-se por um colega, formam, casam, têm filhos e depois divorciam ou 2) ficam solteiras e aproveitam tudo que essa fase oferece: "ficantes", festas, bebidas, drogas e sexo, muito sexo. As que escolhem o segundo caminho, no fim da faculdade, começam a enfrentar alguns dilemas: as amigas têm filhos, outras casam e elas não apresentam o charme das "calouras" - se consideram velhas diante de uma realidade com meninas cada vez mais novas, bonitas e dispostas a viver aventuras. É um duro golpe na autoestima.
Depois da formatura, pode vir o pior: voltar a morar com os pais (se a faculdade era em outra cidade) ou continuar morando na casa dos pais, depois de ter vivido tantas experiências... Sair de casa e morar em "repúblicas" passa a sensação de não ter saído da universidade.
Morar sozinha não é fácil: é caro, os pais podem não concordar e ainda existe a solidão. A solução seria casar, mas... como? Depois de formada, com 25 anos, onde acharia um pretendente, mais velho, trabalhador e cujo sonho seria o casamento? Esse homem não existe. Depois dessa idade, formados ou não, mas com carros e melhores salários, os homens querem se divertir e isso pode significar tudo exceto compromisso.
Após essa faixa etária, as mulheres percebem que não são mais o foco de atenção das festas. Se antes dos 21 anos, elas faziam piadas das mais velhas, de suas rugas e de suas roupas, que "não seriam adequadas para pessoas daquela idade", agora, elas tornaram-se aquilo que ridicularizavam. Pior, elas sabem disto. Por isso, bebem mais. No entanto, rapidamente, descobrem que a ilusão criada pelo álcool tem limite. Por isso, é tão comum, no final da noite, encontrar mulheres em prantos, querendo entender o que aconteceu com a vida delas. A resposta é simples: o tempo passou.
Lidar com esse fato quando viveu uma infância e uma adolescência achando que era uma verdadeira princesa e que só faltava encontrar a sua "cara metade" para ser feliz para sempre... Bom, neste caso, a crise pode ser mais séria e a solução, se existir, poderá estar mais distante do que ela gostaria.
REJEIÇÃO E “BULLYNG”
A palavra-chave na condição humana é rejeição. O indivíduo luta a vida inteira para ser aceito pelos outros, seja na família, na escola, no namoro, na faculdade, no trabalho, no casamento, na relação com os filhos e na velhice. O problema é que ele pode ser rejeitado numa dessas fases da vida.
Em alguns casos, a pessoa é rejeitada antes mesmo de nascer, afinal, ela torna-se o tema de um debate dos pais sobre o aborto. Nasceu. Pode torna-se um mecanismo utilizado pelo pai ou pela mãe para atacar e ameaçar o outro. Ou pode ser o alvo de ataque dos dois. Para Estela Welldon, (Sadomasoquismo, p. 52-53), poderia existir uma espécie de pacto contra o filho:
"(...) É então que a mulher se identifica com o agressor (o seu parceiro) e volta a agressividade para o filho, que passa ser o membro frágil da família e alvo 'conveniente' para a expressão de hostilidade, agressividade e até violência sexual."
Na escola, aparece o "bullying". Depois para arrumar e manter um namoro, surgem várias exigências do que seria o modelo de "príncipe" ou "princesa". O casamento representa, neste contexto, o lugar ideal das cobranças. Após a chegada dos filhos, o que parecia difícil, fica mais complicado. Se o divórcio acontece, aparecem novos problemas para ser aceito na sociedade como alguém viável e não como uma segunda opção, como se fosse um carro usado - alguns acreditam que fazendo plásticas podem receber o rótulo de "seminovo".
A velhice é sinônimo de rejeição. Pronto. É vista como decadência e não como maturidade (numa sociedade de consumo que valoriza o que é novo e jovem). Ao velho cabe... tentar parecer jovem? Um exemplo é o avô Mick Jagger que até hoje rebola nos palcos do mundo inteiro e toca com os meus amigos de bairro da adolescência. John Lennon ironizava bastante essa situação:
"Quando você tem 16 anos é certo ter companhias e ídolos masculinos. É coisa de tribo, tudo bem. Mas, quando você ainda faz isso aos 40, significa que, na cabeça, você ainda não passou dos 16."
Diante da rejeição, chega uma hora que o indivíduo se pergunta se vale tanto esforço para ser aceito pelos outros. É como insistir em participar de uma festa em que você não é bem-vindo. Para quê? Se a vida for essa festa, a morte pode aparecer como a única saída.
REJEIÇÃO FEMININA
Um homem pode sofrer efeitos desastrosos com a rejeição feminina. É óbvio? Talvez, basta ver o andamento de uma festa, na medida em que bebem e são rejeitados pelos garotas, os homens tendem a ficar violentos. Não é por acaso que justamente aqueles que não conseguiram seduzir alguém são os que iniciam as provocações e as brigas. Depois da festa, sem alternativa, acabam contratando os serviços de uma garota de programa. Senso comum? Provavelmente.
Numa revista italiana - Mix Maxim -, é afirmado que "quando uma mulher rejeita as cantadas de um homem, ativa um mecanismo no qual o afeta de modo negativo tanto no lado psicológico como no físico." As consequências, de acordo com a revista, podem ser "stress, aumento da pressão no sangue, tensão muscular, depressão, insônia, autodestruição, vídeo-poker, dependência de remédios, frustração, perda de peso, alcoolismo, suicídio e ataque de pânico." (resumo livre das informações do artigo) Basicamente, o ato da rejeição levaria ao homem a escolha de quatro caminhos: "1) aumento no consumo de drogas; 2) aumento no consumo de álcool, 3) recorrer a uma prostituta e 4) sintoma de loucura."
A solução proposta pela Mix Maxim é simples: as mulheres deveriam facilitar a sedução. Simples? O que os homens dizem das mulheres "fáceis"? A sedução é um jogo, talvez por isso as mulheres dizem "não" quando querem falar "sim". Elas não falam o que desejam. Usam uma linguagem não-verbal. Sabem o poder que têm - quando estão sóbrias, pelo menos... Sim, porque o excesso de álcool afeta não só o comportamento do homem. Aliás, "deixar" a garota alcoolizada é uma das mais velhas e óbvias táticas para facilitar a conquista. Existem ainda aqueles menos preparados e desonestos que colocam drogas nas bebidas das mulheres. Aparentemente, vale quase tudo no processo de sedução. Ainda bem que existem algumas leis que inibem o estupro e outros comportamentos. No entanto, o que deveria ser questionado é: até que ponto alguém pode chegar na conquista do seu objetivo?
A pergunta é ampla pois serve tanto no caso masculino como no feminino. Quem não se lembra do filme "Atração Fatal"? A sedução é um jogo de poder com um objetivo claramente definido: a conquista. Do ponto de vista emocional, pode ser um desastre para os homens - como lembra a Mix Maxim - e/ou para as mulheres. Solução? Nenhuma. Alguns diriam que seria essa incerteza que tornaria o jogo interessante. Outros afirmariam que tudo seria somente a realização de instintos biológicos. Talvez não seja possível generalizar. Não existe um modelo. Cada caso é diferente e imprevisível. É arriscar... ou não.
CASAMENTO E AVAREZA
Um rapaz convida uma moça para sair. No bar ou no restaurante, tudo caminha romanticamente bem até o momento em que a conta chega. Na hora, o rapaz pega uma calculadora e divide as despesas meio a meio, exatamente, pagando a sua parte inclusive com moedas.
Constrangedor? A garota defende o rapaz porque ela se considera moderna e independente, o que confirmaria a tese de que todos devem ter direitos e deveres iguais. Sério? Ou, no fundo, ela estaria cansada de ficar sozinha e estaria tão difícil arrumar um namorado nos tempos atuais? Ela ainda se considera feliz na medida em que ele pagou pelo menos a metade da conta, afinal, muitos nem isso fazem.
O sinal de avareza do companheiro é visto como "responsabilidade" e até como alguém com quem ela poderia se casar e ter filhos. De qualquer maneira, depois da relação tornar-se um compromisso sério, se ainda ficasse algo que a incomodasse, ela saberia moldar o rapaz ao seu gosto, fazendo-o, como muitas falam, "comer em suas mãos".
Atualmente, o indivíduo é elogiado quando ele não gasta e quando empresta dinheiro aos outros cobrando juros altos. É o tipo que o sogro conservador e religioso sonha para ser o futuro marido da sua filha.
Tudo é apresentado como o caminho natural das coisas. Trata-se da própria normalidade. Não seguir tal modelo seria um sinal de loucura. Certo? Não.
Primeiro, deve existir um desconfiança quando aparecem termos como "naturalidade" e "normalidade". Todos os conceitos são inventados pelos homens. O uso de tais concepções visa eleger o próprio discurso como único e verdadeiro.
Segundo, deve se fazer uma pergunta básica: sempre foi assim? A resposta é não. Um exemplo. No século XVIII, houve o internamento de um abade:
"Sua principal ocupação era emprestar dinheiro a juros altos, enriquecendo-se com as usuras mais odiosas e mais ultrajantes para a honra do sacerdócio e da Igreja. Não foi possível convencê-lo a arrepender-se de seus excessos nem a acreditar que a usura era um pecado. Insiste em ser avarento." (B.N. Fonds Clairambault, 986, Apud, Michel Foucault, História da Loucura, p. 136)
Em outras palavras, um homem da Igreja foi internado por causa da usura! Entretanto, os pecados do século XVIII são considerados virtudes no século XXI. Como explicar isso ao sogro conservador e religioso?
A filha, apesar do medo de ficar sozinha e morando eternamente na casa dos pais, desconfia que aquele tipo de homem está muito longe da figura do cavalheiro e do príncipe encantado que ela sonhava um dia encontrar. Na prática, ela faz um planejamento com metas bem definidas: 1) arrumar um marido; 2) sair da casa dos pais; 3) divórcio, independência, casa própria e, se possível, pensão do ex-esposo. Para o plano dar realmente certo, faltaria apenas combinar com os outros envolvidos...
CATEGORIAS MASCULINAS?
Uma antiga revista italiana "Fox Uomo" (2005, n° 2, p. 72-75) separou os homens em quatro categorias: (1) o fugitivo - "il fuggitivo", (2) o antipático - "l'antipatico", (3) o malvado - 'bad boy' - "il cattivo" e (4) o homem em crise - "l'uomo in crisi". Quatro tipos que devem ser evitados, claro. O problema é o homem que, de alguma maneira, não tenha uma destas características. Outro problema seria que as mulheres mesmo desconfiando disto, acabam assumindo as relações... Reclamam depois para as amigas. No entanto, o comum é repetir o "erro".
No nosso caso - os homens -, justificamos as categorias por vários motivos. Normalmente, não assumindo que elas seriam um problema para nós. Uma justificativa seria a nossa criação. Se existem culpados, seriam, portanto, nossos pais. Outra seria transferir a culpa para a mulher: ela que "busca" homens assim, se você fez algo que ela não gostasse, de fato, estaria apenas realizando o "real" desejo dela.
Não é segredo que as mulheres não gostam de homens "bonzinhos". Elas reforçam o preconceito, qualificando-os de gays. Se ele liga todo dia, seria um chato, pois não sai do pé. Se ele não liga, é porque não se importa com a relação. Não existe um meio termo.
Se ele for do tipo antipático, a sua família vai odiá-lo e você achará injusto, pois todo mundo te tratou bem. Se sua família gosta dele, por ser educado e cavalheiro, você perde o interesse.
Homem em crise não tem jeito: é um saco. Mulher pode reclamar da vida, do namorado e dos amigos. "Boys don't cry". É simples. Por quê existe essa diferença? O homem quer fazer sexo com a mulher - ela foi educada para dificultar as coisas - e o resultado é que ele finge que ouve tudo que ela fala - aquele desabafo que dura horas... - pois, no final, viria a recompensa (na medida em que ele foi tão legal...).
Alguns homens começam as relações mas depois desaparecem. Têm a capacidade de não cumprimentar a mulher que dormiu com ele no dia anterior. O mais comum, é esse tipo evitar o encontro. Dar o telefone errado ou quando ela liga, não atende ou pede alguém para dizer que aquele celular não é mais dele.
Se a relação durou mais de dois meses, tornou-se namoro e fugir fica mais difícil. Contudo, não é uma opção que pode ser descartada, pois terminar com ela pode não ser fácil, ainda mais se você desconfia que ela está gostando - homem evitar usar o verbo "amar" - de você. Se tem que acontecer, a estratégia mais óbvia é escolher um lugar público. Outro mecanismo seria o velho "não é com você, é comigo" ou "eu não te mereço", algo do gênero. Falar que dará só um tempo é óbvio demais e provavelmente não dará certo. Além do mais, você deixa uma brecha para ela te procurar depois.
Em resumo, as mulheres têm todos os motivos para fugir dos homens, sobretudo os que se enquadram naquelas quatro categorias. A questão que fica é: e aí? Ficar sozinha? Acredito que a maioria imagina que "desta vez" será diferente e que esse cara é realmente o que ele promete. Isso chama-se ilusão. Diante da realidade das mulheres, reconheço que pode se chamar isso de "opção".
CRACK E CACHAÇA
Alexandre Garcia disse que o crack substitui a cachaça no país. Será? Acredito que seja mais uma afirmação para chamar a atenção para a gravidade do problema, pois ainda existe uma mentalidade entre os brasileiros de que a droga seria algo errado enquanto as bebidas alcoólicas e os cigarros seriam não apenas legais mas também moralmente aceitos.
De fato, existem 2 milhões de usuários de crack no Brasil. Se fizerem uma pesquisa, provavelmente a maioria é de jovens. No caso do alcoólatra, aquele que bebe cachaça no bar da esquina, o perfil seria diferente: trata-se de uma pessoa mais velha, desiludida, muitas vezes, casada com filhos. Nos dois tipos - crack e cachaça -, o desemprego é a principal característica que existe entre os usuários.
A cocaína sempre causou vários problemas. No entanto, por ser considerada uma droga de ricos, nunca foi tratada como um verdadeiro problema social. Trata-se de uma droga que excita, alivia e vicia rápido. Do ponto de vista do tráfico, o crack foi uma grande invenção: conseguir vender a preços populares - mais baratos que os cigarros legais e as bebidas alcoólicas - uma droga baseada na cocaína e com um potencial de destruição muito maior. Vicia, destrói e mata rapidamente. É isso, aliás, que deve esperar a maioria que usa a droga. A desilusão leva ao processo de autodestruição. Quem não tem coragem de suicidar, dependendo do poder aquisitivo, apela para o crack ou para a cocaína.
IDOSO
O que fazer com o velho?
Finja que foi acidente...
Parece piada, mas, afinal, o que é significa ser velho?
Um garoto de 14 anos, para ofender uma garota na Internet, disse que o Tumblr era para jovens e que ela deveria sair dali, pois ela era "velha e perdedora". Detalhe: a garota tinha 20 anos!
Os líderes capitalistas ainda utilizam parâmetros do século XIX - uma época em que o trabalho era manual e os operários eram os principais agentes econômicos - para definir o que seria velho. O resultado é que o indivíduo com 40 anos já não serve mais para o mercado de trabalho.
O problema que é o século é outro - XXI - e as pessoas vivem mais. Isso cria outro problema na área da Previdência Social. No Brasil, por exemplo, não se aposenta antes dos 60 anos. É criado, então, um enorme "buraco" entre os 40 e os 60 anos: quem está nesta faixa etária está velho demais para o mercado e novo demais para aposentar!
Neste contexto, a questão fica mais complicada após os 50 anos:
"No plano histórico, a seleção dos empregáveis (...) na área de planos sociais ou dos cortes de empregados atingiu de cara, os assalariados de mais de 50 anos. Fora cinqüentão!
(...) O resultado é que hoje [2005] na França apenas um terço dos homens da faixa etária de 55-64 anos trabalha: um recorde mundial! " (Corinne Maier, p. 64)
E o resto, faz o quê? No Brasil, Miriam Leitão destacou, em 2010, que as empresas não aceitam currículos de pessoas com mais de 35 anos e, ao mesmo tempo, elas não podem aposentar antes dos 60. Isso significa que além de não ter uma ocupação, elas não possuem qualquer forma de remuneração.
Como foram descartadas pelo mercado, a meta destas pessoas seria a aposentadoria. Quem chega lá encontra mais decepção: os salários são baixos e são muitas as humilhações. O velho é tratado pela administração pública como algo negativo. São desconsiderados todos os impostos e as taxas de aposentadoria pagas por ele. Fica parecendo que o Estado estaria fazendo favores a esse senhor que se recusa a morrer...
A realidade brasileira é essa. O mais grave é que o desrespeito ao velho começa bem antes do próprio indivíduo se considerar velho ou ser definido como tal pelas instituições da sociedade.
IMAGEM, NORMAL & BIZARRO
O Datena, em seu programa, disse que um homem que contrata um travesti deseja fazer o papel do passivo. Como ele sabe? Deve ter lido algo em livros. Provavelmente.
O jogador Ronaldo, o "Fenômeno", foi preso, uma vez, com três transexuais no Rio de Janeiro. Foi uma confusão, claro.
No livro (e no filme) da Bruna Surfistinha, aparece a idEia de que existe um tipo de cliente que contrata uma prostituta para fazer o papel de passivo. Nesse caso, a mulher usaria um cinto de "sex shop". Em Tumblrs de SM, são divulgadas fotos de homens - "escravos" - que se submetem sexualmente ao poder da mulher - a "Mestre". Aqui, ela também usa o cinto que aparece no filme da Bruna Surfistinha.
Em depoimento, esses homens dizem que não são homossexuais, mesmo fazendo o papel de passivo em relações sexuais com um travesti ou com uma prostituta ou mesmo numa relação SM.
O Datena, quando fez o seu comentário, analisava uma ocorrência policial que mostrava a queixa de um travesti contra um cliente que era casado e teria filhos. Ele, o cliente, teria um apartamento só para os seus encontros "fora do casamento". Ele fazia a separação entre o lugar da normalidade - a casa com a esposa e os filhos - e o lugar do sexo - o apartamento de encontros.
Vários homens já tiveram esse comportamento, que durante muito tempo era aceito como "normal" pela sociedade, como se eles tivessem necessidades sexuais especiais que não poderiam ser realizadas com suas esposas. A diferença desses homens com o caso da reportagem, claro, era que o "normal" seria ter uma amante mulher e o "bizarro"- alias é disto que o programa trata - seria contratar um travesti.
Quanto ao Ronaldo, o "Fenômeno", atualmente ele é "poupado" pelos jornalistas que evitam retomar o assunto daquela noite no Rio de Janeiro. Todos tentam construir uma imagem de um heterossexual vitorioso para ele, sobretudo agora com os preparativos da copa no Brasil. Imagem. É principalmente com ela que as pessoas estão preocupadas. Se existe amante, se ela é mulher ou travesti, pouco importaria, desde que não saia algo nas manchetes dos jornais.
HOMOSSEXUALIDADE
Não parece lógico desconsiderar os aspectos biológicos no desenvolvimento de um indivíduo. Entretanto, em 2006, em entrevista à revista Época, o sociólogo John Gagner afirmou:
"Não há conflito entre o que está dentro do indivíduo e o que a cultura diz, mas sim um conflito dentro da cultura. Entre o que as pessoas gostariam de fazer e o que é considerado apropriado. (...) Existem evidências de que a homossexualidade é construída socialmente. É uma capacidade aprendida, não algo que se nasce."
Polêmico? Claro. Errado? Provavelmente. Em primeiro lugar, a sua teoria entra em contradição com a perspectiva de Freud, aceita pela maioria, de que existiria um conflito no próprio ser humano e mesmo na sua relação com a sociedade.
Em segundo lugar, Gagner admite que existe uma diferença "entre o que as pessoas gostariam de fazer e o que é considerado apropriado." Ora, o que seria isso? Há um conflito entre o que a pessoa realmente deseja e aquilo que ela faz... na medida em que os seus atos deveriam ser aprovados pelos outros membros da sociedade.
Em outras palavras, existiria uma contradição entre o desejo individual e o interesse (dito) social. Freud era claro neste sentido, pois enquanto o desenvolvimento individual seria baseado num princípio egoísta, a criação da civilização partiria de um esforço altruísta.
A análise de John Gagner torna-se mais problemática quando ele cita a questão da homossexualidade - "é uma capacidade aprendida, não algo que se nasce." Esse discurso conservador deve ser o princípio utilizado por aqueles religiosos que prometem "curar" o homossexualismo (dos outros).
Na entrevista, para justificar o por que não seria tão famoso como Michel Foucault, Gagner não discutiu a qualidade das obras de um e do outro, mas saiu com essa:
"Ele é francês, e ainda por cima filósofo, o que é muito chique. Eu sou só um pobre sociólogo americano!"
Trata-se de uma afirmação típica de um pesquisador que trabalha com perspectivas tão equivocadas.
O PODER DE SEDUÇÃO DA MULHER
Na Antiguidade, a mulher, como objeto de desejo, era vista com desconfiança:
"Engano possível sobre o corpo que os enfeites escondem e que se arrisca a decepcionar quando é descoberto; ele é rapidamente suspeito de imperfeições habilmente mascaradas; teme-se algum defeito repelente; o segredo e as particularidades do corpo feminino são carregados de poderes ambíguos." (Michel Foucault, O Cuidado de Si, p. 220)
Com o tempo, os truques femininos ficaram mais sofisticados. O silicone, por exemplo, nos dias atuais, sempre gera a dúvida no homem diante de um belo decote. Além das cirurgias plásticas, a mulher ainda conta com vários recursos de beleza, o que a faz ficar horas diante do espelho antes de se considerar pronta para aparecer em público. O homem não quer saber do "processo" e se interessa somente pelo "produto final". Isso o torna uma "presa fácil" ao jogo de sedução da mulher.
Desde pequena, a mulher é educada para dizer "não" e dificultar as coisas na relação amorosa. Tudo deve ser sutil. Esse mistério excita o homem, o transforma num objeto, exatamente no momento que ele acredita possuir maior controle. Enquanto ele é instinto na relação sexual - precisa ser, é ativo, é transparente, é visível com a sua ereção -, ela pode ser dissimulada, fingir, parecer uma coisa e ser outra.
O que a mulher precisa? Poder. Controle. Para isso, necessita, antes, ser desejada e para realizar esse objetivo, ela conta com aqueles recursos. Ela vem para um encontro como um mágico caminha para o espetáculo, ou seja, ela possui muitos instrumentos para desviar o olhar do outro enquanto faz o que realmente deseja.
EFEITO BILHAR
Já comentei que, num primeiro contato, os cães sentem mais simpatia por mim do que seus donos. Gosto de animais e eles percebem isso.
É tudo natureza, diriam alguns. Sim, mas um indivíduo representa um conjunto de relações: com ele mesmo (id, ego e supergo associados à sua predisposição genética), com os outros (na sociedade) e com o seu ambiente (a natureza). Essas relações são complexas e contraditórias em cada pessoa.
Um indivíduo (um conjunto de relações complexas e contraditórias) se relaciona com outro indivíduo (outro conjunto...), o resultado, claro, é o conflito de interesses. Apesar de cada um agir pelo princípio do egoísmo, na sua relação com os outros, existe um esforço para lidar também com o altruísmo, pois, sem isso, não existira a sociedade. Em outras palavras, a pessoa é civilizada quando ela domina o seu egoísmo (nega o seu desejo) em respeito ao outro. A negação de algo "natural" (individual) em nome de algo "social" (coletivo) gera, de maneira consciente ou não, uma frustração no indivíduo. Essa frustração pode gerar doenças.
Na sociedade, existe uma espécie de "efeito bilhar": os contatos entre os indivíduos (conjuntos de relações complexas e contraditórias) geram resultados imprevisíveis, que podem ser bons para uns e ruins para os outros, dependendo do momento, na medida em que são relações dinâmicas, que mudam o tempo todo. As pessoas que não aceitam o caos desses resultados, preferem acreditar em "sorte" ou "destino".
Todos os conflitos e resultados, neste contexto, são criados pelos próprios indivíduos, ou seja, não tem nada a ver com existência ou não de Deus. Trata-se da velha citação de Sartre:
"(...) même se Dieu existait, ça ne changerait rien. (...) il faul que l'homme se retrouve lui-même et se persuade que rien ne peut le sauver de lui-même."
Os indivíduos não sabem lidar com o imprevisível "efeito bilhar" e apelam para a "sorte" ou o "destino", ou ainda, cientificamente, tentam entender algo maior, fora do seu ambiente (do seu planeta). A hipótese do "big bang" é a mais aceita na compreensão da história e do funcionamento do universo - um fato constatado recentemente, o distanciamento contínuo entre as galáxias, poderia ajudar na comprovação de tal tese.
Na verdade, do ponto de vista da ciência, o homem poderia ser "localizado" entre dois fatos (em extremos opostos): o das galáxias e o da predisposição genética. Esses fatos, porém, não são relevantes no "efeito bilhar", afinal, essa bagunça que está aí é responsabilidade dos indivíduos mesmo...
SADOMASOQUISMO, VINGANÇA, SUICÍDIO & ROCK & ROLL
O sadomasoquismo pode representar um passo antes do suicídio. Foi o que aconteceu com as histórias do casal Michel Hutchence - suicidou num quarto de hotel na Austrália – e Paula Yates - morreu de overdose na Inglaterra.
Havia, além do S&M, as drogas, os antidepressivos (encontrados no quarto do hotel), a vingança de um ex-marido Bob Geldof e um estilo de vida que não levaria em consideração as consequências dos atos.
De fato, Hutchence, vocalista do INXS, vivia plenamente o lema de "Sexo, Drogas & Rock & Roll". Era considerado um símbolo sexual e entre as suas conquistas estavam a cantora Kylie Monogue e a supermodelo Helena Christensen. Dinheiro, claro, não era problema:
"Yeah, já passei da fase de 'precisar fazer dinheiro'. É um bom lugar de se estar. Isso serve como motivo para todo tipo de loucura agora. Toda manhã, eu acordo com uma diferente razão." (Vox, November 1995, p. 38)
Ainda na entrevista para a revista Vox, quando questionado sobre o seu instinto de sobrevivência, disse:
"Até agora, tudo bem. Eu não quero parecer um 'cliché'. (...) Fico surpreso ao perceber que sobrevivi a tanta coisa...e os meus amigos também. (...) Essa é a indústria. Bem vindo a festa. Jimi Hendrix está lá em cima. Mas passar por isso é fantástico." (Vox, November 1995, p. 36)
Paula Yates, a sua namorada na época - ela havia abandonado o marido Bob Geldof para ficar com o vocalista do INXS - seguia o seu estilo "Sexo, Drogas & Rock & Roll":
"Você acha que eu realmente me preocupo? Sinto-me com sorte por fazer parte de uma geração que não esquenta a cabeça aos 40 anos. Para ser honesta, é uma milagre eu ter passado por tudo isso."*
O estilo do casal trazia problemas para Yates, que era acusada de não ser uma boa mãe, na medida em que, quando estava com Hutchence, deixava em lugares de fácil acesso (para as suas filhas) coisas como drogas e material pornográfico produzido pelo casal, inclusive com acessórios de S&M:
"Uma amiga e a babá ligaram para o setor de ajuda com drogas e eles disseram que a substância poderia ser ópio e numa busca posterior na casa foram encontradas substâncias que poderiam ser usadas para fumar heroína. Mais tarde, descobriram fotos - aparentemente elas estavam em locais que as crianças teriam acesso - de Yates e Hutchence em roupas de latex, em várias posições sexuais, usando vários acessórios de S&M."**
Bob Geldof não aceitaria ver as suas filhas num ambiente desses e fez de tudo para infernizar a vida do casal - até culminar no suicídio de Hutchence e, posteriormente, na morte de Yates. Em 1997, na época do suicídio, Celso Masson, num artigo para a Veja, escreveu:
"Tanto que, ao revistar o quarto de hotel onde o cantor morreu, a polícia encontrou um frasco do antidepressivo Prozac. Há pelo menos uma razão para essa depressão. Paula Yates enfrentava uma batalha judicial com seu ex-marido, o também cantor de rock Bob Geldof, pela custódia dos três filhos que tiveram juntos. Geldof sabia que não tinha muita chance de conseguir a custódia mas fazia isso para se vingar, já que havia sido vítima de adultério. Essa situação também deixou Hutchence furioso. Horas antes do suicídio, ele chegou a telefonar para o cantor irlandês que lhe bateu o telefone na cara. Ao saber da morte do parceiro, Paula, que se encontrava em Londres, não hesitou em culpar Geldof."***
Geldof foi cantor de uma banda de rock sem expressão chamada Boomtown Rats. Perder a esposa para outro cantor e de um grupo famoso de rock, não deve ter sido algo agradável. Em sua vingança, porém, Geldof contava com a imagem de "santo"que havia criado para si com a realização do evento Live Aid - que visava obter ajuda financeira para a África. De fato, foi um escândalo na época.
Hutchence e Yates tiveram uma filha, que recebeu o nome de Tiger Lily. Ironicamente, após a morte dos pais, a menina passou a ser criada com as irmãs, sob a responsabilidade de Bob Geldof. Acolher Tiger Lily talvez tenha sido um dos poucos atos nobres do vocalista do Boomtown Rats. Aliás, mais de dez anos depois de sua overdose, as filhas de Paula Yates ainda convivem com o fantasma dessa história. Por isso mesmo, apesar de ter realizado o seu objetivo imediato - destruir a felicidade do casal Hutchence e Yates -, Geldof não pode ser considerado um vencedor. Ao contrário, lidar com as filhas o faz lembrar diariamente dos (seus) erros cometidos no passado. Provavelmente, Paula Yates não tinha essa intenção, mas isso tornou-se a sua vingança.
*Libby Brooks, Paula Yates, Sep 18 2000, http://www.guardian.co.uk/news/2000/sep/18/guardianobituaries.libbybrooks
**The passions of Paula Yates, Independent, Nov 18 2007, http://www.independent.ie/lifestyle/independent-woman/celebrity-news-gossip/the-passions-of-paula-yates-1222585.html
***Celso Masson. Instinto de morte. Veja. 03/12/1997.http://veja.abril.com.br/031297/p_131.html
REVISTAS FEMININAS
Houve uma época que, ingenuamente, eu tentava entender as mulheres. cheguei a ler revistas como "Nova" ("Cosmopolitan") e "Elle". No caso dessa última, sempre gostei das fotos também. Existe um artigo interessante numa edição inglesa de agosto de 1993. São, basicamente, apresentadas seis maneiras para evitar a depressão:
"1) conversar com alguém, não manter o sentimento só com você;
2) tentar manter-se ocupado;
3) ter uma alimentação saudável;
4) o álcool deprime e deve ser evitado;
5) se tiver problemas para dormir, ligue o rádio ou a televisão e
6) lembre-se que, no momento, as coisas não fazem sentido por causa da depressão, logo passa e o mundo será um lugar mais feliz." (Elle, August 1993. p. 142)
Depois que li esse artigo, nunca mais dormi sem algum barulho... seja ouvindo música ou filme. Tenho, em cada época, uma obsessão com um filme específico. Decoro as falas. Houve uma fase que era Sin City (Cidade do Pecado), depois vieram filmes como Clube da Luta, Ligações Perigosas, Matrix, O Silêncio dos Inocentes, Dragão Vermelho, Laranja Mecânica, Apocalipse Now, Poderoso Chefão, Código da Vinci... e o último, claro, é Encontros e Desencontros. Mas, nesse caso, gosto de ver (e não só ouvir), especialmente as cenas do bar e o silêncio e o tédio que seriam típicos de quem uma semana em um hotel...
Aliás, o filme Encontros e Desencontros lembra-me o que mais gosto numa garota: o senso de humor e a inteligência (penso na personagem Charlotte). Acredito que me identifico com o personagem Bob, que vive uma crise de meia-idade, fuma charutos e bebe whisky. É muito interessante viver alguns dias num hotel numa cidade estrangeira. Lembro-me quando passei uma semana em Paris, no Meridien. Sempre que chovia, eu ficava vendo, de algum prédio, as gotas da chuva no vidro. Isso tem um pouco a ver com Encontros e Desencontros especificamente na cena do final do filme com a música "Just Like Honey" do Jesus and Mary Chain – grupo que vi dois shows no Canecão no Rio quando a banda estava no auge... outros momentos inesquecíveis.
ISSO É A VIDA
Obviamente, não sou um gênio capaz de elaborar conceitos fundamentais para se entender a condição humana. Além do mais, questões sobre a existência são pensadas e sistematizadas por religiosos e filósofos desde, pelo menos, o "I Ching" (para utilizar um exemplo), ou seja, há mais de 5.000 anos A.C. Assim, mesmo em textos opinativos, é necessário citar uma referência ou outra, afinal, a ideia inicial não foi sua. Isso não significa transferir os erros do seu raciocínio para as fontes. O desenvolvimento do seu texto é seu e de sua responsabilidade, o seu uso de conceitos nem sempre coincide com a definição dos autores citados. Em outras palavras, as coisas não começaram com você, mas o que você elabora é de sua exclusiva responsabilidade.
Disse isso pois achei interessante a maneira que Phil Mollon utilizou os conceitos de Matt-Blanco que, por sua vez, fez uma leitura de Freud.
Todos concordam que o sonho é o lugar por excelência do inconsciente. Na sua explicação, com base no pensamento de Matt-Blanco, Mollon associa o sonho com a percepção de uma esquizofrênica. Ou seja, o sonho não é o lugar da lógica e apresenta como características:
". a ausência de contradição ou negação,
. a inexistência do tempo,
. a profunda desorganização da estrutural racional,
. a parte tomada pelo todo,
. condensação e deslocamento (em que uma coisa é vista como se fosse idêntica a outra)." (no livro, essa citação está em forma de parágrafo - Phil Mollon, O Inconsciente, p. 71)
Nietzsche, antes de Freud, falava que o ilógico definia a vida. Associando as duas teorias, poderia se afirmar que a "verdade" estaria no inconsciente e não seguiria padrões racionais.
O reino da razão é fora do sonho e existiria como uma forma de defesa do indivíduo que não aceita a "sua verdade". Essa negação, muitas vezes, é resultado das pressões externas - família, escola, igreja, meios de comunicação, entre outros -, que impõem o que seria normal (aceitável) ou não.
Esse conflito entre o saber consciente (lógico) e o inconsciente gera os traumas em cada pessoa. Traumas que geram doenças psicológicas - como ansiedades, fobias e depressões - e afetam diretamente o corpo do indivíduo, com, por exemplo, a falta de apetite, a insônia e os problemas nas relações sexuais.
De certa forma, o esforço do ser humano para manter a sanidade é uma forma de negar a "sua verdade". Irônico. Faz sentido? Claro que não. Isso é a vida.
A DECADÊNCIA DO PADRÃO “PLAYBOY” DE BELEZA
Hugh Hefner, da Playboy, admitiu que, no início, não sentia simpatia por garotas com silicones ou tatuagens, mas, com o tempo, teve que aceitá-las nas páginas de sua revista. Isso, contudo, não significava uma mudança no padrão "playboy" de beleza, aquele que é aceito como "normal" na sociedade.
Com a internet, porém, o modelo criado por Hefner a partir dos desenhos das "pin ups" entraria em decadência. O que existe em comum entre aqueles que compram a Playboy atualmente é a reclamação. As queixas são várias. Entretanto, por força do hábito, muitos não deixam de comprá-la.
Eu fui um desses leitores. Eu comprei a minha primeira Playboy em 1978. Farrah Fawcett estava linda na capa e esse foi o principal motivo da aquisição de um objeto que eu compraria regularmente durante décadas. Parei somente em julho de 2010.
Ao longo desse tempo, imaginava que os problemas na revista seriam causados pelos editores brasileiros. Então, passei a comprar a Playboy original, norte-americana. Depois, comprei algumas versões produzidas em outros países, como a França, a Alemanha e a Itália. Havia pequenas diferenças entre as produções de cada país, mas, no essencial, havia algo que já não satisfazia mais o leitor.
Imagino que o fim da Playboy em Portugal tenha mais a ver com a decadência do padrão "playboy" de beleza do que com a problemática capa que fizeram para destacar a importância de Saramago.
As coisas ficaram mais claras quando tive acesso ao website das Suicide Girls. O que era colocado na Internet é que não havia um modelo para a beleza feminina. Toda garota poderia ser considerada bela, independente se fosse tatuada, magra, gorda, alta, baixa, com cabelo azul ou cor-de-rosa. Houve uma democratização da beleza. As indústrias da moda e da publicidade, aos poucos, parecem perceber isso. As ações das pessoas comuns, claro, são mais rápidas do que a assimilação da chamada "indústria cultural".
Infelizmente, a maioria ainda espera as informações dessa indústria para definir o seu comportamento cotidiano. Uma pena. Existe uma transformação importante na mentalidade dos jovens pelo mundo, que, certamente, vai além da aparência. A escolha do título do website - Suicide Girls - demonstra, por exemplo, que temas que antes eram evitados - suicídio, depressão, morte, sadomasoquismo, entre outros -, hoje são problematizados com mais naturalidade por pessoas que deixam o preconceito de lado e procuram viver livremente a sua felicidade.
INFANTILIDADE
A crise faz parte da condição humana. Quem não percebe claramente isso? Uma criança. Tudo, para ela, é novidade e costuma ser algo agradável pois ela tem a sensação de segurança proporcionada pelos pais.
Esse processo não acontece com um adulto, primeiro, óbvio, ele deixou de ser criança, segundo, no seu desenvolvimento, aprendeu que, em muitos momentos, seria contrariado e, terceiro, espera-se que ele seja independente em relação aos pais.
O adulto que possui uma perspectiva de criança estaria, como ironizou um filósofo, na "infantilidade da razão". Em outras palavras, ele seria um alienado, alguém que acredita em ilusões e cria uma fantasia sobre a sua vida (e a dos outros), e vive de acordo com ela.
Esse indivíduo, para "cair na real", precisaria de um "trigger", algo como um "gatilho", ou seja, seria necessário a existência de algum acontecimento grave - como uma forte desilusão amorosa, a morte de um parente, a falência da empresa ou o desemprego - para que ele fosse despertado para o que seria a vida: algo sem sentido e que necessitaria de dor e sofrimento para compreender e dar continuidade ao próprio ser.
9 SEMANAS & MEIA DE AMOR
Na época em que foi lançado nos cinemas, muitos não entenderam o sucesso, sobretudo entre as mulheres, do filme "9 Semanas & Meia de Amor". Mickey Rourke era uma galã em ascensão, o modelo de Hollywood no período. No entanto, isso não era suficiente para explicar o sucesso de um filme supostamente erótico. Aliás, cenas sensuais nunca atraíram a maioria das mulheres - tanto é verdade que o público de filmes pornográficos é basicamente masculino.
Assim, o que existiria de especial em "9 Semanas & Meia de Amor"? Não existia um final feliz como em uma "Linda Mulher" ("Pretty Woman"), mas o filme tratava de símbolos do ato sexual. Não era explícito. Não Precisava. O que importava era a representação das fantasias. Uma comum seria encontrar uma pessoa estranha, ao acaso, e viver uma intensa paixão. Essa fantasia estaria associada ao medo do desconhecido, na medida em que o objeto da paixão poderia ser qualquer coisa, inclusive um assassino ou um psicopata.
Outra fantasia seria o "príncipe" ser bonito, elegante - sem exageros, o que explicaria a barba mal feita -, rico e excêntrico. O personagem de Rourke era uma síntese dessas características. Havia os jogos eróticos, como vendar os olhos diante da geladeira aberta e aceitar o que era colocado na boca: comida e sexo, dois desejos num único ato!
Vestir-se de homem e aparecer em público, com o apoio do namorado. Viver cenas homossexuais "masculinas" num restaurante, chocando os outros clientes... Fugir por becos, correr perigo, fazer sexo na chuva... Precisaria mais?
Ser presenteada com roupas caras numa loja, quando o seu amante paga tudo em dinheiro sem conversar sobre o preço da mercadoria. “Menáge à trois”... O simbolismo do relógio associado à obsessão de ser lembrado sempre.
Havia ainda a atenção e o carinho do namorado em cuidar dela quando estava doente. Tudo parecia perfeito no ponto de vistas das fantasias, mas, no final, a personagem iria embora e abandonaria o romance após um curto período de tempo (daí o nome do filme). Por quê?
Aparentemente, paixão e fantasia não existem para durar. São chamas intensas e talvez por isso desapareçam rapidamente. Seria como se a vida cotidiana parasse o seu ritmo e existisse um "flash" de puro prazer, quando só haveria tempo para o casal viver a sua paixão! Quem já passou por algo assim, sabe que seria como uma doença, a obsessão de pensar e querer ficar com a pessoa amada vinte e quatro horas, o tempo todo. O resto - família, trabalho, estudo - perderia sentido.
Mas... como viver assim durante toda a vida? Não é possível. Elizabeth - a personagem do filme - sabia disto e foi embora antes da decadência da paixão. Seguiu, a sua maneira, a velha premissa do poeta Vinícius de Moraes: "que seja eterno enquanto dure".
PIRÂMIDES
A construção das pirâmides no Museu do Louvre foi muito criticada na época. Imagino que as principais questões diziam respeito à perspectiva arquitetônica e à problemática histórica.
Fui ao museu algumas vezes. De fato, nunca me incomodei com as pirâmides. Sempre me interessou o que havia dentro do museu, mesmo considerando a importância de sua fachada.
Talvez o grande mérito de "Código da Vinci" seja associar as pirâmides do museu, o quadro de Mona Lisa e a temática religiosa. Alguns afirmam - como no documentário "Zeitgeist" - que a teoria do cristianismo seria um plágio da religião do Egito Antigo, baseada na figura de Hórus, que encontrou nas pirâmides o símbolo chave de sua civilização.
Especificamente nesse ponto, seguindo a ficção de "Código da Vinci", haveria uma associação entre as pirâmides do Louvre e do Egito. Trata-se de um ponto de vista polêmico e sem fundamentação histórica. Talvez tenha sido exatamente isso a razão do sucesso da obra de Dan Brown.
INDIVÍDUOS E FORMIGAS
Observe, por algum tempo, um (grande) formigueiro... tudo parece organizado (pelo menos, parece que tudo funciona como deveria)... as formigas sempre correndo, fazendo algo (trabalhando?!)...
Agora observe (de cima) o centro de uma grande cidade... tudo parece organizado (pelo menos, parece que tudo funciona como deveria)... os indivíduos sempre correndo, fazendo algo (trabalhando?!)...
Imagino que cada um (indivíduo ou formiga) se considere importante e que os seus fazeres são fundamentais para o funcionamento do ...planeta? ...universo?
Parece ser uma questão de perspectiva... você observa o quê e a partir de que lugar? Aqui a pessoa se depara, primeiro, com a temática do espaço, que certamente interfere na reflexão sobre a sua existência.
Em segundo lugar, o indivíduo deseja entender (e ocupar "adequadamente") o tempo.
Espaço e tempo são inventados, produzidos e "observados" pelos homens. Esses conceitos parecem ser fundamentais, mas mudam de acordo com cada época histórica e cada sociedade.
Basicamente, no Brasil, por exemplo, a pessoa mora num apartamento, num condomínio, e todo dia, de segunda a sexta, sai no mesmo horário para trabalhar (ou estudar). No final do dia, volta, chega no seu lar e para descansar, assiste a sua novela diária (para fantasiar um pouco). O maior desejo dessa pessoa seria a chegada do final de semana, sábado e domingo, o que significaria prazer, festa, clube, shopping center, futebol, entre outras coisas. Todo o esforço de cinco dias deveria ser recompensado em dois. Contudo, raramente isso acontece.
A frustração não seria só com "a desigualdade da matemática" (sofrer em 5 e prazer em 2). Ela ocorre pois o tão esperado prazer no final de semana nem sempre acontece. De fato, existe sempre uma fantasia que um dia será diferente, que deve existir algum tipo de justiça que confirme que tanto sofrimento leva necessariamente ao prazer. Trata-se de uma ilusão, claro. Mas já é segunda-feira e tudo deverá ser corrido e difícil, como sempre, e toda a expectativa (fantasia?) será depositada no próximo final de semana, no próximo namoro, no próximo emprego, na próxima cidade. no próximo país... na próxima vida.
O SENTIDO DA VIDA
Até a invenção da pílula anticoncepcional, na sociedade burguesa, a sexualidade feminina era bastante censurada. Havia o mito da virgindade. Após o casamento, a função do sexo era a procriação. A mulher não poderia ter prazer ou ter experiências diferentes no ato sexo, pois isso seria coisa de prostituta.
A passividade da mulher na relação sexual era reproduzida na sociedade. O homem era ativo no sexo e, portanto, o dominador na relação social.
Na verdade, a aplicação do modelo ativo - passivo do ato sexual nas relações da comunidade não era algo novo. Na Grécia Antiga, esse modelo era utilizado na relação entre um homem e um jovem (rapaz). Enquanto o homem era o sujeito e o dominador, o jovem assumiria o outro papel.
"Mas (...) o rapaz, posto que sua juventude deve levá-lo a ser homem, não pode aceitar assumir-se como objeto nessa relação, que é sempre pensada sob a forma de dominação: ele não pode nem deve se identificar com esse papel. Ele não poderia ser de bom grado, a seus próprios olhos e para si próprio, esse objeto de prazer, ao passo que o homem gosta de escolhê-lo, naturalmente, como objeto de prazer. Em suma, experimentar volúpia, ser sujeito de prazer com um rapaz não constitui problema para os gregos, em compensação, ser objeto de prazer e se reconhecer como tal constitui, para o rapaz, uma dificuldade maior." (Michel Foucault, O uso dos prazeres, p. 195)
Na sociedade capitalista, com pílula anticoncepcional, a mulher passou a ter a mesma liberdade, em termos da prática sexual, que o homem. Assim, vieram os movimentos de libertação na década de 1960. O feminismo deixava de ser apenas uma bandeira e tornava-se uma prática cotidiana. O velho modelo ativo - passivo era rompido na relação sexual e também na sociedade. A partir desse momento, a mulher colocava-se em condições de igualdade com o homem.
Na década de 1960, as mulheres não foram as únicas agentes de transformações. Houve outros movimentos, como o dos jovens, dos homossexuais e dos negros. Foi uma década "revolucionária", impulsionada pelo "sexo, drogas e rock n' roll". O mundo não foi mais o mesmo.
Décadas depois, o que ficou? Nada. Niilismo. Falta de perspectiva. Como diria Corinne Maier, "não existe nada em que acreditar. É inútil arriscarmos a vida em combates, sejam eles econômicos ou não." Então, o que fica? Alguns afirmam: "mas a vida continua..." Outros questionam: "mas que vida? Qual seria o sentido de tudo isso?"
Os indivíduos trabalham bastante para obter dinheiro e riqueza. Imaginam que realizando o objetivo, finalmente, serão felizes. Entretanto, e aqueles que já possuem tudo em termos materiais, poder, dinheiro e riqueza? O que resta? Não existem ideologias. Não existem limites. Não existe futuro. O que fazer? A personagem de Nicole Kidman, no filme "De Olhos Bens Fechados" de Stanley Kubrick, apresenta uma resposta: "fuck".
Em outras palavras, basta lembrar, nesse filme, a cena de uma festa - com máscaras e orgias - que poderia representar a falta de perspectiva (em relação ao sentido da vida) dos ricos e poderosos. Aliás, isso pode ser associado a cena de outro filme, baseado no diário de uma das secretárias de Hitler, "A Queda", que mostra o cotidiano no "bunker" do tirano e que, no final, quando tudo parecia perdido, as mulheres seduziram os homens e todos fizeram sexo como se fosse o último momento da vida deles. Em suma, tanto num filme como no outro, o "retorno" ao sexo representaria um "retorno" à natureza - a morte faz parte dela - e, ao mesmo tempo, demonstraria a obviedade da falta de sentido da existência.
LUGAR ALGUM
Você lembra de todas as pessoas com quem fez sexo?
Estava assistindo "Two and Half Men" e apareceu essa pergunta.
Se for tentar lembrar, acredito que recordo do rosto (e outras partes do corpo, claro), mas não do nome.
Existem alguns casos antigos que tentei de todas as formas lembrar os nomes das garotas e nada.
Imagino que isso não aconteça só comigo. Claro que se você foi casado ou namorou muito tempo, não há como esquecer.
Por outro lado, você gostaria de esquecer as experiências ruins, porém essas nunca desaparecem.
Pensar no passado é bom para não cometer o mesmo erro novamente. Se o assunto for sexo, pode ser agradável e até excitante.
Onde quero chegar? Lugar algum. Estive pensando nestas coisas, só isso.
VIOLÊNCIA E CONSCIÊNCIA
Marquês de Sade elogiava a arte da dor física, que estaria associada ao prazer sexual. Não foi por acaso que seu nome influenciou o conceito de "sadismo".
Prazer é dor? Existe satisfação em ver o sofrimento físico do outro?
Os praticantes do sadomasoquismo aceitam qualquer coisa exceto o autoconhecimento. O que existe é uma fuga de si, do passado e/ou de algum trauma grave (normalmente vivido na infância). Em outras palavras, a ênfase do prazer na dor física esconde o medo da verdadeira dor.
A violência revela mais coisas do agressor do que da vítima. Ela revela insegurança, fragilidade e medo de si. Mais importante, ela não resolve coisa alguma.
O excesso de violência não é capaz de apagar o mal-estar consigo mesmo, a sensação que fez algo errado com o outro e que isso nunca poderá ser resolvido.
Nesta perspectiva, a verdadeira vingança, por exemplo, não seria tentar fazer justiça com a próprias mãos, usando a violência, causando a dor física. O melhor seria a indiferença, o que significa, na prática, deixar aquele que errou enfrentar a sua consciência, em noites frias e escuras, quando a insônia e a memória serão as suas únicas companhias.
O desejo de vingança em si já é um erro. No entanto, em muitos casos, não há como o ser humano não se revoltar.
A solução, porém, não seria se apegar a sentimentos negativos como raiva, rancor, vingança, inveja, entre outros.
A resposta também não estaria numa espécie de crença numa justiça divina ou na ideia de que toda pessoa sofre as consequências de seus atos.
O melhor seria focar em si mesmo, ser correto mesmo que o ambiente seja desfavorável. Quanto ao outro... talvez seja divertido lembrar, algumas vezes, que em virtude dos seus atos, em algum momento, ele terá de enfrentar, como foi dito antes, a própria consciência... em noites frias e escuras, quando a insônia e a memória serão as suas únicas companhias...
CASAMENTO E SOCIEDADE
Houve uma época que o casamento servia para "unir" as propriedades ( e não os noivos).
Durante o período que se esperava que a mulher casasse virgem- ou ela seria "devolvida" à família -, o casamento poderia ser usado ainda como um pretexto para se fazer sexo com a pessoa amada (que, naquele momento, era jovem e atraente).
Foi inventada a associação entre casamento e amor.
Havia uma confusão entre realizar um instinto biológico (portanto, do "corpo material") - o sexo - e viver plenamente um sentimento (óbvio, "invisível") chamado amor. Associar os dois fenômenos - sexo e amor - ao casamento não esclareceu coisa alguma. Serviu apenas como uma estratégia para alienar e manipular os envolvidos, visando a satisfação dos interesses materiais de outras pessoas.
De fato, o que seria "o reconhecimento social do casamento"? Para Claude Lévi-Strauss, trata-se simplesmente da "transformação do encontro sexual baseado na promiscuidade em contrato, cerimônia e sacramento." (O problema do Incesto, In.: Massimo Canevacci, Dialética da Família, p. 194)
O casamento, assim, permite a continuidade da sociedade. Ele diz respeito mais aos interesses coletivos de uma comunidade do que das fantasias individuais dos seus membros.
O QUE VOCÊ FEZ NA VIDA?
Fico constrangido quando encontro um amigo da minha adolescência e ele conversa e brinca como se ainda estivéssemos jogando futebol na rua. Fica a impressão que, após décadas, o sujeito não mudou mentalmente, continua no interminável modelo: novela, Jornal Nacional, Sílvio Santos e Fantástico. O indivíduo casou, teve filhos, mas ainda deixa a televisão decidir o que ele deve pensar. Vive a aquela rotina - trabalha, toma cerveja e conversa com os amigos, assiste televisão e dorme - todos os dias. Uma vez a cada 30 ou 40 dias, faz sexo com a esposa (na maioria dos casos, eles dormem abraçados como irmãos).
Como alguém consegue viver décadas da mesma maneira?
Quando dei aulas no ensino fundamental, olhava para os meus alunos e alunas, que tinham um grande potencial do ponto de vista intelectual, e imaginava que, infelizmente, eles cairiam na rotina dos pais. Foi o que aconteceu.
Neste quadro, fico parecendo um vampiro - que não morre nunca e ainda vai em bares de rock n' roll - e que sempre esteve incomodado, entrando e saindo de fases - desde a religião até a militância política. É claro que não cheguei a lugar algum. Nem chegaria. Como qualquer um, o meu fim será a morte. Nada de novo. Nada mal. Só não dá para continuar assistindo novela, Jornal Nacional, Sílvio Santos e Fantástico. Aliás, se for isso que acontece após a morte, o temido inferno realmente existe.
HISTERIA
Atualmente, as pessoas fazem piadas com o termo "bipolar". Na verdade, trata-se de uma doença séria, que acabei aprendendo algo a partir de outra doença, a depressão. Só recentemente ouvi o a expressão "Personalidade Borderline" e fui ler a respeito. As características dessa doença parecem muito com algo, que na época de Freud, era chamado de "histeria".
Apesar de ser uma doença mental e hereditária, o contexto social pode influenciar nos momentos de crises dos pacientes. Neste sentido, acredito que a histeria "desenvolveu" para algo mais complexo como a Personalidade Borderline devido sobretudo as várias transformações ocorridas na sociedade nas últimas décadas.
Uma das características da Personalidade Borderline é a automutilação. O paciente se corta, por exemplo, e diz não sentir dor. De certa forma, Freud havia percebido isso no caso da histeria:
"Os distúrbios da sensibilidade são os sintomas nos quais é possível basear um diagnóstico de histeria, mesmo nas suas formas mais rudimentares. Na Idade Média, a descoberta de áreas anestésicas e não hemorrágica (sigmata Diaboli) era considerada prova de feitiçaria." (Freud, Histeria)
Se a Personalidade Borderline aparece claramente no início da vida adulta do paciente, no caso da histeria não era diferente:
"Conforme se sabe, a juventude, dos quinze anos em diante, é o período no qual a neurose histérica, na maioria das vezes, se mostra ativa em pessoas do sexo feminino." (Freud, Histeria)
Hoje em dia, existem tratamentos e remédios modernos para as doenças mentais, que são necessários aos pacientes pois os seus distúrbios têm origem no sistema nervoso. Trata-se de uma causa biológica, a pessoa nasce com aquilo. Entretanto, mesmo tomando os medicamentos corretamente e seguindo todas as orientações dos médicos, alguns pacientes não melhoram. Por quê? Primeiro, cada caso é diferente do outro e nem sempre um tratamento que foi eficaz para um paciente será para o outro. Mas, em segundo lugar, existe outro fator que pode ser fundamental: a causa social. Em outras palavras, as contrariedades e os traumas vividos pelo paciente, causados por outras pessoas, podem ser determinantes na avaliação do seu quadro. Freud era claro neste aspecto:
"O trauma é uma causa incidental frequente da doença histérica, em dois sentidos: primeiro, porque a disposição histérica, anteriormente não detectada, pode manifestar-se por ocasião de um trauma físico intenso, que se acompanha de medo e perda momentânea da consciência; em segundo lugar, porque a parte do corpo afetada pelo trauma se torna sede de uma histeria local." (Freud, Histeria)
Sim, as pessoas ditas normais têm responsabilidade no tratamento de pessoas com doenças mentais. Não levar isso em consideração, é criar um conflito desleal com um paciente que não possui as mesmas armas para se defender. Não há como negar, como lembrava Freud, que "as causas acidentais de histeria (...) são importantes na medida em que desencadeiam o início de ataques histéricos, de histerias agudas." (Freud, Histeria)
Sim, somos todos responsáveis. Colocar na vítima a culpa pela violência que sofreu é, sem dúvida, uma das piores características dos seres humanos.
REGRAS DA BOA CONVIVÊNCIA
. não seja politicamente correto (falsidade tem limite...);
. o whisky deve ter, no mínimo, 12 anos (a companhia, no mínimo 18... se o whisky também for acima de 18, melhor ainda...);
. a cerveja deve ser gelada (a companhia... não!);
. charuto é cohiba;
. não veja indireta em tudo... ninguém é tão importante assim;
. beleza é bom, mas burrice mata qualquer relacionamento;
. finalmente: "do not talk about fight club".
FIM DE NAMORO
Existem "websites" que dão dicas sobre o que fazer com aquele rancor que o indivíduo sente pela ex-namorada. Entre as dicas, estão conselhos como "sair com a amiga dela, contar aos pais as coisas ruins que ela fez, (...) dizer para ela que foi infiel durante o namoro e que não se importa com o fato e colocar fotos e vídeos dela fazendo sexo" na internet, mais especificamente no próprio "website" que apresenta as sugestões: "get revenge on her".
Claro que estas atitudes não poderiam ser consideradas éticas. Mas quem nunca ficou sabendo de uma história com algum destes componentes?
Colocar as fotos e vídeos na internet pode não ter exatamente o efeito esperado (pelo menos nos casos das celebridades). Pamela Anderson e Paris Hilton souberam tirar proveito dos "sextapes" divulgados na "web". Aliás, as celebridades, algumas vezes, passam a impressão que são elas que divulgam as imagens que deveriam ser privadas.
As outras dicas podem gerar um certo ódio na ex-namorada, como o fato de, após o fim da relação, o indivíduo fica com a amiga dela. Ela pode dizer que não se importa, mas não seria verdade. Incomoda.
Falar para os pais sobre os erros da filha pode parecer apenas intriga de um ex.
Revelar que foi infiel durante o namoro e que se orgulha disto reforçaria o caráter do ex e a decisão correta da garota em não estar mais com ele. Se isso for feito, a possibilidade do retorno do namoro torna-se quase impossível.
Em suma, todas as dicas focam num ponto equivocado: a vingança. Irritar a ex-namorada não fará que exista a volta do namoro e demonstrará somente a fragilidade e desespero do ex, que, com atitudes assim, revelaria exatamente o contrário do que parece, ou seja, no fundo, ele ainda seria apaixonado por ela.
Todo namoro apresenta a mesma tendência: a fase boa, da sedução; a fase da felicidade, da estabilidade da relação; a fase neurótica, com destaque para os ciúmes, críticas e brigas; e, claro, o fim.
Todas as pessoas sabem disto, mas, por algum motivo, acreditam que com um "novo" namoro a história será diferente. Não será.
Teoricamente, tudo deveria ser resolvido de uma maneira educada e civilizada. Teoricamente. Na prática, contudo, "a emoção fala mais alto" e o barraco é armado... Poderia ser diferente? Poderia... mas não é.
TEMPO
Os homens inventaram o conceito de "tempo" e os capitalistas inventaram a "pressa", ou, como dizem: "tempo é dinheiro". Mas... o que seria o tempo? Ou melhor, como "perceber" o tempo?
Para uma revista alemã, o universo teria 13,7 bilhões de anos:
"A energia tornou-se matéria. E mais tarde surgiram as estrelas, galáxias e os planetas." (Monika Weiner, Wie aus dem nichts das Universum geboren wurde. P.M. History, p. 23)
Ainda de acordo a com P.M. History, "as primeiras formas de vida em nosso planeta apareceram por volta de 3,5 bilhões de anos." (p. 25)
O saber do homem como conhecemos foi sistematizado, primeiramente, com as teorias religiosas e filosóficas. Os princípios do "I Ching", por exemplo, foram criados no ano 5.000 a.C. (a Bíblia seria de 1.500 a.C.).
Em suma, o homem dito civilizado teria em torno de uns 7.000 anos... só isso !!!
Basta comparar os 7.000 com os 3,5 bilhões de anos, quando surgiu a vida na Terra... isso sem falar na história do universo.
Dá para imaginar? E o indivíduo ainda acha que ele é o centro de tudo... Hilário.
DOR DE CABEÇA
Entre os textos de Freud, "Sobre o Sonho" nunca foi um dos meus preferidos. Tenho só a edição francesa - "Sur Le Rêve" (Gallimard), que comprei, em 2000, em Nice. Cheguei, inclusive, a discutir um capítulo dele numa disciplina optativa que trabalhei no curso de Turismo e Hotelaria.
A obra mais importante de Freud é "A Interpretação dos Sonhos" ("Traumdeutung"). Possuo duas edições desse livro, uma em português e a outra, original, em alemão.
Lendo novamente "Sur Le Rêve", passei a dar mais importância ao texto e a entendê-lo melhor no contexto da produção de Freud.
Apesar de serem analisados outros casos de sonhos, as temáticas do livro já tinham sido trabalhadas por Freud em outras obras. De qualquer maneira, é interessante perceber como ele sintetizava algumas ideias, como no caso a seguir:
"Toute une série de phénomènes de la vie quotidienne de gens bien portants - oubli, 'lapsus linguae', méprises, et une cerraine classe d'erreurs - doivent leur naissance à une mécanisme analogue à celui du rêve et des autres membres de la série." ("Sur Le Rêve", p. 112)
Ou seja, o processo que "distorce" o sonho é análogo aos supostos esquecimentos, lapsos e erros da vida cotidiana. Existe uma censura que impede o indivíduo de perceber e aceitar a mensagem contida num sonho assim como o verdadeiro significado de um esquecimento no seu dia-a-dia. Ele tem medo. Não quer compreender nem aceitar a sua frustração. Entretanto, há algo, nos processos citados, que ele não controla e que afeta diretamente o seu corpo, complicando ainda mais a sua fuga. Trata-se do inconsciente.
É comum ouvir uma pessoa falar diariamente "estou com dor de cabeça, fiz exames e não existe algo errado - mas... estou com dor de cabeça". Apesar do incômodo, ela evita um processo de autocrítica que poderia indicar uma hipótese para o problema. Ela conclui: "é normal". Tenta acreditar que não existe algo errado com ela, apesar do seu corpo mostrar o contrário. Ela usa os exames "científicos" para reforçar a "verdade" que deseja aceitar: "eu sou normal".
Casos assim podem evoluir para doenças mais graves - como AVC (Acidentes Vasculares Celebrais) ou Mal de Alzheimer. Em outras palavras, processos supostamente invisíveis, que não aparecem nos exames, resultam em doenças "reais".
Basicamente, insistir na alienação pode ser uma alternativa, mas o preço a ser pago pode ser alto demais.
MECANISMOS DE DEFESA
Jung e John D. Biroc se distanciam de Freud quando apresentam argumentos contra o princípio da causalidade para a terapia. A mente humana seria muito complexa e as relações sociais num mundo civilizado só complicariam ainda mais esse processo.
Apesar de considerar razoáveis as críticas de Jung e Biroc, não acredito que elas sejam suficientes para descartar a causalidade na análise do desenvolvimento do indivíduo e da sociedade.
Mas... e daí?
As pessoas gostam de afirmar que o indivíduo só presta atenção em algo quando ele é atingido no bolso. Penso diferente. O interesse desse indivíduo só é despertado quando algo afeta o seu corpo.
Como isso acontece?
Tentar enganar a si mesmo é transferir um problema da mente para o corpo. Por exemplo, a falta de apetite de uma pessoa pode estar associada a ansiedade de um evento importante que ela planejou.
Freud afirma que os indivíduos utilizam alguns mecanismos de defesa para tentar fugir da verdade:
. "a repressão (banimento da consciência),
. a projeção (atribuição a outra pessoa de um aspecto indesejável de si),
. a racionalização (intervenção de explicações falsas para as próprias motivações),
. a clivagem (adoção de atitudes ou sentimentos contraditórios em compartimentos separados de percepção),
. defesas maníacas (modos de negar sentimentos de depressão) e muitas outras variações sutis desses temas." (Phil Mollon, O Inconsciente, p. 16-17)
Acredito que a maioria use sobretudo os dois primeiros mecanismos: a repressão e a projeção. É comum a pessoa querer banir da consciência algo desagradável, ou seja, ela quer esquecer algo ruim. Para isso, ela pode, por exemplo, beber em excesso numa festa.
Transferir um defeito seu para o outro também não é raro. A pessoa consegue ver o erro no outro mas não consegue percebê-lo nela própria. É mais fácil observar a vida do vizinho do que olhar para dentro de sua casa.
Essas fugas funcionam durante algum tempo. Como no exemplo da bebida, uma hora o efeito passa e é necessário encarar a realidade. Ou não. A pessoa pode beber mais e assim por diante. Mas chegará uma hora que aquela fuga terá um fim. Ela precisaria de uma espécie de gatilho para "acordar para a vida". Em outras palavras, precisaria que ocorresse algo realmente trágico para poder avaliar que estava se enganando durante todo o tempo e que, afinal, o problema não estava no outro mas sim nela mesma.
SONHOS E DROGAS ALUCINÓGENAS
As drogas alucinógenas representavam uma espécie de libertação na década de 1960. Um dos seus principais defensores desta ideia foi o professor de Harvard, na época, Timothy Leary. Atualmente, essas drogas são usadas em festas, sobretudo nas "raves".
A questão é: por que não enxergar a realidade como ela, de fato, é? Simples: somos contrariados o tempo todo, ou seja, raramente conseguimos realizar os nossos desejos.
As distorções nos sonhos podem ser percebidas como formas de alucinações:
"(...) os sonhos são um meio de preservar o sono, proporcionando gratificações alucinatórias dos desejos, que, não fosse assim, seriam perturbadores." (Phil Mollon, O Inconsciente, p. 21)
Os sonhos são uma maneira de realizar os desejos que, na vida real, aparecem como impossíveis. As drogas alucinógenas têm essa função.
O problema é que as pessoas esquecem que no universo dos sonhos, existem também os pesadelos e que, com o uso de drogas, não seria diferente. Em outras palavras, a alucinação proporcionada pelos sonhos ou pelas drogas é provisória. Na prática, o que o ser humano tem que lidar é com a realidade dos fatos, por mais dura que ela possa parecer.
AMOR E PARANÓIA
O medo faz parte da condição humana. Numa relação amorosa, por exemplo, ele está presente em todo o processo, desde a abordagem - a paquera - até a convivência - o namoro, o casamento - e mesmo no final (se for o caso, com o divórcio).
Algo que é normal pode assumir características doentias. Atualmente, é comum ver em noticiários homens rejeitados que assassinam as namoradas ou as esposas. Fazem isso por que estão "convencidos" de que estariam corretos, de que estariam fazendo "justiça". Alguns chegam a afirmar que "matam por amor".
Seria isso possível? O que eles gostariam de provar? A quem querem convencer?
Em sua maioria, a demonstração final de violência esconde, de fato, um medo. Sim, quanto maior a agressividade, maior pode ser a fragilidade.
Por quê? Esses indivíduos são, antes de tudo, paranóicos. O que quer dizer isso? Para David Bell (Paranóia, p. 5-6):
"A mente humana vê-se diante da experiência da angústia a cada momento da vida.
(...) Pode-se lidar com a angústia que vem de fora do modo tradicional: lutando ou fugindo.
A angústia que vem de dentro, porém, constitui um problema diferente.
(...) o conteúdo mental ameaçador é transferido do mundo interior para o exterior. Esse recurso [é] chamado de 'projeção' para fora - pois o conteúdo interno da mente é 'projetado' para fora, para o mundo externo."
Portanto, citando um exemplo, David Bell (p. 7) resume:
"Em vez de sentir que uma ideia perturbadora se impunha à sua mente, [o indivíduo] acreditou que a ideia partia de uma figura externa (...) que tentava impô-la a ele."
O problema é que o paranóico parte de uma fantasia para agredir o outro. No seu delírio, ele estaria certo. Fazer o outro sofrer, para ele, seria uma forma de realizar a justiça. Na sua fantasia, ele humilha, bate e até mata "pelo bem do outro". O paranóico acha que é incompreendido pois o outro não reconhece que, por trás daquela agressividade, existiria uma intenção nobre, existiria o verdadeiro amor.
Assim, a questão não é só que, ao se distanciar da realidade, o paranóico cria um problema para ele. O fundamental é que, na sua fantasia, ele torna-se um perigo para o outro e, mesmo utilizando recursos como a humilhação e a violência, ele não apresenta sentimento de culpa, pois, no seu delírio, ele estaria sendo usado pelo "destino" (ou por algo superior) para trazer a justiça à sociedade.
EROS
Para Freud, Eros era mais do que de sexo, estava relacionado ao desejo de vida. Na visão de Nicole Abel-Hirsch (Eros, p. 8-9):
"Eros é a ideia de uma força que 'liga' os elementos da existência humana - fisicamente, pelo sexo; emocionalmente, pelo amor; e mentalmente, pela imaginação.
(...) Uma ideia que exploramos neste livro é a de que não pode existir a ligação (união sexual, emocional ou intelectual) sem alguma forma de amor.
É claro que existe penetração sem amor - a pedofilia o comprova -, mas não é a mesma coisa que uma relação sexual."
Na visão de Abel-Hirsch, uma relação sexual pressupõe um respeito entre os envolvidos, deve existir uma espécie de ética do amor.
"Sem isso, não há 'dois' que se possa ligar numa cópula." (p. 9)
O que motiva o interessa sexual é a atração. Entretanto, só isso não basta para manter uma relação. É necessário que exista, além do contato físico, um envolvimento emocional e intelectual.
No filme "Henry & June", um personagem diz para a esposa: "você se apaixona pelas mentes das pessoas" ("you fall in love with people's minds"). Nesta perspectiva, a atração física pode ser importante num primeiro contato, mas a inteligência seria fundamental para manter uma relação amorosa.
CERTAS PESSOAS
Dizem que as plantas podem ser estimuladas com uma boa música. Um cachorro normalmente reconhece um indivíduo que gosta dele.
E os homens? Analisando o tema da sublimação (p. 15), Kalu Singh afirma:
"A atenção desinteressada pressupõe a satisfação do desejo; e o desejo pressupõe a satisfação de uma necessidade. Certas pessoas nunca fazem essa transição."
O que significa isso? Alguns indivíduos são incapazes de compreender. Não entendem a importância da cultura, da sensibilidade e do amor. São como bestas que precisam tocar (e destruir) objetos materiais para acreditar no imediato. Não conseguem entender a mediação.
Não há muito o que fazer com pessoas assim. Normalmente, na sua ignorância, acreditam que são perfeitas e que não precisam mudar. Acreditam que são superiores. Mais do que isso, acreditam que tudo gira em torno delas.
Ódio? Indiferença? Sentimento de pena?
Talvez ficar longe destas pessoas seja a melhor alternativa.
TRANSFERÊNCIA DE CULPA
Freud afirmava que para entender a vida de um adulto seria necessário retornar a sua infância.
Como, neste sentido, uma criança de 5 ou 7 anos poderia compreender o significado do conceito de pecado na década de 1960?
Sim, falo da minha infância, das oportunidades que perdi por acreditar que estaria fazendo algo errado.
Lembro-me de estar brincando com uma menina da minha idade e havia um clima de "sexualidade", mas me sentia culpado pois havia uma imagem da Santa Ceia de Leonardo da Vinci no quarto. Acreditava que estava pecando e, mais do que isso, que, por causa da imagem, estava sendo vigiado.
Em outras palavras, antes de descobrir o sexo, já tinham me convencido de que tratava-se de uma coisa errada.
Provavelmente, a religião não tenha mais uma influência significativa na formação das crianças. Entretanto, ainda existe o papel dos pais na formação delas. Aqui, após a década de 1990, apareceram novos problemas: pai e mãe trabalham e os filhos são deixados em creches e escolinhas; algumas mães acreditaram na "produção independente" (ou seja, que as crianças não precisariam da figura do pai) e, com o aumento no número de divórcios, muitas mães passaram a usar os filhos para brigar com os ex-maridos.
O problema é que tudo foi feito sem se preocupar com o ponto de vista das crianças. O resultado está aí, como ocorre com o excesso de consumo de bebidas alcoólicas e drogas entre os adolescentes ou com o aumento da violência e da prisão dos indivíduos entre 15 e 25 anos. O interessante é perceber que os educadores aparecem nos meios de comunicação de massa e apontam a culpa para os próprios jovens, sem avaliar adequadamente em que contexto social eles foram formados.
Trata-se de um jogo maquiavélico: os filhos são vistos como culpados pelos pais ausentes, que contam com o apoio de várias instituições da sociedade. Seria quase como uma aliança dos "adultos" contra as crianças e adolescentes...
Por quê? Culpa. No fundo, eles sabem que falharam na educação dos filhos.
Por isso, aliás, existe uma transferência de culpa. A vítima torna-se, como numa mágica, o rebelde sem causa, o drogado ingrato, o filho que não reconheceu tudo o que os pais e a sociedade fizeram por ele... P.o.r. f.a.v.o.r. !!
REPRESSÃO SEXUAL
Seria possível imaginar o mundo atual sem carro, avião, computador, televisão, cirurgia plástica e pílula anticoncepcional?
E pensar que tudo isso veio a existir somente após o final do século XIX...
De qualquer maneira, o resultado destas invenções foi a melhoria na vida dos indivíduos. Houve uma mudança radical quanto ao conceito de trabalho:
"Freud afirmou que a civilização exigia a repressão das pulsões sexuais para que os seres humanos trabalhassem com eficiência. Marcuse argumentou que isso pode ter sido necessário enquanto os produtos básicos eram escassos, mas se tornou desnecessário quando a tecnologia moderna passou a satisfazer as nossas necessidades sem repressão. O trabalho desagradável poderia ser bastante reduzido, de modo que não precisávamos mais conter a sexualidade." (Roger Kennedy, Libido, p. 75)
Isso, infelizmente, ainda não aconteceu. A repressão sexual está aí. As pessoas acreditam que precisam sofrer (muito) com horas diárias de trabalho para, depois, ter alguma forma de prazer, como se fosse uma recompensa. Trabalham em excesso mesmo sem precisar!!!
É incrível como que, com condições materiais favoráveis, os indivíduos ainda são incapazes de perceber que possuem mais tempo livre para viver a sexualidade ou outras formas de prazer. Os muros não existem mais, mas eles não conseguem ultrapassar as linhas (agora imaginárias) dos limites impostos pela ideologia.
AS MULHERES SÃO VÍTIMAS?
Quem procura conhecer a lista dos principais "psico killers" da humanidade, encontra, normalmente, nomes de homens.
No "making of" de "Red Dragon", um agente do F.B.I. afirma que são pessoas que tiveram problemas na infância.
Mas, quem, na maioria dos casos, tem o controle da infância? A mulher... Entretanto, a mulher não seria a principal "vítima" dos "psico killers"?
Estella Welldon (Sadomasoquismo. RJ: Relume Dumará, 2005, p. 66-67) diz a sua hipótese:
"As mulheres têm o controle da esfera doméstica, na qual o abuso é oculto, ao passo que os homens têm poder na esfera pública, em que as transgressões são visíveis e podem ser punidas.
(...) Os homens invariavelmente são considerados ofensores e sofrem 'condenações' e punições. Isso faz que continuemos a ver as mulheres como vítimas, sem que elas jamais possam revelar seus sonhos de vingança ou revelar abuso de poder e sua extrema necessidade de controlar."
Na verdade, é difícil criar uma teoria geral para avaliar a violência na sociedade. Também é fato que cada caso é um caso.
O desafio, porém, seria evitar, de alguma forma, que essa violência ocorresse.
Para tanto, é fundamental não acreditar em mitos ou em convenções que ditam o que seria a "normalidade". Em outras palavras, aquelas pessoas comuns, apresentadas como responsáveis, podem estar escondendo as piores formas de violência aplicadas a um ser humano.
HEDONISMO
Freud destaca que existiam, no indivíduo, tanto um desejo de vida como "um instinto de morte." A crueldade parece fazer parte da condição humana. Ela é elogiada por Nietzsche e Sade.
Além da violência, o homem deseja também o prazer. O problema, para a maioria, está na realização dos instintos. De fato, em alguns momentos, satisfazer os desejos de uns significaria negar os instintos dos outros. Assim, inventaram a ideia de que o prazer é errado e de que quanto mais uma pessoa sofre (no presente), mais ela seria beneficiada no futuro.
Isso está por trás da definição de "pagão" do "The American Heritage Dicitionary" (p. 892):
"1. A person who not a Christian, Moslen, or Jew; heathen. 2. One who has no religion. 3. A non-Christian. 4. A hedonist."
Ou seja, seria considerado "pagão" aquele que não fosse "cristão, islâmico ou judeu"; aquele "que não tem religião"; "um não-cristão" ou "um hedonista". As religiões citadas ressaltam a importância do sofrimento e da dor para, posteriormente, ter acesso a paz. A definição do dicionário associa ainda o "pagão" ao "hedonista". Mas o que seria hedonismo? Para Walter Brugger (Dicionário de Filosofia, p. 205):
"HEDONISMO é a doutrina a qual o prazer (satisfação do apetite sensitivo ou espiritual) determina o valor ético da ação. Ao mesmo tempo, pressupõe que o homem, via de regra, age somente por motivo de prazer."
Em outras palavras, o "pagão" e o "hedonista" estariam do lado do prazer e as religiões citadas enfatizaram a dor. Simples? Claro que não. Trata-se da definição de um único dicionário, mas que mostra, indiretamente, concepções ideológicas que dominam a sociedade atual.
SENTIMENTOS BONS E RUINS
Eu não poderia ser um "superherói" e nem um "superhomem nietzscheano", pois falta-me o sentimento de crueldade, especialmente, aquele que motiva a vingança.
Além de ético, sou lento para perceber as coisas, ou como falavam quando era criança: "não tenho maldade..." Isso era dito como uma crítica, como que não ser cruel fosse uma falha no ser humano.
O homem, normalmente, associa uma ação ruim com um objetivo bom, algo como: a vingança é necessária para que a justiça seja feita.
Fazer coisas ruins com boas intenções, mereceria perdão?
Perdão: eis outra palavra fundamental para aquele que comete atos cruéis. Ele conta com o perdão do outro. Mais do que isso, quando ele pede perdão, ele inverte o jogo e passa a "batata quente" para o outro. Se não for perdoado, a culpa ficaria com o outro!
Jogos assim lembram quando, no filme "Matrix", a humanidade é comparada com um vírus... tratou-se, certamente, de uma grande injustiça... com o vírus!!
VELHOS PROBLEMAS EM NOVAS "EMBALAGENS"
Há uma sensação geral de que existe algo errado na sociedade.
Em noticiários, é comum ver casos de homens rejeitados que assassinam as ex-parceiras. Elas avisam a todos e pedem ajudam as autoridades. Entretanto, isso não impede o final trágico.
A violência é associada também ao uso de droga, especialmente ao "crack". Num depoimento ao Bom dia Brasil, em 26 de julho de 2011, um especialista afirmou:
"não adianta colocar o usuário numa clínica por algumas semanas. A família deve substituir o prazer da droga por outro tipo de prazer."
Outro problema é a falta de emprego - maior como o advento das chamadas Novas Tecnologias. Atualmente, mais grave do que desaparecer uma vaga de trabalho, é a extinção da profissão.
O desemprego, na Europa, é um pretexto para o crescimento eleitoral de partidos de extrema direita. Um problema econômico gera uma crise política associada com a problemática religiosa. Se, antes, no nazismo, os judeus eram os alvos da intolerância, atualmente, os extremistas voltaram a sua raiva contra os muçulmanos.
A intolerância ocorre também por causa das opções sexuais. Os recentes ataques de homofobia, no Brasil, podem servir de exemplo para essa constatação.
Em suma, existem vários fatores associados ao mal-estar que acontece no convívio social. A velha pergunta - o que fazer? - ainda está relacionada a um velha alternativa: a autocrítica de cada um seria um bom começo.
MACHO & FÊMEA /\ \/ : SÍMBOLOS E O ACESSO AO CONHECIMENTO
Existem informações que são transmitidas a cada geração pelo código genético.
Com símbolos, desenhos e letras, o homem conseguiu repassar, aos outros, aquele conhecimento adquirido na prática.
Em outras palavras, o acesso a uma teoria (uma história) melhorava a prática cotidiana do indivíduo.
O escritor Dan Brown explicou, nos DVDs de "DaVinci Code", que a ideia do livro veio do seu interesse pelas sociedades secretas (inclusive por seus símbolos) que foram criadas ao longo da história da humanidade. No próprio filme, aparece um debate interessante (no original, em inglês, se necessário, utilize o tradutor do Google):
"The pagans found transcendence through the joining of male to female. In paganism, women were worshiped as a route to heaven, but the modern Church has a monopoly on that... in salvation through Jesus Christ. And he who keeps the keys to heaven rules the world. Women, then, are a huge threat to the Church. The Catholic Inquisition soon publishes what may be the most blood-soaked book in human history. The Malles Maleficarum. The Witches' Hammer. It instructed the clergy on how to locate, torture and kill all freethinking women. In three centuries of witch hunts, 50.000 women are captured, burned alive at the stake."
Os símbolos dos pagãos para o macho /\ e para a fêmea \/ estariam associados as anatomias dos corpos, assim como os animais do zodíaco seriam inspirados pelas constelações. No documentário "Zeitgeist", é defendida a hipótese de que a cruz seria um símbolo pagão antes de aparecer como representação do cristianismo.
O que existe em comum nestas teorias? Primeiro, há a necessidade de identificar padrões que facilitam o cotidiano do homem - como, por exemplo, as estações do ano. Segundo, a transmissão do conhecimento seria necessária e para isso seriam utilizados recursos como os símbolos, os desenhos e as letras. Terceiro, para resolver algo no presente, seria importante conhecer o passado, evitando, assim, cometer os mesmos erros dos outros. Finalmente, em quarto lugar, sobretudo nas teorias religiosas, existe a preocupação de garantir o que aconteceria no futuro. Por exemplo, seguindo normas no presente, a pessoa garantiria um lugar no céu ("heaven") no futuro.
A questão não é saber qual teoria estaria certa. O importante é reconhecer que o acesso ao conhecimento melhora a vida do indivíduo. Com diz um personagem do filme"DaVinci Code": "ninguém odeia 'a' história... as pessoas evitam saber sobre o próprio passado." ( "Nobody hates history. They hate their own histories." )
VIVER OU ASSISTIR TELEVISÃO?
Uma vez a minha médica me perguntou se as 200 mg de Zoloft não atrapalhavam o meu orgasmo, pois outros pacientes tinham reclamado dos efeitos colaterais. Como diz Lu Gomes: "Certo, o Prozac inibe o orgasmo..." (Playboy, Agosto 2002, p. 132)
Mas, e daí? A escolha, no final, seria pelo bem-estar. Sexo é bom, mas a tranquilidade seria mais importante?
Nem todos pensam assim. Existem aqueles que não abandonam as bebidas alcoólicas, as drogas ou o sexo por uma vida mais saudável e feliz.
Preferem viver intensamente.
Esse tipo de postura voltou ao noticiário com a morte de Amy Winehouse, quando foram lembrados os casos de Jim Morrison, Jimi Hendrix, Brian Jones e Janis Joplin - ela, por sinal, resumia a sua opção:
"Só quero ter bons momentos. Eu quero tirar o que há de melhor em tudo e isto é o que tenho. Cara, eu prefiro viver dez anos na maior agitação do que viver 70 sentada numa maldita caldeira assistindo televisão. Agora é onde você está, como pode esperar?" (Rock Espetacular, p. 116)
Boa pergunta. Viver intensamente significa morrer cedo? Não necessariamente. Penso, para citar uma celebridade do rock, em Keith Richards, sua vida de excessos, e ainda está por aí. Lançou a sua biografia "Life" e lançou um novo álbum.
Imagino que não seria possível ter uma vida longa sem admitir alguns recuos estratégicos. Alguns diriam que a sorte também ajuda. Existiria ainda uma predisposição genética ao suicídio.
Enfim, não seria um único fator que determinaria se a vida de alguém seria longa ou não, nem se seria tranquila ou prazerosa. Entre as infinitas opções, a questão é saber viver o momento,
o aqui e o agora ( John D. Biroc). O resto seria apenas um detalhe...
A FUGA PERFEITA
Questionado sobre a escolha de profissões burocratas, apesar de ser escritor, Fernando Sabino respondeu:
"Explico sim (...): eu não era rico! Precisava trabalhar." (Playboy, julho 1987, p. 49)
Mas na mesma entrevista, ainda afirmou:
"Sem o cartório me livrei do ônus de ficar rico. Como é que eu, rico, ia poder sentar no meio-fio para bater papo com o Otto, o Hélio e o Paulo?" (p. 51)
Contraditório? Parece. Independente se Fernando Sabino estava correto ou não, a questão é que o indivíduo não escolhe desperdiçar várias horas diárias simplesmente por que precisa de dinheiro para sobreviver. É mais complexo do que isso.
Costumo dizer que para atender as necessidades básicas a pessoa não precisa de tanto dinheiro como se diz por aí.
Em outras palavras, o excesso de horas trabalhadas e o dinheiro proveniente de tal esforço estão relacionados aos produtos que não fazem parte das chamadas necessidades básicas: carros novos, joias, viagens, entre outras coisas.
Além disto, trabalhar muito quer dizer não ter tempo para si mesmo. Trata-se da fuga perfeita: é legítima - pois a figura do trabalhador é aceita como positiva na sociedade - e, ao mesmo tempo, serve para alienação - a pessoa não teria tempo para pensar nos verdadeiros problemas.
ATORES, PROFESSORES & AMORES
Mônaco é um apresentado como um lugar para os privilegiados. As princesas Caroline e Stéphanie ficaram ainda mais famosas por causa dos seus romances e escândalos. A mãe, a Grace Kelly, havia sido uma importante atriz em Hollywood. De acordo com Rui Castro (com base no livro "Grace - The Secret Lives of a Princess"), ela se envolvia com
"atores charmosos, casados e muito mais velhos que (...) sempre levava para a cama nos bastidores (...) era sempre ela a tomar a iniciativa. (...) O primeiro felizardo foi Gary Cooper, durante as filmagens de 'Matar o morrer', em 1952 - ela com 23 anos; ele, 51. Não se sabe como Cooper se sobreviveu ao fogo de Grace - e havia quem a chamasse de 'iceberg'!" (Playboy, Outubro 1988, p. 133)
Grace Kelly trabalhou com Alfred Hitchcock (filmes "Ladrão de Casaca" e "Janela Indiscreta"). Ele explicou, em uma entrevista, que utilizava as chamadas "loiras frias" porque não gostava do estilo sensual. No caso da princesa de Mônaco, essa história de "fria" parece ter sido só uma imagem mesmo. De qualquer maneira, chama a atenção que em na década de 1950, ela com os seus 20 anos, linda e com fama de "fria", preferia se relacionar com homens com mais de 50 anos. Certamente não era algo divulgado ao grande público - alguns eram casados -, mas mesmo assim não há como não admitir a ousadia de Grace Kelly.
Apesar de estarmos vivendo em outro milênio, ainda temos que conviver com críticas e preconceitos relacionados aos casais.
Posso falar do meu caso. Depois do divórcio, fui criticado por namorar com garotas bem mais jovens. Conversava com os pais, que autorizavam os namoros. Entretanto, na prática, eu sabia que havia resistências, como, por exemplo, quando tinha 47 anos e me relacionei por mais de uma ano com uma ex-aluna de 18. Aliás, existe muita hipocrisia nesta história de professor e aluna. João Carlos Di Genio - proprietário do Objetivo - resume a sua opinião:
"Alunas apaixonam-se pelo professor. Fazem insinuações, mandam bilhetinhos. Eu não dava bola, pois os rapazes escreviam em nome delas para me gozar. Mas eu namorei uma de minhas estudantes." (Playboy, Novembro 1988, p. 33)
Di Genio não foi o único a namorar com alunas. Eu namorei também com professoras, mas não dou aulas desde 2008 e, mesmo depois deste período, como não casei novamente, continuei a namorar ou ficar com garotas, todas maiores de 18 anos - aliás, um critério que considero razoável para se estabelecer um relacionamento com uma pessoa.
Em suma, exceto nos casos de assédio ou outras ilegalidades, não considero a idade e o ambiente profissional fatores decisivos para determinar se duas pessoas devem ou não ficar juntas.
FUTURO, ZODÍACO E SARTRE
Obs.: o artigo a seguir foi criado a partir de outros dois textos - e que tratavam da mesma temática - "Auras & Hórus" e "Superstições e Religiões".
"Não há dúvida (...) de que o rei-deus, encarnação de Hórus, tenha conhecido sob a IV dinastia o apogeu do seu poder absoluto. (...) O faraó era sempre o 'Hórus-vivo', mas apenas o filho do deus do Sol, que agora imperava sobre as demais divindades. Grandes doações foram feitas sob a V e a VI dinastias." (Ciro Cardoso, O Egito Antigo, SP: Brasilense, 1982, p. 52)
A pronúncia inglesa de "auras" parece muito com a de "hórus", que, no Egito antigo, por volta de 3.000 a. C., representava, como apresentado na citação, um divindade associada ao sol.
A pessoa que possui uma "aura" é uma pessoa "boa". "Hórus" significa luz, o que seria o contrário de "Set" ("Seth"), que representaria a noite, algo negativo. (Documentário "Zeitgeist")
A dualidade identificada pelos homens, observando o sol e as estrelas, permanece até hoje e foi a base da maioria das religiões e superstições.
No que diz respeito especificamente às superstições, algumas, aparentemente, em nada tem a ver com o zodíaco, como o número 4 para os chineses ou passar embaixo de escada ou jogar o sal sobre o ombro.
Outras, porém, estão associadas à cruz do zodíaco, como, quando bocejar, você deveria tampar a boca para o diabo não entrar, principalmente se for uma sexta-feira 13. O zodíaco possui 12 signos e daí vem a importância dada ao número 13.
Existe gente que acredita que por ter nascido em uma época do ano, que corresponde a um signo, seria possível prever os acontecimentos de sua vida.
A construção da cruz do zodíaco foi feita, sobretudo, a partir da observação feita pelo homem em relação aos movimentos do sol, durante o dia, e das constelações, à noite. A partir disto, seria possível prever, por exemplo, as estações do ano: primavera, verão, outono e inverno. Muitas religiões foram criadas a partir disto. (Documentário "Zeitgeist")
De fato, religiões e superstições foram inventadas pelos seres humanos com o objetivo de estabelecer algum tipo de controle sobre o futuro. Acreditar no horóscopo faz parte deste processo.
Tudo isso está associado à falta de sentido na vida - você não sabe por que está neste mundo e nem o que acontecerá após a sua morte - e a insegurança de cada pessoa. É complicado admitir "o nada" ou a "não existência". É difícil aceitar que as coisas, no universo, existem sem a humanidade.
Qual seria a solução, então? Alguma religião?
Bom, se Deus existe ou não, deixa de ser o ponto principal, na medida em que "nada pode salvar o homem dele mesmo." A resposta, talvez, esteja aí. Não era por acaso que Sartre considerava a sua teoria, o "humanismo", uma forma de otimismo.
PERSONALIDADE?
O mapa é um instrumento que oferece caminhos que facilitam a chegada a um determinado objetivo. "Mapear" uma pessoa seria uma forma de entendê-la.
Entre os 15 e 25 anos, o indivíduo deixa de ser criança e torna-se um adulto. É uma fase de escolhas e, assim, de definição da personalidade.
Uma "mapa" desse processo contaria com algumas perguntas:
. idade ?
. mora com os pais ?
. escola ?
. opção sexual ?
. drogas ?
IDADE ? É importante saber se na fase de transição a pessoa já possui a chave para entrar no mundo dos adultos, ou seja, se já completou 18 anos. Isso afeta as suas relações com os outros e consigo mesmo.
MORA COM OS PAIS ? Trata-se de uma questão fundamental, pois ela define, pelo menos teoricamente, o margem de ação do indivíduo. Em outras palavras, a independência é problemática se ainda se ouve algo como: "o dia que você morar na SUA casa, você define as SUAS regras... enquanto morar aqui... blá blá blá..."
ESCOLA ? Qual é a sua turma? O adolescente precisa de turma para enfrentar a tal fase. Nem sempre ele escolhe... algumas vezes é escolhido... Mas, existem diferenças, por exemplo, daquelas meninas que se sentem bem como "patricinhas" - aquele modelo "cheerleader" - e de outras que gostam de coisas consideradas "alternativas", como heavy metal e tatuagens...
OPÇÃO SEXUAL ? Hetero... homo... bi... trans...
DROGAS ? Contra? Usa? Que tipo?
A partir das respostas seria possível identificar a personalidade do indivíduo e até dizer os prováveis caminhos que ele escolheria na vida.
Não é algo definitivo, óbvio. Mas saber um pouco sobre o outro não atrapalha relação alguma, pelo contrário, ajuda o convívio social e a busca pelas respostas dos problemas do dia-a-dia.
CONSCIÊNCIA?
Inconscientemente... Eis uma das palavras que mais aparece no livro "Sadomasoquismo" de Estela Welldon. Como explicar que atos tão cruéis poderiam ser conscientes?
O termo "inconsciense" é traduzido no Le Robert Micro Poche como:
" 1. privation permanente ou abolition momentanée de la consciense. 2. Absence de jugement, de consciense claire."
Algo como "privação da consciência ou ausência de consciência clara". No filme "Les Invasions Barbaries" aparece:
" L'inconscience. Les gens qui sont incapables de voir la réalité."
Será que existe gente, normalmente com atos cruéis, que não é capaz de ver a realidade, ou seja, faz o mal sem compreender o significado do seu ato? Será?
CAUSA E EFEITO
Algumas pessoas acreditam que "aqui se faz, aqui se paga". Existiria uma espécie de "lei natural" que puniria os erros de um indivíduo, com base nas premissas de causa e efeito.
De fato, muitas pessoas que comentem crimes são presas e punidas. Para entender esse processo, seria interessante lembrar uma citação de John D. Biroc:
"O medo do caos ‘convida’ mais caos."
Sim, o medo de algo - como o caos da citação - aumenta a possibilidade desse temor tornar-se realidade. Quem faz algo errado ou comete um crime, vive em constante medo de ser preso. O incômodo é tal que ser mesmo preso pode aparecer como uma alternativa inconsciente para o problema. É a mesma dinâmica do indivíduo que se envolve sempre com as pessoas "erradas" e, depois, não entende por que aquelas relações não deram certo.
Assim, o criminoso é punido não porque isso seja uma "lei natural". Por causa do medo, ele acredita que será punido. Não importa se o seu ato seria aceito numa sociedade e recriminado em outra. Antes de mais nada, ele aceita aquela culpa e acredita, ingenuamente, que infringiu uma "lei da natureza". Merece ser punido - tanto pela postura antiética como pela própria alienação.
"ATRAIO, LOGO EXISTO"... SERIA VERDADE?
Quando não quer enfrentar um problema psicológico, o indivíduo apela para uma resposta física.
O sadomasoquismo é um exemplo. É comum ver ainda que os rapazes, diante das frustrações de não realizar os seus desejos sexuais com as garotas numa festa, "escolhem" brigar fisicamente com os outros.
O que acontece, exatamente? Kalu Singh (Sublimação, p. 60) apresenta um hipótese interessante:
"A percepção precoce de sua insuficiência como mulher e como objeto desejado leva a menina a ter de provar a sua feminilidade e a sua desejabilidade por toda a vida. (...) Se a solução 'eu atraio, logo existo', então o conflito é o 'uso ou não uso a cor mulher?' (...) Agradar é o figurino-padrão aprendido pelas garotas."
Do ponto de vista masculino, vale lembrar uma citação de Nelson Rodrigues:
"Para começar, a mulher é uma potência fantástica, devido a atração sexual. Isso lhe dá um instrumento de domínio, todo sujeito que tem uma grande atração sexual por uma mulher está liquidado. Ela exerce o poder e ele a submissão."
Seria a velha guerra entre os sexos? A mulher se sentiria obrigada a ser desejada? O homem ficaria angustiado diante da "atração sexual" que sente pela mulher?
Parece simplista definir tudo como uma relação de poder. Existem as emoções, os desejos e os instintos. Claro que tudo pode ser utilizado como estratégia de dominação, mas esse não é o único caminho. Algumas vezes, o prazer é apenas o prazer e ele existe independente dos interesses políticos, sociais e ideológicos dos envolvidos.
PROSTITUTAS E FEMINISTAS
Na primeira metade da década de 1980, eu era fã das ideias de Rose Marie Muraro e, ao mesmo tempo, achava gostosa a modelo Xuxa. As duas foram convidadas para participar, na época, de um programa na televisão. Era um programa do Ziraldo, o que significava uma tendência favorável para o machismo e não para o feminismo.
Conscientemente, eu não estava dividido entre os dois "movimentos". Ao contrário, achava que era possível gostar de uma mulher inteligente e de uma mulher bonita. Mais do que isso, sempre acreditei que seria possível a mesma mulher ser as duas coisas.
Me relacionei sexualmente com vários tipos de mulheres, além das inteligentes e gostosas, fiquei com as (muito) mais velhas, com as (muito) mais novas, altas, baixas, magras, gordas, brancas, negras, japonesas, loiras, morenas... Participei de longos relacionamentos assim como de "menáge a trois" e de "one night stand". O único preconceito que eu tinha quanto às mulheres era pagar por sexo. Resolvi esse problema recentemente...
Isso me lembra uma citação do político Fernando Gabeira:
"A Gabriela, que era líder das putas no Rio, sempre votou em mim. Uma vez eu participei de um encontro nacional para discutir os projetos. Discutimos as divergências com o feminismo, que é contra a atividade delas e que quer acabar com a prostituição. Já as prostitutas querem apenas trabalhar com dignidade, e aí a minha posição é com elas." (Playboy, Julho 1995, p. 52-52)
Não sei se essa divergência entre as prostitutas e as feministas seria importante hoje em dia. Parece mais um debate antigo - o que não significa que tenha sido resolvido.
Bruce Willis, numa de suas entrevistas para a Playboy (Março 1996, p. 36), foi bem sincero:
"Se você for heterossexual e honesto, deve admitir que a primeira coisa que lhe vem a cabeça quando vê uma mulher é: 'Ei, eu gostaria de transar com ela.' Você não pensa em engravidá-la, em ter uma ninhada de macaquinhos com ela, mas o instinto primitivo está lá: 'Mmm... Vou pegar você... e mais você...' "
Como negar o óbvio? Claro que esses dois adjetivos - heterossexual e honesto - associados a um mesmo homem parecem contraditórios. Se um homem quer ficar com várias mulheres, ele não poderá ser um cara honesto... Provavelmente, Bruce Willis referia-se ao fato dele ser "honesto com ele mesmo"... o que implicaria em "ser desonesto com elas". Isso me lembra outra citação:
"Vocês não vêem que o essencial do mito feminino de Don Juan é que ele as tem uma a uma?" (Lacan, Seminário - Mais Ainda, p. 19)
Em suma, o homem, para ter todas as mulheres, precisaria mostrar para cada uma que ela seria especial. Trata-se, claro, de um mito, assim como a ideia do "príncipe encantado", ou seja, que a mulher encontraria todas as qualidades num mesmo homem: trabalhador, sensível, honesto, protetor, bom amante, pai atencioso...
Mulheres e homens: instintos e desejos de sexos diferentes... Fazer o quê? "Amor" para as mulheres... "Sexo" para os homens... ou... numa única palavra: "fuck" (conclusão da personagem de Nicole Kidman no filme "Eyes Wide Out").
CULPA
Existem lugares que são citados como exemplos de riqueza, como Mônaco e Singapura. Todos (?!) são milionários e andam em carros luxuosos. Normalmente, o que não é enfatizado é a origem do dinheiro que é aceito nestes países. Origem duvidosa, reconhecem, o que significa dinheiro de tráfico de drogas, exploração de crianças, prostituição, entre outras coisas. Não é por acaso que os cassinos são atrações turísticas nestes locais.
A associação do cassino com as atividades ilegais é antiga, basta lembrar o caso de Las Vegas, dominada durante muito tempo por grupos mafiosos. Por outro lado, claro, a ausência dos cassinos não quer dizer respeito às leis de um país, como pode ser percebido no Brasil. Aqui o cassino é proibido, mas a corrupção, o contrabando, o tráfico de drogas, a prostituição e os crimes envolvem até policiais e governantes.
Dizem que a prostituição é a profissão mais antiga do mundo. Até o século XIX, não havia a "indústria da droga", afinal, a cocaína, por exemplo, era usada sem restrições, inclusive receitadas por médicos, entre eles, Sigmund Freud. No século XX, tentaram criar uma "lei seca" nos Estados Unidos. Não deu certo, pois foi criado um comércio ilegal, que enriquecia os intermediários, como no caso do tráfico atualmente.
A questão não é deixar de proibir o uso das drogas ou deixar de reprimir o tráfico. O problema, que as pessoas não querem enfrentar, é o que levaria alguém ao consumo excessivo de álcool ou de drogas. Reprimir o alcoólatra ou o drogado é um erro. Trata-se de ajuda e não de punição. Deveria existir ainda autocrítica por parte da família e das instituições da sociedade. Cada um deveria assumir a sua responsabilidade no processo e não se esconder do problema ou simplesmente colocar a culpa no outro, como normalmente acontece.
Não é a primeira vez que você lê isso e não será a última. Você pensa: "as coisas funcionam assim e pronto". É cômodo. Só não vale reclamar depois do aumento da criminalidade, dos sequestros, dos assaltos aos shopping centers (eram seguros, lembra?), da violência contra a mulher... Existem dados que indicam que em torno de 35.000 mulheres apanham dos maridos no Brasil. Você pensa: "isso é um exagero, a mídia é pessimista". Talvez seja o contrário: a realidade da maioria pode ser bem pior e os jornais só selecionam os casos que interessam aos grupos de comunicação.
Melhor do que omitir ou apontar o dedo para o outro quando surge um problema, certamente seria seguir o conselho do personagem "V": "se você procura por um culpado, olhe primeiro para o espelho."
DESEJO
Os indivíduos inventam os conceitos de acordo com que sociedade em que vivem. Assim, tais conceitos podem mudar ou desaparecer em favor de novas concepções. Sexo é um instinto básico de todos animais, incluindo, obviamente, os homens.
O problema nesta área não seria o sexo em si, associado à natureza, mas sim como ele é usado em cada época como forma de civilização ou de exercer o poder. Muitos separam o sexo do amor. Outros criam valores diferentes para os dois conceitos. Nelson Rodrigues, por exemplo, afirmava que
"quando há amor, o sexo é de uma irrelevância absoluta."
Michel Foucault, referindo-se à constituição da sociedade ocidental, destacou que
"quando os homens, após terem aprendido tantas habilidades úteis, começaram a não negligenciar mais 'nada' em sua pesquisa, a filosofia surgiu, e com ela a pederastia." (O Cuidado de Si, p. 214)
Na Grécia Antiga, era discutido, do ponto de vista dos homens, tanto o amor pelas mulheres como o amor pelos rapazes.
O padrão que conhecemos como "normal", ou seja, a relação homem-mulher, as ideias de casamento e virgindade predominaram a partir do século IV, com o reforço dos discursos dos religiosos, dos filósofos e dos médicos.
O interessante, contudo, é perceber que mesmo na Grécia Antiga, havia uma distinção entre aquilo que era físico e aquilo que não era. Foucault, no mesmo livro (p. 197), dizia
"que, por uma lado se punha o amor vulgar (aquele onde os atos sexuais são preponderantes) e o amor nobre, puro, elevado, celeste (onde a presença desses mesmos atos é, se não anulada, pelo menos velada)."
O essencial não seria o tipo de relação, homem-mulher ou homem-rapaz, mas sim o tipo de amor.
Na sociedade moderna, com o elogio da virgindade, para os homens, na prática, o amor seria aquele sentimento que ocorreria no casamento, com a esposa. Com as outras mulheres, seria apenas sexo. Muitos ainda pensam assim.
Enfim, a relação amor e sexo é problemática, ainda mais quando associada aos temas como fidelidade e desejo. Tudo isso torna esse tipo de relação quase impossível, no sentido de se viver efetivamente "o amor verdadeiro" e não uma relação de poder ou uma negociação empresarial, que as duas partes mentem e omitem quanto aos seus verdadeiros sentimentos, interessando somente o resultado prático e material da união conjugal.
Parece que sem o sexo, fica mais fácil entender o amor. Basta pensar nas relações estabelecidas nas amizades, nas famílias e nas religiões ou em outros formas de convívio humano. Com isso, não quero dizer que fazer sexo seja errado. O sexo é natural e necessário, isso é óbvio. No entanto, quando idealizamos sobre algo real, criamos, de fato, um problema sem solução, na medida em que são duas dimensões distintas: fantasia e realidade. O resultado disto, todos conhecemos, é a dor... o sofrimento e a frustração. Sentimentos esses que caracterizam bem os indivíduos civilizados.
DIVERSÃO
É comum se afirmar que as pessoas não têm tempo para visitar os parentes, para conversar com os amigos e até para dar atenção para os filhos. O que acontece? Tempo é um conceito abstrato. O que ocorre é que a fuga de si leva a fuga do outro.
O indivíduo não quer tempo para pensar na sua vida, então ele busca coisas (em excesso) para fazer. Ele inventa a sua própria "falta de tempo". No capitalismo, foi construído o conceito de que você é valorizado pelo seu "trabalho". O relógio tornou-se um instrumento fundamental. Não é necessário um "big brother" para controlar o tempo da pessoa... elas mesma, olhando para o seu pulso, sabe o que tem que fazer, se está atrasada ou adiantada.
Quando chegam as férias, o ócio vira problema. Muitos estressam mais nas férias do que no período de trabalho. Afinal, o que fazer? Nada? E o sentimento de culpa? E o medo de que não sintam a sua falta na empresa?
Será que as pessoas perceberiam o óbvio: você é uma mercadoria (Karl Marx) e, como tal, pode ser descartada e não fará falta, seja na empresa, na família, na amizade ou em outras relações. Claro, esse é o ponto de vista de nossa sociedade capitalista. Não precisaria ser assim. É uma escolha individual num modo de produção em que tudo é definido coletivamente. Complicado? Você fracassa em algo e imagina que a culpa é só sua. Por exemplo, não passa no vestibular ou em um concurso, sente-se mal por isso.
Esquece, contudo, quais foram as condições dadas para que você pudesse concorrer com todos os outros candidatos. Aquela história de que todos são iguais e concorrem, portanto, em igualdade de condições é uma lenda burguesa, muito antiga por sinal. Mão invisível do mercado? Adam Smith? Por favor...
Entender o seu papel na comunidade e na sua relação com o outro pressupõe compreender você primeiro. Não dá para criticar algo sem que ocorra, antes, autocrítica. Você tem que ser capaz de olhar para si mesmo.
Se você fantasia sobre o seu lugar nas relações, se você imagina que tem uma importância para os outros e isso só existe na sua cabeça, bom, quando "as férias" acabarem você realmente poderá ter surpresas desagradáveis. Insistir na fantasia, ainda é uma escolha sua. Insistir demais pode ser o caminho da loucura, da perda da razão, quando você cria um mundo só para você e não consegue perceber mais a realidade.
Você tem medo do quê? Da loucura? Da solidão? Da falta de dinheiro? Da falência? Do desemprego? De não ser amado (a)?
O medo pode te levar à fuga - como alcoolismo, excesso de trabalho, fanatismo religioso, vício em drogas e consumismo - antes de você enfrentar a realidade. Viver na fantasia é fácil. O difícil é conseguir sair dela. O chato é a insônia. O que incomoda é o pesadelo, o seu inconsciente te alertando de coisas que você se esforça bastante para esquecer. Se durante o dia, quando as lembranças desagradáveis tentam aparecer, você bebe ou usa droga, no sono, isso não seria possível. O seu inconsciente é implacável.
Lidar com essas três dimensões - sonho, fantasia e realidade - certamente não é algo simples. No entanto, também não é a morte ou o fim do mundo. Isso não acontece só com você. O capitalismo existe a partir da exploração de uma minoria sobre uma maioria. O mundo não é justo. Toda relação amorosa está fadada ao fracasso. Então, a resposta seria desistir? Claro que não. A resposta estaria no "sussurro do vento", como naquelas músicas do Bob Dylan e do Led Zeppelin? Bem poético, mas sem efeito prático (eu sei que essa não era a intenção dos compositores)... A resposta é não fugir e isso quer dizer simplesmente viver, lidar com os prazeres e os problemas proporcionados pelas relações que inventamos. Sofrer, algumas vezes... Divertir mais, se possível...
DIFERENÇAS
O que diferencia o homem dos outros animais? Alguns diriam: o poder ou a política. Outros escolheriam características como amor, dominação, amizade, solidariedade ou religião.
No filme "Blade Runner", o que diferencia os humanos dos que não são seria a memória, o fato de se ter um passado. Em outro filme, "Les Invansions Barbares", diante das dúvidas do personagem diante da morte, a filha de sua amiga diz: "não é a sua vida atual que você não quer deixar; é a sua vida passada; e essa já está morta." Aqui, mais uma vez o passado aparece como uma característica do ser humano.
O que diferencia os homens dos outros homens? A diferença mais óbvia é a questão das classes sociais: uns são ricos e outros são pobres. É uma diferença objetiva e material. Marx acreditava, pelo menos num momento da sua vida, que a criação de uma ideologia tornaria essa diferença social possível. Ricos e pobres acreditam na "ideologia do capitalismo".
Então, o que poderia diferenciar uns dos outros? Nietzsche acreditava que a maioria da humanidade não seria capaz de entender a própria existência. Haveria poucos capazes de ir além das obviedades do cotidiano. No filme "Red Dragon", o personagem - e "psicokiller" - Dr. Lecter diz para o investigador: "você me pegou pois somos parecidos (...) o que nos diferencia dos demais é nossa imaginação." Alguns filósofos diriam que seria a capacidade de pensar sobre a metafísica e sobre o niilismo.
Refletir sobre temas complexos gera ansiedade em muitas pessoas. Não refletir significa alienação. São dois caminhos. São duas opções. Na medida em que você realmente pensa sobre a condição humana, você fez uma escolha e não há caminho de volta. Não seria possível ser superficial novamente e acreditar num mundo perfeito e colorido.
Você, agora, vê além do imediato e da aparência. Por um lado, é bom, pois não te enganam mais tão facilmente como antes. Por outro, porém, você percebe o lado "real" dos indivíduos e de suas relações. O mundo aparece, assim, como um lugar sombrio e sem sentido, o que, de fato, ele é. Você percebe ainda que poucos ao seu redor enxergam aquilo que você vê. Você sente solidão. Você sente saudade do tempo em que acreditava em fantasias e não vivia. Diante do dilema vida ou alienação, você fez sua escolha. Cabe, portanto, saber tirar o melhor dela, mesmo sabendo que sentimentos negativos fazem parte da formação do ser humano.
INSTINTOS
Independente da idade, várias pessoas apresentam dificuldades para dormir. De imediato, lembro-me da parte inicial do filme "Clube da Luta": quando você tem insônia, você tem dificuldade de perceber o que seria real ou não...
Com a idade, claro, aumenta o número de neuroses, o que dificultaria mais o sono do indivíduo, além de produzir pesadelos. Estas neuroses ocorrem, conforme admitia Freud, devido ao conflito entre o desejo básico da pessoa e o seu compromisso com a comunidade, ou seja, instinto individual e responsabilidade social. Em um documento, Carta 105, Freud era claro:
"Realidade - realização de desejos. É dessa parte de opostos que brota nossa vida mental."
Para superar a insônia, muitos tomam remédios, sobretudo os controlados, aqueles de tarja preta. Funciona bem no início, mas, depois, como qualquer droga, com o uso diário e o aumento das doses, gradativamente, perde o efeito, o que complica ainda mais a situação do indivíduo.
Afinal, algo simples, como dormir, parece algo tão complicado na prática. O que facilitaria esse processo?
"A 'precondição essencial' do sono é facilmente reconhecida na criança. As crianças dormem enquanto não são atormentadas por nenhuma necessidade [física] ou estímulo externo (pela fome ou pela sensação de frio causada pela urina). Elas adormecem depois de serem satisfeitas (no seio). Os adultos também adormecem com facilidade 'post coenam e coitum' [depois da refeição e da cópula]." (Freud, Processos Primários - o Sono e os Sonhos)
Em outras palavras, dormir é algo necessário e natural. Para tanto, devemos reconhecer e satisfazer as necessidades básicas do corpo. Ou seja, alimentação e sexualidade são problemáticas que devem ser analisadas com atenção pelas pessoas que têm insônia.
OSTENTAÇÃO
Está escrito, na Bíblia, que "é mais fácil um camelo passar por um buraco de uma agulha do que um rico entrar no céu." Até a Idade Média, a usura era pecado. (Não cabe aqui discutir a própria riqueza da Igreja Católica, pois isso seria outro assunto.) Na Grécia Antiga, a simplicidade era uma qualidade. O que mudou? Os valores no capitalismo seriam outros. A Reforma Protestante foi, de certa forma, uma "adequação" dos princípios cristãos ao novo modo de produção. Ser rico passou a ser percebido como algo bom. Mais do que isso, passou a ser encorajado. Ser pobre, sofrer e esperar a recompensa após a morte, no paraíso, deixou de ser a palavra de ordem da sociedade.
Na Idade Média, os nobres cultivam o ócio - como os cidadãos na Grécia Antiga. Os burgueses enalteciam o trabalho, apesar de serem os patrões e, portanto, mandar em quem verdadeiramente labutava: o proletariado. Os burgueses eram mal vistos pelos nobres, possuindo tendo o poder econômico. Características com a avareza ou a ostentação eram desprezadas pela nobreza.
Com o tempo, a nobreza tornou-se uma classe em extinção. Entre os burgueses, os detentores do capital, aqueles 10 % da população, assumiram uma postura mais discreta, mesmo considerando as suas grandes fortunas. Coube ao chamado "novo rico" apelar para a ostentação - e o consequente desprezo daqueles que tinha mais dinheiro que eles.
A ostentação é identificada, primeiro, pelo carro: tem que ser grande, importado e, se possível, vermelho. Não importa de veio de contrabando. Não importa nem se é uma Ferrari original. O que vale é mostrar para os outros. Muitos, contrariados, compram carros grandes, mas nacionais, e em infinitas parcelas. O objetivo, claro, seria o mesmo: desfilar e aparecer para a sociedade. Outros têm que escolher entre ter um imóvel próprio ou um carro da moda. O dinheiro do "novo rico" nem sempre dá para possuir as duas coisas. Neste caso, a escolha recaí sobre o carro, pois, com ele, você é visto.
O "novo rico" acha que engana. Acredita que é reconhecido como "rico", por causa do carro ou de suas joias, que sempre ficam à mostra. Na realidade, isso não acontece. Os tais ricos mesmo - 10 % da população - não dão a mínima para esses que se acham em ascensão. Os mais pobres também não acreditam, acham graça ou fazem piadas das roupas, plásticas e joias; mas não desprezam as boas gorjetas dadas pelos "novos ricos" e, nesse momento, obviamente, fingem que acreditam em toda aquela encenação.
Não existe defesa da ostentação de riqueza. Nada justifica tal mal gosto. Então, por quê ela acontece? Provavelmente por insegurança, pela necessidade de buscar a aprovação do outro. Seja qual for o motivo, ela é equivocada. Nada justifica tal mal gosto.
PEÃO NO JOGO DE XADREZ
Alguém disse que a vida seria uma piada sem graça. Imagine que você fosse um peão em um jogo de xadrez. Seu sentido de existência seria desaparecer primeiro que as outras peças em função de uma estratégia maior - o xeque mate. Você não seria o jogador. Você seria a peça. Mesmo no próprio jogo, você ainda seria a peça menos importante.
A vida não tem sentido, é óbvio. Contudo, é o humor que a faz ficar menos difícil. Rir é fundamental. Rir de si e das situações. Crítica e autocrítica. Leandro Konder destacava além do humor, a solidariedade, a ética. Concordo.
Dar conta de si e ajudar os outros. Muitos argumentam que isso seria ilusão, que, na sociedade, o que vale é a lei do mais forte. Discordo.
Mesmo se isso fosse verdade, em nada deveria alterar o sentido que o indivíduo dá a sua vida. Ele é o responsável pelos seus atos. E Deus? Sartre estava correto quando afirmava que a existência ou não de um Criador em nada mudaria a postura do indivíduo diante da vida, afinal, "nada pode salvá-lo de si mesmo."
PESADELOS
Quase sempre tenho pesadelos. Eles são resultados de conflitos internos - id, ego e superego - e externos - as cobranças dos "aparelhos" sociais - família, escola, igreja, mídia, entre outros. Diante de tantas pressões e cobranças, internas e externas, como o indivíduo pode realizar os seus desejos?
Historicamente, a igreja existe para controlar os desejos humanos. São as tais regras. Como esquecer os dez mandamentos? Por outro lado, os meios de comunicação, em especial a propaganda, existem para estimular os desejos, tudo dentro de um certo padrão "civilizado", portanto, controlado. As mulheres seminuas em propagandas de cerveja, por exemplo, são associações óbvias entre a libido e o consumo. A edição de um jornal que passa na televisão já não aparece tão claramente ao telespectador, pois aquilo precisar parecer a representação de um fato real, de uma verdade. Indiretamente, o indivíduo é influenciado. Com isso, a intenção é estabelecer padrões de comportamento nas famílias, nas escolas e nas relações gerais da sociedade.
Funciona? Na maioria dos casos, sim, apresenta o resultado esperado. No entanto, a relação social não funciona como a matemática. O que pode causar desequilíbrio é o instinto humano. o modelo familiar entra em crise, os alunos não respeitam os professores nas escolas e a maioria evita ir à igreja todo mundo. A sociedade, contudo, não explodiu. Isso quer dizer que as crises sociais são esperadas e toleradas, desde que estejam sob controle.
Mas, quem controla? Quem ganha com isso? A resposta é simples: num mundo material, existe um minoria de privilegiados cada vez mais rica e uma maioria que sustenta o modelo econômico sem participar dos lucros. Isso acontece no mundo inteiro. O modelo atende efetivamente uma minoria. Todos, porém, sentem os seus efeitos. Muitos acreditam que as coisas negativas só acontecem com eles e, pior, se sentem responsáveis pela própria miséria. Se o modelo é geral, a dor é individual. A maioria não consegue associar uma coisa - o capitalismo - com os seus desejos e fracassos particulares. Aqueles que conseguem, tornam-se "outsiders", ou seja, marginais, não no sentido da criminalidade, mas sim como aparecem e são mostrados na sociedade.
O indivíduo, diante da insegurança, tende a acreditar em algo abstrato: o futuro. Ele vive no presente e sonha com o futuro. Tudo vai melhorar. Não pode ficar pior que isso. Pode sim. Sempre pode piorar. Mas isso é outra história. o que importa é que "a invenção do futuro" é um mecanismo para quem deseja controlar o outro no presente. Pense na política, na religião ou, mais simples, na relação amorosa. "O futuro promete"... sim, desde que você realize o desejo do outro na hora. O futuro, neste sentido, não existe. Trata-se apenas de uma estratégia de controle do outro. Funciona, na maioria dos casos, porque, no desespero, precisamos acreditar em qualquer coisa, por mais absurda e irreal que aquela promessa possa parecer.
PRECONCEITO
Freud sabia da existência de Nietzsche. Uma vez, ele comentou que achava que Nietzsche tinha tendências homossexuais. Freud, entre outras coisas, associava o homossexualismo ao narcisismo e ao masoquismo. No filme "Les Invansions Barbares", questionando os grandes pensadores, Freud torna-se objeto de dúvida: uma personagem afirma que ele era gay (sem assumir, claro).
A vida particular de cada um não deveria interessar à ninguém. Nos casos citados, o que importa é que os dois pensadores, junto com Marx, definiram as possibilidades do homem a partir do século XX.
De fato, as pessoais são sexuais. Separá-las em categorias, é uma forma ideológica de reforçar os preconceitos.
A homofobia do personagem Charlie Harper, de "Two and Half Men", é mostrada em vários episódios. Num deles, conversando com a sua psicoterapeuta, ele pergunta: "existe a possibilidade de ser gay sem saber?" Alan, seu irmão, com a mesma dúvida, ouve de um amigo gay: "você sente atração por homem?" Essa é a questão chave. Ela define o seu desejo sexual.
Entretanto, em nossa sociedade, a homofobia acaba sendo uma característica da maioria dos heterossexuais. A crítica ao outro aparece como uma espécie de "segurança" quanto a sua própria sexualidade. Existe um medo de ser considerado "gay", o que é normal, visto que, no mundo atual, as pessoas são efetivamente preconceituosas quando o assunto é sexualidade.
De fato, esse jogo hipócrita de aparências é uma bobagem, trata-se apenas de um pretexto para criticar o outro - assim como a cor da pele ou a escolha religiosa - e fugir de si mesmo, evitando qualquer forma de autocrítica.
Em suma, exceto no caso dos narcisistas, o desejo sexual está associado ao outro. É algo definido a partir de "dentro" e independente da pessoa ter nascido homem ou mulher. Não é algo absoluto. Pode mudar.
O fato de estar num corpo de homem ou de mulher, pode mostrá-lo como heterossexual ou homossexual. Você não escolheu o corpo que iria nascer. Entretanto, você sabe por que tipo de pessoa sente atração.
O complicador, neste processo, é a sociedade em que você vive. Dependendo dela, do momento histórico, a realização do seu desejo pode ser percebida como natural ou "anormal". No último caso, deve ser criticada e até condenada à morte, como ainda hoje ocorre em alguns países.
O que era simplesmente algo natural, a atração sexual, o desejo do ser humano, tornou-se um instrumento para controlar os indivíduos. Na medida em que o sexo deixou de ser um desejo natural e passou a ser uma estratégia de poder, a pessoa deixou de olhar para si, ficou com medo do seu desejo e de sua sexualidade, preferindo representar um papel em que fosse aceito pelos outros como "normal". Deixou de ser sujeito e tornou-se um objeto, que nem pode ser considerado sexual... Em outras palavras, deixou de existir e virou um "fantoche" do outro, que, nesse teatro de dominação, cumpre um papel também, esquecendo, inclusive, por que era tão importante manipular o próximo e desprezar valores como amor e solidariedade.
PROZAC & CHARLOTTE
Num episódio de "Sex and The City", Carrie apresenta um rapaz a Charlotte, dizendo que ficou com ele e que seu defeito era que, do ponto de vista sexual, ele era um maníaco. Em seguida, Charlotte se envolveu com o rapaz, mas, para a sua decepção, não demonstrava interesse por sexo. Questionado por Charlotte, ele afirma que não era uma cara muito sexual. Ela conta o que ouviu de Carrie. Em resposta, ele afirma que aquilo era o passado, que depois que começou a tomar Prozac a sua vida mudou e ele encontrou a tranquilidade, que nada o abalava mais.
Essa história possui um fundo de verdade. Um dos efeitos colaterais dos modernos antidepressivos é justamente afetar a vida sexual do indivíduo. Não causa impotência, mas pode inibir a ejaculação ou, parece que em alguns casos, torna as pessoas menos sexuais. Contudo, muitos pacientes - como o da história - não se importam com estes efeitos, afinal, deixam de sentir a depressão. Isso contradiz a velha associação de Freud entre eros (sexo) e vida - que entraria em contradição, em cada pessoa, com o instinto de morte.
Após a invenção da pílula anticoncepcional e o avanço do movimento feminista, vários mitos foram destruídos, entre eles, a necessidade da mulher ficar virgem até o casamento. Atualmente, homens e mulheres, no mundo ocidental, atuam em condições de igualdade no que diz respeito à problemática sexual. Exatamente nesse período, o estresse torna-se um problema para um número cada vez maior de indivíduos. O resultado é o aumento no uso de antidepressivos, como Prozac e Zoloft (esse é fabricado pela Pfizer, que produz também o Viagra...).
Em suma, parece que nos tornamos "ratos de laboratórios": somos incentivados a consumir mais, o que nos obriga ao excesso de trabalho e isso gera o estresse, que pode ser resolvido com os novos medicamentos... Os efeitos colaterais, muitas vezes, são "resolvidos" com outros remédios... Aquilo que era básico no homem - o desejo sexual para preservar a espécie - é transformado num mecanismo de controle, ou seja, uma loira numa propaganda de cerveja, por exemplo, "serve" para despertar o desejo sexual, que o excesso de trabalho pode inibir a realização (não é por acaso que quando um indivíduo não consegue ereção, uma das justificativas seria o emprego ou a empresa) e que outra propaganda - a do Viagra - apresenta a solução. Somos usados pelas indústrias como fantoches. Não existe nada de novo nesta afirmação. Talvez a novidade seja o desinteresse pelo sexo em troca do bem-estar.
PRESERVATIVO
O Papa admitiu recentemente (novembro de 2010) o uso de preservativos para alguns casos especiais. Do ponto de vista do catolicismo, foi um marco. Do ponto de vista geral, o discurso pode ser percebido como mais uma adequação dos princípios da igreja à sociedade que tenta representar. Essa mesma igreja, em épocas passadas, estava de acordo com a inquisição e as Cruzadas. Para muitos, a prática da tortura foi inventada pelos representantes do catolicismo.
O uso de preservativo é admitir que o sexo não existe apenas para a procriação. Sexo é também prazer e isso era enfatizado por filósofos da antiguidade. Com o cristianismo e a criação (e avanço) da medicina esse quadro mudou:
"Médicos inquietam-se com os efeitos da prática sexual, recomendam de bom grado a abstenção, e declaram preferir a virgindade ao uso dos prazeres. Filósofos condenam qualquer relação que poderia ocorrer fora do casamento, e prescrevem entre os esposos uma fidelidade rigorosa e sem exceção. Enfim, um certa desqualificação doutrinal parece recair sobre o amor pelos rapazes." (Michel Foucault, O cuidado de si, p. 231)
Esses princípios foram impostos à sociedade ocidental. Houve resistências, lutas e condenações ao longo de séculos até chegarmos na década de 1950, período em que se acreditava como verdades absolutas concepções como virgindade, casamento e fidelidade. Além disto, o amor pelos rapazes que era comum na Grécia Antiga, passaria a ser visto com antinatural.
Na década seguinte, ainda no século XX, os princípios começaram a ser problematizados a partir de vários movimentos sociais: jovens, mulheres, negros e homossexuais. Entretanto, após uma década no século XXI, não podemos afirmar que a crença nestes princípios tenha desaparecido. A maioria ainda coloca a fidelidade como norma básica da relação amorosa. A homofobia permanece. Se, por um lado, o mito da virgindade não faz mais sentido, por outro, a ideia do casamento permanece como objetivo para muitos jovens.
Em suma, mudanças de mentalidade são lentas, podem durar décadas ou séculos. Nem sempre a transformação significa evolução ou bem-estar para a maioria. O comum é exatamente ocorrer o contrário. Talvez uma explicação para isso seja a própria condição humana. Esta é uma boa hipótese.
VIDA E MORTE
Em uma crônica, João Ubaldo Ribeiro pensa sobre quanto anos ainda restariam para ele viver. Eu colocaria o problema de outra forma: o que você fez com o seu tempo antes de morrer? Se você teve uma ataque do coração, provavelmente estava estressado, trabalhando muito ou preocupado demais com as coisas do cotidiano. E a sua vida? O seu prazer?
Tenho a sensação de que nascemos e ao longo da vida, as várias experiências que experimentamos seriam uma espécie de aprendizado para saber o que seria importante ou não, para quando chegarmos mais adiante, podermos usufruir o que nos é oferecido de melhor neste mundo. Depois, vem a morte, claro. No entanto, ela não apareceria como algo assustador e nem você ficaria tão apegado a esse mundo que morrer seria um mal negócio (apesar de você saber que não existe outra saída para tal momento).
A morte irrita as pessoas. É interessante. Não apenas o que seria uma recusa da "sua" morte, mas também no que se refere a morte do outro. Somos egoístas: como ele foi capaz de morrer e nos deixar? O que vale é sempre a "nossa" perspectiva. Quem sabe não seria a morte não seria o melhor para aquela pessoa. Não falo de suicídio, falo de morte natural. Acontece. Ficamos tristes, claro. Contudo, seria possível pensar na perspectiva do outro, por um só momento?
Muitas pessoas têm medo de morrer. Bobagem. Com medo ou sem, vão morrer do mesmo jeito. A morte aparece como algo no "futuro", o indivíduo sente medo no "presente" em virtude do que ele fez no "passado". A consciência pesada não resolve os erros do passado. A falta de consciência dos próprios atos não significa inocência. A alienação é uma opção.
Alguém disse que você deveria viver o seu momento como se ele fosse o último da sua vida. Está certo. O problema não é a morte. Ela é uma certeza. Não existe debate sobre isso. A questão é a vida. Sim, o que você faz dela, como, para usar outra expressão, você "habita" o seu tempo? Ser feliz. Ser solidário. Não são respostas, mas, para refletir, são duas temáticas interessantes.
O OUTRO
Sêneca refere-se a morte de Cano Júlio, condenado por Caio Calígula, dizendo:
"Tristes estavam os amigos que iam perder tal varão. (...) E ele prometeu que, se descobrisse algo, havia de voltar aos amigos e indicar-lhes qual fosse a condição das almas." (p. 63)
A primeira frase demonstra o que sentimos na perda de alguém. Aqui a questão não é o interesse do outro - se quer ou não, se importa ou não com a morte -, mas sim o que queremos, a utilidade que ele representaria vivo para nós.
A segunda frase trata de uma promessa que não poderia ser cumprida: voltar da morte ao mundo material. Existem várias hipóteses neste sentido. Algumas são religiosas e outras não... Lembro-me de uma fala do personagem George, afirmando que Seinfeld poderia faltar ao velório da avó e ir jogar beisebol, afinal, ela não se importaria, pois diante das infinitas possibilidades que lhe seriam oferecidas no novo ambiente, ela mesma não compareceria ao próprio velório.
Isso pode ser associado à maturidade. Muitos dizem: "ah, se eu soubesse disto antes, quando era jovem." A solução seria os mais velhos transmitir os conhecimentos aos mais jovens. Contudo, isso não funciona.
Primeiro, porque os jovens não querem saber, ou melhor, acham que sabem mais que os velhos
Segundo, quando atingem a maturidade e percebem que tiveram que aprender tudo sozinhos, com experiências terríveis e inevitáveis sofrimentos e fracassos ao longo do caminho, os velhos, por egoísmo ou por tédio, simplesmente não insistem em dar conselhos aos mais jovens. No máximo, ficam com aquele "sorriso Mona Lisa", irônico, como que dizendo: "já vi esse filme antes e esse menino se acha esperto..."
Jovens ou velhos sabem que vivem por um período de tempo, entre o nascimento e a morte. O que podem fazer está neste intervalo. É simples: não existe "replay". Ou você faz ou não. É isso.
MELHOR FASE...
Existe um mito (ou seria verdade?) associado a ideia de que o período da faculdade seria a melhor época na vida de um indivíduo. Eu vivi intensamente a fase da minha graduação: festas, bebidas, ficantes/namoradas (tanto colegas como professoras), militância política, viagens e, claro, estudos (eu era o que se chamava de "rato de biblioteca").
Foi uma ótima fase, mas não posso dizer que foi a melhor, pois não acredito neste tipo de hierarquia na vida. De qualquer maneira, muitos acreditam neste mito e é comum ver junto com os calouros nas salas de um curso universitário, pessoas com mais de quarenta anos, a maioria casada (ou divorciada) e com filhos.
O que leva uma pessoa, depois dos 40 ou 50 anos, a fazer uma graduação? Existem duas possibilidades: pode ser realmente a primeira vez do indivíduo, que antes não teve oportunidade de fazer uma faculdade ou pode estar ser a tal da crise da meia-idade, quando a pessoa não sabe para onde ir ou quer "recuperar o tempo perdido" ou reviver a "melhor fase da sua vida".
Qualquer uma destas opções leva a um risco para os casados: o divórcio, claro. É muito comum, aliás. Apesar de ter sido um período ótimo, eu não faria outra graduação. Já disse antes que não sou do tipo que gostaria de viver novamente os momentos de sua vida.
Sem, necessariamente, sair da crise da meia-idade, existe uma outra maneira de viver a "fase da faculdade": basta ser professor universitário. Quando eu era casado, evitava participar de festas ou ir para bares com alunos. Após o divórcio, mudei de atitude. Voltei a ser solteiro e, apesar de algumas décadas mais velho, comecei a frequentar esses ambientes. O motivo inicial era que, diferente das pessoas da minha idade, gosto de festas com música alta, andar de skate, rock... diversão, basicamente. Não sou do tipo que faz cara fechada o tempo todo e quer passar uma imagem de sério. Dificilmente, com o meio perfil, eu seria feliz, por exemplo, num baile da terceira idade no Sesc.
Pago as minhas contas e os bares ou festas têm idade mínima para entrar - 18 anos -, mas não existe uma idade máxima - algo como: não pode entrar maiores de 30 anos - para ir nesses lugares. Pronto, tenho liberdade de escolha: prefiro ir numa "rave" que num baile de terceira idade. O engraçado é, na portaria, os seguranças insistirem para ver a minha identidade, como fazem com os adolescentes. É irônico, pois quando eu tinha 15 anos e ia em "boites", não me pediam documentos.
Enfim, acredito que as pessoas escolhem "os seus lugares da noite" com base no que gostam e não na idade que possuem. Cada escolha, porém, deveria ser analisada especificamente. Uma menina de 14 anos, por exemplo, que vai numa "rave" com carteira de identidade falsa, quer afirmar e mostrar alguns valores para os outros (inclusive os pais) e para si mesma. O mesmo acontece com um homem de 50 anos que frequenta a mesmo festa. Os motivos são diferentes, obviamente, mas, no essencial, os dois querem, sobretudo, uma coisa só: diversão.
CORDIALIDADE
Foi dito que eu tinha uma voz agressiva. Não era a minha intenção. Isso nem expressava necessariamente o que eu sentia no momento. Foi interessante descobrir esse meu lado, pois quase sempre tentei cordial e educado. No meu lado racional, procuro ser um cavalheiro. Para compensar, claro, nos meus sonhos torno-me um ser agressivo e sem controle. Quanto mais cordial acordado, mais violento fico nos sonhos. Talvez seja um equilíbrio da condição humana.
A história da minha vida lembra um pouco uma frase que ouvi numa série de TV: "I am a pathological people pleaser." Provavelmente eu levei a sério demais o lema cristão de "amar o próximo como a si mesmo." Não faria com uma pessoa algo que não gostasse que acontecesse comigo.
De uma maneira pouco saudável, essa postura leva a ilusão de que todos pensam e agem assim. Aqui começam os problemas. Após um longo tempo, você que é minoria. Pior, que faz aquilo não para agradar o outro e sim porque você acha certo. Não seria uma estratégia de dominação, ao contrário, você acredita emocionalmente que deve ser daquele jeito.
As coisas pioram quando você olha ao seu redor e vê o mundo em que vive: uma sociedade individualista, consumista, imediatista e superficial. Imagina, como naquela música do John Lennon, que as coisas podem melhorar. De fato, pioram. Lembra da frase do jornalista Paulo Francis, quando ele pensava no mundo em que vivia: "eu estou tecnicamente morto." Em outras palavras, esse mundo não me diz respeito... O que fazer se as pessoas não entendem os seus valores e as suas ideias? Deixar para lá, como fazia Nelson Rodrigues, ao dizer que não seria "(...) culpado da burrice humana; aliás 99% da criatura humana é imbecil." Talvez ser cínico e irônico? Não sei. Talvez (sempre talvez) seja por isso que as drogas - no sentido geral do termo, incluindo tanto as legais como as ilegais, tanto as "ideologias" como os placebos -sejam tão necessárias para a sobrevivências das pessoas civilizadas.
CETICISMO
Antonio Gramsci afirmava que não seria possível ser cético. Thomas Bénatouil reconhece o óbvio: "de fato, o ceticismo não é uma escola ou uma tradição intelectual homogênea." (Magazine Littéraire, Janvier 2001, p. 18). Óbvio na medida em que é difícil encontrar alguma doutrina sem divergências, polêmicas e facções. Contudo, não há como negar o auxílio do princípio do ceticismo no modo de pensar do ser humano. Ou seja, questionar permite ao homem ir além dos instintos. Isso é o que diferencia dos outros animais e o coloca diante de duas velhas problemáticas: a própria natureza e a construção da civilização.
O homem, em sociedade, tem que controlar os seus desejos. Isso gera um mal estar no ser humano, pois ele tem que reprimir o seu "instinto natural" para ser percebido como "homem civilizado". Em outras palavras, o que define o ser humano é o conflito "interno" - id, ego e super ego (Freud) - e a problemática "externa" - as suas relações com os outros indivíduos. Ninguém pode ajudá-lo.
Neste ponto de vista, o homem tem que lidar com ele mesmo, com seus problemas e suas dúvidas e não existe resposta fora dele. As respostas, sim no plural, seriam construídas e reconstruídas durante a sua existência. Não é agradável perceber a complexidade do homem na civilização, sobretudo quando ele entende que nada é estável e seguro. Isso pode levá-lo ao ceticismo ou ao niilismo. Ou não. Ele pode "assumir" a vida no que ela é e não no que ela poderia (deveria) ser, isso quer dizer que, ao mesmo tempo, ele abandonaria as ilusões e as fugas cotidianas para lidar com os problemas reais, criados por ele ou não.
PAIXÃO DOENTIA: BOXING HELENA
Kim Basinger pagou uma alta multa por ter assinado contrato e depois não ter aceitado participar das gravações de "Encaixotando Helena" ("Boxing Helena"). A atriz que fez o filme foi Sherilyn Fenn, que havia participado de "Twin Peaks" e de "Two Moon Junction". O filme trata da obsessão de um médico por uma garota bonita e normal. Ele é rejeitado, a sequestra, corta seus braços e pernas e a usa, viva, como um objeto, chegando a "guardá-la" numa caixa.
O perfil do médico está associado aquela paixão doentia e fora de controle que pode ser vivida por algumas pessoas. Esse perfil, na maioria dos casos, está relacionado a alguma patologia grave ou algum trauma vivido na infância. O excesso seria uma forma de preencher um vazio, como a ausência da figura de um pai. Muitos escolhem os seus parceiros na vida adulta, com base nos defeitos e nas qualidades dos pais. Poucos admitem isso, mas basta um pouco de autocrítica e alguma associação poderá ser feita.
"Encaixotando Helena" não fez sucesso. Não foi a toa que a Kim Basinger não quis participar do filme. Trata-se de algo radical, de um sentimento doentio levado as últimas consequências. O fato do doente ser um médico é algo interessante, pois ocorre uma inversão de papéis. Ajuda na construção da história, quando são amputados os braços e as pernas. A beleza da garota leva a problematizar até que ponto haveria culpa na sua sedução. Enfim, uma história que possibilita pensar em várias possibilidades. Os atores não são os melhores e nunca foram ícones de Hollywood. Talvez isso ajuda a explica o descaso quanto ao filme. O exagero da história deve ter assustado muita gente. Talvez isso tenha contribuído também. Em todo caso, o filme incomoda. Não é algo agradável de admitir o que acontece com a personagem. No entanto, aberrações como essa fazem parte da natureza humana. Se encontrar em DVD, vale a pena assistir.
SONHO E REALIDADE
Para os neurocientistas, o sonho seria como um "organizador do cérebro". Para os freudianos, o sonho representa o desejo que não pôde ser realizado. É o lugar do inconsciente.
O sonho é diferente da fantasia, pois nele, assim como na vida, o indivíduo não tem controle do que pode acontecer. Isso o torna mais interessante. Se a vida não é "real", o sonho representaria outra "dimensão", que, assim, valeria a pena ser "vivida".
Bobagem? O que importa são os fatos "reais" na vida de uma pessoa que encerram, necessariamente, com a certeza de sua morte?
Nesta perspectiva, sonho, fantasia e realidade aparecem como três dimensões que teríamos acesso. Nas duas últimas, há uma escolha, na medida em que o tempo que você gasta para fantasiar é o tempo que você gasta para viver. Viver é melhor.
Houve uma época que o "Second Life" fez sucesso. Fiz meu "avatar", mas nunca me empolguei com a ideia. Qual seria a graça de ir num bar virtual? Por favor. Não é algo que deve ser considerado.
Dormir é necessário. O sonho acontece. Ele revela desejos, mas muitos esquecem que ele existe em si, na sua própria dinâmica.
IRRITABILIDADE
O indivíduo lembra de Deus quando está em apuros. Para muitos, a psiquiatria é para loucos e a psicanálise não tem utilidade. Isso ocorre até surgir um problema que não é identificado nos exames médicos. Existe algo errado, o cotidiano da pessoa não é mais o mesmo. Ela não alimenta direito, tem dificuldades para dormir, desinteresse sexual e ainda fica nervosa demais, mais do que o normal, no trabalho. Algumas vezes, aquilo que era insegurança torna-se medo. O convívio social a incomoda. Multidões levam ao sentimento do pânico. Quanto mais grave, maior é a ansiedade. Sente fobia. Sente saudade da sua "normalidade", da sua zona de conforto.
Diante deste quadro, alguns admitem conversar com o psicanalista. A maioria procura uma solução rápida. A ida ao psiquiatria está associada ao remédio "milagroso" que irá tomar e tudo ficará resolvido. E os preconceitos quanto aos pacientes dos psicanalistas e psiquiatras ? Ah, isso nem é considerado mais...
Dizem que o Prozac seria “a pílula da felicidade”. Tal coisa não existe. Os remédios podem amenizar o problema, mas ele não desaparece. Seria como o álcool. Após algumas doses de whisky, a vida fica suportável e até divertida. Mas o efeito passa e o problema ainda está lá. O que fazer?
Primeiro, reconhecer que a dor derrubou preconceitos no que dizia respeito aos psicanalistas e psiquiatras. Foi uma avanço, para quem se considerava um "super homem" ou uma "mulher maravilha", Segundo, é saudável recorrer a terapia, aos remédios e à diversão. Terceiro, admitir que não existe segurança na vida. Nada garante a felicidade. Ela não é plena. Acontece, aliás em momentos inesperados, que devem ser vividos intensamente. Quarto, assumir o problema é ir além da máscara da normalidade, ajuda, inclusive, a perceber que todos estão no mesmo barco.
As pessoas não admitem, mas por trás dos seus carros, joias, celulares e roupas da moda, existem seres fragilizados, inseguros e ansiosos. Acreditam que a "armadura" proporcionada por esses acessórios disfarçam a sua insignificância. Acreditam que enganam os outros. Acreditam que podem fugir delas mesmas. Quando estão no "porto seguro", os problemas insistem em aparecer: falta de apetite, insônia, irritabilidade, entre outros. Aí... bem, basta volta ao primeiro parágrafo deste texto.
...E SE ESSES FOSSEM OS ÚLTIMOS 5 ANOS DE SUA VIDA?
A vida poderia ser interpretada como um aprendizado.
Ao longo dos anos, o indivíduo vive experiências, basicamente "testes de acerto e erro", na infância, na adolescência e na vida adulta. A somatória de tudo seria o que chamam de maturidade.
Em outras palavras, a questão seria como viver os últimos anos antes da morte.
Dizem que na hora da morte, o indivíduo "vê a história da sua vida". Deve ser lenda. O problema, contudo, não seria avaliar "toda" a vida e sim focar nos últimos momentos, dias e anos.
Ou seja, você aprendeu alguma coisa e passou a viver melhor? Se fosse morrer agora e olhasse para os últimos 5 anos de sua vida, o que você veria? O que você fez?
Um terço você gastou com o sono. E o resto?
FREUD & COCAÍNA
Para quem mora na rua, sem família e sem qualquer perspectiva de vida, o "crack" aparece com uma alternativa razoável para encarar o cotidiano. É uma forma de autodestruição, claro, assim como o alcoolismo.
O crack foi criado a partir dos restos da cocaína, para ser mais barato e ser consumido pelas massas populares. É mais destrutivo também. A cocaína é muito cara, é a droga de artistas famosos - Charlie Sheen, antes de agredir a esposa e ser preso, havia consumido cocaína - e dos executivos - esses a utilizam para trabalhar.
Provavelmente, a droga de hoje não é mesma que os índios usavam antes da colonização e nem a que fascinou muitos médicos dos países "desenvolvidos" no século XIX. Em seu artigo "Über Coca", escrito em 1884, Freud escreveu:
"No momento, parece haver nos Estados Unidos indícios de amplo reconhecimento e utilização dos preparativos da coca, enquanto na Europa os médicos mal os conhecem de nome, O fracasso da coca em fixar-se na Europa, fato que, na minha opinião, é imerecido, talvez possa ser atribuído a informes de consequências desfavoráveis resultantes de sua utilização e veiculados pouco depois de sua introdução na Europa; ou à qualidade duvidosa dos preparos, sua relativa escassez e preço elevado decorrente." (p. 78)
Sim, Freud foi um dos entusiasta do uso da cocaína, tanto nele como em seus pacientes. Nesse artigo (em 1884) , ele reconhecia que "a pessoa sente um aumento do autocontrole, maior vigor e capacidade para o trabalho." (p. 75) Talvez por isso ela seja a droga mais utilizada pelos executivos até hoje.
Freud estava correto quanto aos efeitos imediatos da droga. Contudo, a cocaína não apresentava somente características positivas. Imagino que, por isso, deve ter sido proibida na maioria dos países. Deve ser considerado ainda que Freud escreveu outros artigos sobre a droga e que as suas experiências ocorreram, basicamente, no final do século XIX e hoje vivemos no século XXI.
Falar do uso livre de drogas na Holanda, atualmente, é óbvio demais. Nos Estados Unidos - um dos grandes líderes na luta contra as drogas -, a maconha é usada, na Califórnia, como forma de remédio para algumas doenças. De fato, o problema é complexo. Lá tentaram proibir as bebidas alcoólicas e não deu certo. Os efeitos práticos do alcoolismo não são tão diferentes do que acontece com os usuários de drogas. Isso não significa, porém, que tudo deve ser livre.
Em suma, não defendo a liberalização do uso das drogas. O que eu sou contra é a hipocrisia dos executivos e dos políticos, que consomem a droga "em particular" e se apresentam como conservadores e moralistas "em público".
NAMORAR OU NÃO
Depois do divórcio, namorei duas garotas e fiquei com mais algumas. Decidi, recentemente, que não desejo namorar mais.
Como diz Lu Gomes, "a busca pelo amor é exasperante, necessita de muito tempo, cansa e é deprimente." (Playboy, Agosto 2002, p. 132) Escolhi o óbvio: não quero participar de uma festa na qual não fui convidado.
Além de ter namorado bastante e ser divorciado, tenho 50 anos. Ainda de acordo com Lu Gomes, "as mulheres olham para os cinqüentões da mesma forma que nós, homens, olhamos para as freiras: como causas perdidas." (p. 128)
Todos os fatores citados devem ter influenciado na minha decisão. Aliás, não sigo dogmas e quem me conhece sabe que posso mudar de postura a qualquer momento. Mas, por enquanto, prefiro (não necessariamente nessa ordem) "one night stand", cervejas, livros, chás e conversas com gente interessante.
Não tenho compromissos. Não tenho horários. Namorar significa entrar num mundo de regras, jogos, promessas, chantagens, entre outras coisas. Ou seja, representa tudo o que eu não preciso no momento.
Mas existe o prazer, diriam alguns... Certo, mas eu não descartei o sexo, o que eu não quero é o compromisso.
Outros diriam que este tipo de postura é o que todo homem deseja... Talvez. A minha pergunta é: por quê não?
DINHEIRO, FAMA & MORTE
Anna Nicole Smith foi modelo do jeans Guess. Foi Playmate do Ano em 1993. Era famosa, desejada e rica. O que mais uma mulher poderia querer?
Ela era do interior do Texas e tinha um filho. Posou para a Playboy pela primeira vez em 1991. Famosa, começou a namorar o milionário J. Howard Marshal II. Detalhe: ele tinha 89 anos e ela 25. Na época, ela afirmou:
"não estou com Howard por dinheiro. Há três anos ele me implora para casar com ele. Mas eu precisava primeiro deslanchar a minha carreira. Ter o meu próprio dinheiro."
De fato, ela cuidou da carreira e ganhou muito dinheiro. Os dois casaram em 1995. Depois, Howard faleceu. Em seguida, Anna Nicole passou a brigar com a família dele por causa da herança milionária (o que contradizia a antiga fala da modelo). Posteriormente, o filho morreu por causa de uma overdose. Meses depois, ocorreu o falecimento da playmate. A velha pergunta permanecia: o que mais uma mulher poderia querer, além de ser famosa, desejada e rica?
MENTIRAS E ALTERNATIVAS
Houve uma época em que a única forma de amor verdadeira era a que existia entre dois homens. Houve um tempo em que as mulheres eram consideradas um instrumento que levaria ao céu (paraíso).
O que mudou? Primeiro, em cada lugar e em cada período histórico, as pessoas criaram os seus próprios mitos para dar sentido a vida neste planeta. Segundo, os conflitos das classes sociais assim como as lutas religiosas e entre as nações produziram vencedores e derrotados. A versão que ficava, obviamente, entre a dos vencedores. No mundo ocidental, o discurso dominante foi o do cristianismo.
Assim, as mulheres foram colocadas num segundo plano - além de muitas terem sido assassinadas na Idade Média. O homossexualismo tornou-se uma aberração.
A partir de então, o amor verdadeiro era entre um homem e uma mulher e era possível num casamento monogâmico. Essas invenções ganharam a forma de leis. Mais do que isso, passaram a ser aceitas como verdades.
Quando mentiras são contadas e repetidas por séculos, não é fácil questioná-las.
Neste contexto, construir os seus próprios valores, na busca da felicidade agora (e não no futuro), parece ser a única alternativa razoável para um indivíduo que é usado pelos líderes religiosos e políticos como "massa de manobra" ou como "outro tijolo na parede" ("another brick on the wall" by Pink Floyd).
NÃO HÁ DECADÊNCIA
Um velho filósofo já dizia que os homens são sujeitos da história de acordo com as condições objetivas.
Em outras palavras, o indivíduo é sujeito, mas depende das condições que são oferecidas a ele em determinado momento. Oferecidas por quem? Pela natureza, por outras pessoas e assim por diante (afinal, o homem não é o criador dele mesmo).
Dito isso, gostaria de afirmar que se a pessoa faz mais o que deseja e menos o que os outros esperam dela, não existe decadência... Trata-se basicamente de reclamar menos e aproveitar, para ser o sujeito da sua vida, o que as tais "condições objetivas" oferecem. Se o indivíduo é jovem e não tem dinheiro, pode "x". Se é solteiro, pode "y". Se tem dinheiro, pode "z". Claro que nunca pode tudo.
Tiranos que não são derrubados pelo povo, são derrotados por doenças fatais. No final, todos somos perdedores. Somente a morte vence. Entretanto, antes disto, vale divertir e rir com aquilo que temos acesso.
GÍRIAS
Quando era coordenador de um fã-clube do Led Zeppelin - The Rover -, participei, inclusive dando depoimento, de um especial na Difusora FM em 20/07/1985. Na época, eu usava muitas gírias, algo que, atualmente, vejo como problemático.
No início da década de 1970, Jô Soares entrevistou a Gal Costa, que estava numa "fase hippie". Em uma entrevista com uma das principais cantoras brasileiras, não há como disfarçar o constrangimento ao ouvir as gírias do período.
Ver e ouvir uma senhora como a Hebe Camargo falando que "a SKY está bombando" deveria servir de exemplo no que diz respeito ao uso inadequado das gírias.
As cantadas nas paqueras refletem o vocabulário da época. Hoje com 69 anos, Roberto Carlos, na Jovem Guarda, costumava dizer que era "uma brasa", visando seduzir os "brotinhos" do período. Esses termos soam como piadas atualmente.
Os jovens sempre negam a geração dos pais, criando as suas próprias gírias. Esquecem que, posteriormente, os seus termos serão tratados com ironia pelos mais novos.
NAMOROS, FILHOS E FILHAS
Uma fez uma policial me disse que gostaria de "arrebentar" uma garota que havia sido presa sob a acusação de pedofilia. A garota e o marido cometiam abusos contra a filha. Os dois foram condenados.
A indignação da policial está a associada à revolta de uma violência contra uma criança, que é feita na própria família. Como uma criança pode se defender de uma violência sexual cometida pelos seus pais? São dois problemas: um, o fato de ser criança e, o outro, a relação dela com os pais deveria ser baseada no amor e na confiança. Mais do que uma violência física, o que já é extremamente grave, existe um confusão de valores, que resulta em um trauma que acompanhará a vítima por toda a vida.
Não concordo com a argumentação de que, numa situação como essa, os pais seriam "doentes". Trata-se de um discurso perigoso que quase coloca a vítima - uma criança - como "sedutora" de dois adultos "fragilizados". A realidade não é essa, tanto que quando são denunciados - sim, os "fragilizados" não confessam ou tentam buscar ajuda antes da prisão... -, esses indivíduos são corretamente condenados.
Existe um descuido sobretudo por parte da mãe quanto aos cuidados dos filhos e das filhas.
Existem mães que concorrem com as filhas pela atenção dos mesmos rapazes. Existem casos que a mãe coloca dentro de casa, como padrasto, um rapaz da mesma idade ou mais jovem que a filha.
Essas situações não são ilegais e nem querem dizer que resultarão em problemas graves.
Contudo, principalmente no que diz respeito aos filhos menores de 18 anos, deve existir um cuidado maior quando for o caso de levar um namorado ou uma namorada para dentro da própria casa. A madrasta e o pai que foram condenados por jogar uma criança de um prédio em São Paulo podem servir de exemplo para esse tipo de situação.
SOLTEIROS E CASADOS
Quem nunca se deparou, num encontro de amigos, com todos participando das conversas, com um casal "fechado em si mesmo", com "risinhos" ou "caras fechadas" que seriam compreensíveis somente para os dois? Desagradável ? Claro. Daí, surgiu uma expressão em inglês: "get a room" ... Sim, procurem um quarto ou fiquem em casa, na medida em que não desejam participar das atividades promovidas pelo grupo.
Namorar é ótimo... para quem namora ! Presenciar cenas amorosas em bares é meio embaraçoso, mesmo quando são pessoas amigas.
Um casal tende a criar um "universo próprio", com regras e hábitos que os outros desconhecem. É comum ocorrer um distanciamento dos amigos quando alguém arruma um (a) namorado (a). Por outro lado, os amigos podem boicotar o namoro. Parece aquele velho modelo de partida de futebol: casados contra solteiros.
A verdade é que por mais que exista amor, a vida cotidiana de um casal termina quase sempre em tédio. Ninguém nunca viu um filme sobre um casal feliz e conformado.
A aventura está do lado dos solteiros. Aqui, tudo está em aberto e tudo é possível. Essa liberdade é o que mais excita.
Na prática, porém, pouca coisa acontece. A expectativa em relação a uma festa, por exemplo, costuma ser melhor do que o acontecimento. É comum as mulheres passarem semanas pensando na escolha da roupa, dos sapatos, dos acessórios e da maquiagem para um determinado evento. A festa em si, quase sempre, acaba não sendo grande coisa.
Em resumo, trata-se de uma escolha: ser solteiro ou viver como casal. Existem vantagens e desvantagens nos dois estilos. A escolha depende também do ambiente social, ou seja, como dizia, em tom de brincadeira, uma amiga: "eu estou solteira por opção... dos outros!"
VOCÊ E O OUTRO
Analisar sinceramente o outro é algo constrangedor. Psiquiatras e psicoterapeutas devem saber fugir da armadilha, na medida em que dependem financeiramente dos pacientes para sobreviver.
Penso em duas cenas. Na primeira, no filme "O Silêncio dos Inocentes", Dr. Lecter, irritado com o fato de o F.B.I. ter enviado uma estagiária para conversar com ele, simplesmente arrasa a moça a partir da observação das roupas e do comportamento dela.
Na segunda cena, no primeiro episódio de "Californication", Hank, irritado com uma mulher que os amigos convidaram para o restaurante, sem o seu consentimento, também a analisa sinceramente, o que a faz abandonar o lugar, enfurecida.
Sempre digo que não quero saber o que o outro pensa de mim. No caso das mulheres, não adianta avisá-las, pois elas falarão o que acham, de qualquer maneira...
Da minha parte, evito falar o que realmente penso de alguém. Portanto, tento ser educado. Mesmo quando sou provocado, evito tal situação. Como dizia uma personagem na televisão: "as palavras podem machucar".
De fato, evito até prestar muita atenção em alguém. Não me interessa. Na época que dava aulas, costumava dizer aos meus alunos: "se alguém quiser a minha atenção, vai ter e isso não é necessariamente uma notícia boa".
Este descuido causa problemas. Eu admito. Mas prefiro assim. Algumas pessoas, principalmente aquelas que se acham superiores, são óbvias demais e muito traumatizadas para despertar o meu interesse. Prefiro não me envolver com elas, porque também, como qualquer indivíduo, tenho um lado irônico, para não dizer agressivo, que é melhor não ser despertado.
CANTADAS
É comum ouvir - até em comercial na televisão - que homem tem que ter "pegada". O que significa isso? Precisa ter personalidade e agir para realizar os seus objetivos. Na paquera, quer dizer que só olhar não basta, deve ir lá e conversar com a garota.
Óbvio? Nem tanto. Se estão interessados, por que os homens não vão conversar diretamente com as mulheres? O principal motivo, claro, é o medo de rejeição. Mais do que isso, o modo de ser rejeitado pode ser tão embaraçoso que comprometeria muito a sua reputação.
Se a mulher pode pegar fama de ser "fácil" demais, o homem pode ficar conhecido por não ter critérios, por não ser seletivo, ou seja, ele ficaria com qualquer uma - o que iria contra ao desejo da garota de se sentir especial, de ser "a" escolhida.
Se a "abordagem" está decidida, outro problema seria o que conversar com a mulher. O início, então, pode ser um desastre, sobretudo se for utilizada a clássica pergunta "você vem sempre aqui?" Pode piorar, se o pretendente afirmar que foi "amor a primeira vista". Ninguém "ama" no primeiro encontro e, muito menos, na primeira conversa. Outro aspecto negativo seria o fato dele estar na segunda ou terceira "investida", e as garotas já o viram "cantando" e sendo rejeitado por outras meninas.
Várias rejeições numa mesma noite pode levar ao desespero e as consequências seriam o excesso de bebidas alcoólicas e as brigas nos bares e festas. Muitos homens acreditam que eles precisam "canalizar" aquela energia, se não for com as mulheres, outro meio deveria ser encontrado - aqui uma opção comum é sair em alta velocidade no carro ou apostar corridas com os amigos.
E pensar que tudo começou por causa de uma rejeição... Claro que o homem não é vítima e nem a mulher seria a principal responsável pelos acidentes de trânsito ou pela violência na noite das cidades brasileiras. Entretanto, a rejeição leva a uma reação, que raramente é contra a mulher que esnobou o rapaz. A reação dependerá do grau de rejeição, ou em outras palavras, de como foi a humilhação sofrida pelo homem. Dependerá ainda da personalidade do rapaz. Se ele souber o que é e o que quer, provavelmente entenderá que a garota tem o direito de aceitar ou não uma cantada.
NAMORO E IDADE
Eu sou divorciado e, como a maioria dos homens, gosto de namorar mulheres jovens. Não me envolvo com menores de 18 anos, não apenas por ser ilegal, mas também pois acredito que devem existir limites. Não sou conversador, mas não sei se serei como Hugh Hefner, que quando completou 85 anos [em 2011], afirmou:
"se você tem uma boa saúde, a idade é apenas um número. Sou coerente, quando eu tinha 20 anos, saía com mulheres de 20. Hoje tenho 85 e continuo saindo com mulheres de 20."
Bruce Willis apresentou uma argumentação interessante para justificar a escolha de companhias mais jovens:
"eu não dou desculpas sobre com quem eu saio ou não. Eu fui repreendido por ficar com garotas de 26 anos. minha sensação é de que quando você tem esta idade, você tem o direito de escolher com quem quer sair. Se eu agisse como velho, elas não escolheriam ficar comigo."
Jerry Seinfeld, seguindo esta linha de pensamento, uma vez afirmou:
"Então, quando eu gosto de alguém, eu não me importo com sua raça, credo ou origem nacional. Se eu gostar dela, eu não me importo. Eu não discrimino. Se ela tem 18, se ela é inteligente, tudo bem."
Pessoalmente, quando tinha 20 anos, namorei mulheres mais velhas. Depois, ocorreu o contrário. De fato, não acredito que a idade seja o principal critério para definir se duas pessoas devem ficar juntas ou não.
VIRGENS E HETEROSSEXUAIS
Nunca gostei destas estrelas produzidas para as crianças e os adolescentes. Sempre diziam que elas eram virgens, como no início das carreiras de Angélica e Britney Spears. Quando a Xuxa escolheu esse caminho, não era mias virgem, havia namorado o Pelé, posado nua e aparecia no filme "Amor Estranho Amor" seduzindo um menino de 12 anos. Depois ele tentou negar o passado, mas não dava.
A Christina Aguilera seria uma destas estrelas. No entanto, gostei de vê-la participando do filme dos Rolling Stones. Mostrou personalidade. Depois surgiram notícias que ela estava bebendo demais. Não virei fã, mas a respeitei mais, pois mostrava fragilidade e erros que qualquer pessoa comete. Algo parecido aconteceu quando a Britney Spears raspou a cabeça. Achei fantástica aquela cena! Na época, ela queria mostrar que era um ser humano e não só um produto da indústria cultural.
Tenho mais simpatia pelas celebridades que não escondem os defeitos, como Lindsey Lojan, Paris Hilton ou Charles Sheen.
Além de enfatizar a virgindade, outro fator que acho constrangedor é produzir a imagem de um ídolo adolescente como heterossexual. Foram os casos de George Michael do Wham! e de Ricky Martin do Menudo. Posteriormente, os dois assumiriam publicamente a homossexualidade.
Acredito que os produtores das grandes estrelas internacionais subestimam a inteligência do público, afinal, se uma pessoa gosta de um artista, pouca importa o fato dele ser virgem ou heterossexual. Em resumo, como dizem por aí: "deixa o povo ser feliz".
VOYEUR
Atualmente, fico meio constrangido quando aparecem cenas de sexo na televisão. Acredito que, assim como nos filmes, a maioria não seria necessária. Tais cenas funcionam como a garota de biquíni nas propagandas de cerveja, de carro ou qualquer outro produto.
Quando vejo este tipo de cena, penso logo na iluminação, na fotografia, na performance dos atores, enfim, como teria sido possível produzir aquilo.
Existem cenas de sexo que são necessárias no contexto da história. Mas elas podem desviar a atenção do indivíduo. Não pretendo discutir a qualidade, mas quero citar dois filmes: "Império dos Sentidos" e "Calígula". Um trata dos excessos de uma paixão, o outro mostra o poder de um tirano. No entanto, quando estes filmes passaram nos cinemas, as pessoas comentavam somente as cenas de sexo (que deveriam ser secundárias para compreender as histórias).
Não é uma afirmação nova, mas, no mundo ocidental, sexo nunca é só sexo, ou seja, é negócio, é chantagem, serve para vender produtos, entre outras coisas. É mais um discurso de controle, para citar Foucault, do que algo real. Aquele velho instinto animal tornou-se uma produção na qual os atores representam um prazer - mesmo em cenas de sexo explícito - e o indivíduo tenta se colocar na posição de "voyeur".
FESTA ESTRANHA COM GENTE ESQUISITA...
A experiência do "dark room" é utilizada em várias festas particulares em chácaras na região do Triângulo. Não é uma ideia nova.
Existem notícias da existência de "dark room", desde a década de 1970, em metrópoles na Europa.
Afinal, o que seria o "dark room"? Trata-se de uma sala escura, como diz o nome, onde quem quiser faz o que quiser com outras pessoas, sem saber quem é um e quem é o outro.
O "dark room" é comum em boites gays. Apesar disto, relatos indicam que trata-se de um espaço discriminado pelos homossexuais, que acham que seria um lugar para os desesperados.
Por outro lado, a existência deste espaço revelaria algo associado ao homossexualismo masculino: o que importaria seria apenas o sexo em si, sem o envolvimento emocional das pessoas.
Entretanto, as festas particulares em chácaras demonstram que isso não é totalmente verdade, ou seja, ter relações sexuais sem saber a identidade da pessoa parece algo natural também entre os heterossexuais. No filme "Eyes Wide Shut" (De Olhos Bem Fechados), as máscaras protegem as identidades das pessoas.
A ideia do "dark room" não está relacionada necessariamente às orgias. Assim como o homossexualismo masculino era incentivado na Grécia Antiga, as orgias não eram algo novo na época do Império Romano. Neste sentido, o que acontece atualmente poderia ser interpretado como uma insatisfação quanto ao modelo de casamento monogâmico aceito como normal na sociedade burguesa.
PRECISA MUDAR?
Quer mudar? Por quê? Primeiro, deve admitir que existe algo errado. Ninguém muda se está tudo bem. Em segundo lugar, deve encontrar o erro, aquilo que incomoda. Na maioria dos casos, trata-se da ponto do iceberg, aquilo que é o óbvio. A partir daí, um terceiro passo seria descobrir o que estaria oculto. Existe algo como uma pedra no sapato. As pessoas não percebem. Aparentemente, tudo está normal, mas o indivíduo que calça o sapato sabe que não é bem assim. Descobrir o sentido do incômodo significa mexer com o passado. Afinal, como o indivíduo chegou até ali sem perceber "a pedra no sapato"?
Aqui está o principal obstáculo: a maioria tem medo do próprio passado. Esquecer tem sido a solução (ver "Psicopatologia da Vida Cotidiana" de Freud). Na verdade, esquecer, fingir, omitir, dissimular e mentir (para si mesmo ou para os outros) só agrava a situação. Romper com o velho hábito é um problema. Mas se o incômodo já é sentido, não há outro caminho: é necessário analisar por que a pessoa, por exemplo, não tem apetite, não consegue dormir ou não tem uma vida sexual saudável. Alguns fazem vários exames e nada. A razão é simples: a crise emocional não é identificada em exames.
Sim, há um crise e ela é invisível. Admitir é um começo. Não reconhecer o fato é agravá-lo, ou seja, o resultado pode ser um ataque do coração ou um derrame cerebral. Com o passar dos anos, o aumento das frustrações e das cobranças pode levar a pessoa a tal resultado. Muitos estão, sem perceber, a beira do abismo. O corpo dá sinais - insônia, etc -, mas o indivíduo recusa vê-los. O preço da alienação pode ser alto demais. Pense. A escolha é sua.
SONHOS
Os sonhos representam a arena de conflito entre os saberes consciente e inconsciente. Em suma, os sonhos oferecem dicas. Elas podem ser certas ou erradas. Podem ser aceitas ou não pelo indivíduo. Mas são instrumentos que ajudam a melhorar a vida. Para isso, claro, é necessário lembrar do conteúdo dos sonhos.
O ser humano passa um terço da vida dormindo. Como desprezar esse tempo? Como não "viver" esse tempo? Para muitos, a vida parece ser mais perigosa nos sonhos, na medida em que não existe a censura do superego. Bobagem. Se o sonho representa o reino da liberdade, deve mais é ser aproveitado e entendido em sua própria dimensão, afinal, sonho não é realidade.
É razoável gastar o tempo com o sonho e a realidade.
Sonho e realidade são processos essenciais ao desenvolvimento do ser humano. O problemático é a fantasia. Trocar a fantasia pela realidade é complicado. É uma escolha arriscada, que normalmente termina em arrependimento de não ter feito algo "naquele tempo". Em outras palavras, a alienação nunca é a resposta. Cedo ou tarde, o castelo de cartas desaba.
HOMENS ABANDONADOS
As mulheres não precisam dos homens. Em alguns momentos, talvez. Mas o fato é que nós, homens, somos acessórios. Felizmente, algumas demoram a perceber isso, principalmente as casadas. No entanto, chega uma hora que desaba...
Já comentei que os meus amigos da adolescência, agora 50tões, estão sendo abandonados pelas esposas. Não é um caso ou outro. É a maioria!
Todos ficam perdidos com a nova situação de "solteiro". É irônico, pois antes culpavam o casamento pela própria infelicidade. Agora, livres, não sabem o que fazer. Muitos recusam a humilhação de tentar reatar o casamento. Estão certos. Seria uma humilhação desnecessária.
Poucos 50tões admitem a crise. Evitam falar no assunto. E bebem. Bebem muito. É uma forma razoável de esquecer. É temporária. Existe a ressaca. Mas para quem recusa a autocrítica, é uma alternativa interessante.
Faz um certo tempo (anos, na verdade) que sou divorciado. Passei por essa crise, que não representa grande coisa diante das OUTRAS crises que virão. Sim, depois do cinqüenta, a tendência é piorar... Começa pelo corpo e todo o resto acompanha a decadência em direção a morte. Dramático? Nada. É o processo da vida. Afinal, Viagra, botox e cirurgias plásticas não resolvem as emoções que precisamos para lidar com a última fase da existência.
POR QUE UMA PESSOA TORNA-SE AMANTE?
A resposta depende do sexo. Para o homem, é cômodo, não é visto como algo negativo - basta ver o exemplo do personagem Charlie Harper. A mulher, normalmente, é enganada no início, não imagina que o novo namorado já tenha compromisso sério. Não há como negar, entretanto, que a principal vítima, nos dois casos, é o (a) parceiro (a) oficial.
Os amantes possuem expectativas diferentes. Enquanto o homem quer diversão, a mulher quer deixar a condição de amante o mais rápido possível. Ela é iludida com presentes e com a "clássica promessa" de que ele está com a esposa só por causa dos filhos.
Os homens não deseja "oficializar" a relação. Desconfia que, como diz uma antiga música, "se ela faz com ele, vai fazer comigo, e vai fazer exatamente igual, e eu não quero ser manchete de jornal"...
Tradicionalmente, é aceito que o homem tenha amantes. No livro Kama Sutra, por exemplo, existe um capítulo dedicado exclusivamente ao assunto.
Os hábitos mudaram, mas a visão machista ainda existe e é defendida tanto por parte dos homens como das mulheres. O homem enganado é ridicularizado e o enganador é percebido como esperto. As mulheres querem homens "fortes" e não vítimas. É comum ver a argumentação de que "não deu assistência, perdeu espaço para a concorrência". Tudo isso, porém, são mitos criados para justificar os atos daqueles que traem.
A atitude de ser amante não é aceita como "natural" na sociedade. Parece que, no final, o (a) amante seria tão enganado (a) como o (a) companheiro (a) oficial.
Em suma, os motivos dos três envolvidos - o casal e o amante - podem ser diferentes, mas o fato é que, na maioria dos casos, trata-se de um jogo baseado na mentira e na omissão.
SER REJEITADO
Paquerar é lidar com a possibilidade de ser rejeitado. Todo mundo passa a imagem de que a conquista seria um processo fácil, mas não é... De fato, paquerar e ser rejeitado são quase sinônimos. Existe uma lenda que afirma que em dez tentativas, o indivíduo acertaria uma. Isso para os otimistas, claro.
As mulheres são educadas para dizer "não". Rejeitar mais do que um jogo, parece ser um teste de sobrevivência para elas. São especialistas. Algumas mais, outras menos.
São várias as técnicas utilizadas. A primeira - e mais importante - é o olhar. A maneira que ela olha o rapaz pode levá-lo a desistir na hora. Em casos extremos, ele pode abandonar, desiludido, a festa imediatamente.
Outra tática deixar o homem falando sozinho ou, no caso das educadas, pedir licença e desaparecer no meio da multidão. É comum, no meio da conversa, ela ficar olhando o relógio ou bocejar. A amiga é uma aliada neste momento, pois aparece do nada e diz que alguém quer falar com ela. Isso pode ser feito com o celular.
Ser rejeitado é ser humilhado. Não dá para negar. A sensação é péssima. O sentimento de fracasso é claro. Talvez por isso, antes de começar as investidas, muitas rapazes bebem (muito). Dizem que é para "dar coragem". Sim, pois parece que vão para um batalha e a chance de derrota é considerável.
Alguns preferem enfrentar uma briga do que uma rejeição. Aliás, uma coisa pode levar a outra. É comum depois de várias rejeições e "não pegar nada na noite", os indivíduos passem a mexer com as namoradas dos outros, visando não a conquista, mas a briga. Querem desabafar. Querem aliviar aquela sensação de derrota. Se não podem provar a masculinidade na conquista, a conquistarão na luta com o outro. Patético.
Os mais novos são mais ousados na paquera. São ingênuos. Pela idade, foram rejeitados poucas vezes (se comparados com os mais velhos). Acreditam que o carro, o anabolizante, a camiseta polo e o cabelo da moda garantirão a conquista. Além do mais, eles são "jovens" e entre eles e os "velhos", naturalmente elas ficariam com eles. Por isso, quando perdem para um "velho" dizem logo que aquele senhor ficou com a garota pois tem dinheiro - se recusam a admitir a derrota e a possibilidade de que, para a garota, uma pessoa culta e educada pode ser mais interessante do que um menino inexperiente e convencido.
Os mais velhos não investem diretamente na paquera. Não querem se expor. Reconhecem que não é fácil concorrer, neste nível (que a aparência é fundamental), com os mais jovens. Por tudo isso, tendem a ser discretos. Existem exceções, aqueles que acreditam que ainda têm 20 anos ou que usando correntes de ouro e dando sinais de riqueza garantiram a sedução das mulheres mais jovens. Pode funcionar. Mas no geral, essas exceções tornam-se motivo de piada na vida noturna.
Em suma, paquerar faz parte do jogo do conquista. O difícil é entender os sinais deste jogo, quando as palavras têm sentido ambíguo - um "não" pode ser "talvez" ou "sim" ou realmente "não" - e os olhares, os toques e os gestos dizem muito sem a pessoa deixar explícito o que realmente deseja. É um jogo de paciência, de acerto e erro. É um jogo dissimulado. É, sobretudo, um jogo de poder. Assim, ser rejeitado representa o outro lado do poder, é sinônimo de derrota, de dor e de humilhação. Faz parte do jogo, mas não é agradável.
AMOR & MORTE
Até a década de 1970, no Brasil, um marido tentava usar o "amor" para justificar o assassinato da esposa. Em muitos casos, o que ocorria era excesso de ciúmes. Predominava ainda uma mentalidade machista.
Em 2011, em relação aos crimes passionais, 10 mulheres são assassinadas por dia no país, sendo 25% por motivos banais, ou seja, "os crimes não foram planejados." (Bom Dia Brasil, 22/06/2011).
O que acontece? Primeiro, aquela mentalidade machista não acabou. Novos direitos e as delegacias das mulheres não conseguem deter a fúria de namorados e maridos rejeitados. Segundo, as mulheres, sobretudo as mais jovens, trabalham e participam mais da vida noturna. Isso possibilita o contato com outros indivíduos, o que pode levá-las a questionar os seus relacionamentos. É comum, por exemplo, a oposição de maridos quanto às iniciativas das esposas no que diz respeito à realização de um curso superior. Trata-se simplesmente do "medo da concorrência".
O problema, basicamente, seria: como prever tal situação? Como saber que um pretendente é um assassino em potencial? É raro, mas os homens podem ser vítimas também (o filme "Atração Fatal" mostrou os riscos).
O indivíduo revela traços da sua personalidade através de sinais, como irritação exagerada e mesmo gritos simplesmente porque a outra pessoa não concordou com o seu ponto de pista em relação a um tema corriqueiro, como futebol, por exemplo. A questão é que, na paquera, todos tendem a esconder os defeitos e a não querer perceber os riscos que podem representar o futuro relacionamento. A consequência é que, depois de meses de namoro, pode chegar uma hora que o término da relação seja algo problemático.
Por que adiar a decisão? Por que não recusar antes o que será um desgaste no futuro? O motivo está em priorizar o presente, ou seja, muitos estão dispostos a quase tudo para não permanecerem sozinhos. O medo da solidão faz com que a pessoa acredite que poderá mudar o outro. Ela se recusa a ver os defeitos do outro. Se for alertada por um amigo, é mais fácil ele perder a amizade desde que ela continue o relacionamento.
Portanto, cada um é responsável pelo que escolhe. Existem vários fatores que devem ser considerados - sedução, mentira, manipulação, entre outros -, mas, no final, quem decide é a pessoa e será ela que viverá as consequências, algumas vezes desastrosas, desta escolha. Nesta perspectiva, a vítima pode não deixar de ser vítima, mas coube a ela alguma responsabilidade por ter entrado naquela situação.
COMO CONTROLAR O DESEJO?
O que leva um indivíduo a fazer algo?
1. Necessidade: a sobrevivência, conseguir alimentação e moradia, por exemplo.
2. Motivação: a criação de uma fantasia, algo como adquirir um carro novo representaria maior sucesso com as mulheres.
3. Medo: o exemplo óbvio é o medo da morte, o que leva a pessoa a deixar de fumar, fazer exercícios físicos e ter uma alimentação saudável.
Fazer algo é uma ação. Isso, num ambiente social, leva a uma reação. Viver em sociedade é incomodar o outro. Se a pessoa está feliz, incomoda. Se está deprimida, incomoda. Quem? Familiares, amigos, colegas de trabalho e assim por diante. Quem é incomodado reage. O resultado é o conflito. Disto, criamos os fatos, que podem ser bons para uns e ruins para outros.
Tudo isso ocorre num contexto "externo".
Internamente, cada pessoa enfrenta os seus próprios conflitos. Para ser breve, citando Freud, trata-se do id, ego e superego. Os conflitos que ocorrem no presente são influenciados pelos acontecimentos do passado, sobretudo da infância (Freud). Outras teorias afirmam que esses acontecimentos viriam de mais longe, de vidas passadas. Em suma, tudo ficaria na memória do indivíduo, mesmo que de forma inconsciente, e afetaria sempre as suas ações. Além disto, a pessoa nasce com uma carga genética, que gera nela uma predisposição, por exemplo, para doenças. Essa predisposição influencia os seus atos.
Este conjunto de características ocorre em um indivíduo. Ele é o resumo desta complexidade. Na medida em que ele entra em contato com o outro, na verdade, ele enfrenta outro conjunto de características complexas e contraditórias. Disto, resulta, como afirmado anteriormente, os fatos. Não há como prever as consequências dos contatos sociais.
Alguns acreditam que podem controlar os outros e os fatos. É uma ilusão, afinal, eles não conseguem controlar nem os seus desejos inconscientes e nem as suas contradições "internas".
PERDAS E DANOS
Algumas pessoas acham que me conhecem, mas isso não é verdade. Criaram uma imagem e acreditam nela.
Outras pessoas acreditam que podem me controlar. A ingenuidade é algo interessante. Normalmente, elas são garotas que se envolveram comigo em vários tipos de relações (namoros, "ficantes" e amizades). No final, surpresas, muitas dizem: "eu não esperava isso de você"... como se eu fosse obrigado a corresponder a uma imagem (minha) que nem conhecia...
De fato, eu não sou o que os outros esperam e faço coisas que, na cabeça deles, não teriam a ver comigo. Como sabem? Na verdade, nem eu sei o que farei. Conheço bem o meu passado e antes de fazer algo, avalio os riscos e as consequências.
Isso não significa, porém, que eu não faça besteira. Faço. E muitas. Mas penso antes do fato. Depois que decidi fazer, a coisa acontece e, óbvio, fora do meu controle. Daí, muitos acreditam que apenas a sorte pode ajudar... ou um anjo da guarda... Brinco que se eu tiver um anjo da guarda, em alguns momentos, devo dar muito trabalho para ele.
Os maiores problemas que tive estiveram relacionados à paixão, aquele sentimento intenso que faz com que você pense 24 horas numa pessoa.
HANK E A CRISE DA MEIA IDADE
"Californication" é um termo criado pelo grupo Red Hot Chili Peppers. É também o nome de uma série, estrelada por David Duchovny - que, antes, trabalhou em "X-File". O seu personagem chama-se Hank e é um escritor em crise. Nada original... Trata-se de um modelo "clássico": não consegue escrever, fuma muito, bebe, tem casos com muitas garotas, é divorciado e tem uma filha adolescente. Todos os elementos juntos poderiam contribuir para uma boa história.
Gosto do "piloto" da série. A cena inicial do sonho erótico numa igreja ao som dos Rolling Stones - "you can't get always what you want" - é muito interessante e mostra as contradições que o personagem deve enfrentar. Quando ele acorda, outro conflito: um velho escritor tendo uma caso com uma garota bem mais nova, sendo capaz de levá-la ao orgasmo, coisa que o seu jovem marido não consegue. A cena "real" poderia estar na categoria dos sonhos do personagem, na medida em que é, na verdade, simplesmente uma fantasia da maioria dos homens mais velhos.
Ter caso com mulher casada pode tornar-se um problema, mas existe algo pior para o homem: envolver-se sexualmente com uma garota com menos de 18 anos. É o que Hank faz em seguida. Para piorar, a menina é filha do noivo de sua esposa.
Aparece ainda o conflito de um livro que virou filme. Os títulos do livro - "God Hate Us All" (aqui existe outra associação ao rock n' roll, agora com a banda Slayer) - e do filme - "A Crazy Thing Called Love" (nome de uma música do Queen...) - mostram em si uma contradição entre "ódio" e "amor", o que seria confirmado por Hank.
Álcool, topless, cigarros, velho escritor em crise, barba mal feita, dirigindo uma carro conversível na Califórnia... Existem ainda referências ao rock, sem aparecer de maneira explícita no roteiro. Uma festa mostrada no primeiro episódio, regada à sexo - inclusive com cena de "menage à trois" - bebidas e drogas, é tratada como um universo frequentado pela filha. Com o aviso da mãe, o pai - aqui fazendo um papel de "conservador" - a retira da festa, utilizando a "força" e não a "conversa". Parece existir um conflito com uma cena anterior, quando Hank aceita, ironicamente, o que poderia ser a homossexualidade da filha.
Todas problemáticas estão no primeiro episódio. Nada mal. Infelizmente, o ritmo, nos capítulos seguintes, não foi mantido. Em suma, é uma série que vale por seu "piloto". Ou seja, nem sempre boas ideias apresentam resultados satisfatórios. Acontece.
AS "COUGARS" E OS JOVENS
As "cougars" são senhoras divorciadas que gostam de ter relações sexuais com garotos de 20 anos. Antes isso era considerado um "privilégio" dos homens. Aliás, o eterno modelo masculino continua a ser Hugh Hefner, dono da Playboy.
Tanto as "cougars" como os senhores da terceira idade visam usar os jovens como objetos sexuais. Para isso, evitam utilizar dinheiro, o que daria um caráter muito comercial à relação. Preferem dar presentes caros para os seus amantes.
Depois de um tempo, procuram novos "objetos", descartando os antigos como "produtos supérfluos". Não tratam os jovens como seres humanos. As "cougars" e seus similares envelhecem a cada ano, mas isso não acontece com o seu alvo que é sempre o mesmo: jovens com 20 e poucos anos.
A relação sexual mesmo neste nível acaba tendo algum envolvimento emocional. Aqui está o perigo. Apaixonar-se por uma pessoa 40 ou 50 anos mais nova significa perder o controle do jogo. É um risco.
Por parte dos jovens, existe a ilusão de que eles controlam a situação e sairão ricos dos envolvimentos amorosos. Criam hábitos caros. Frequentam os melhores lugares. Tomam as melhores bebidas e começam a consumir drogas caras, como a cocaína. Quando são "descartados", são considerados velhos (mesmo antes dos 30 anos) e as marcas das drogas os tornam menos atraentes. Trata-se do início da decadência para eles. Os velhos e ricos, neste caso, simplesmente procuram novas "vítimas".
Dizem que as "cougars" desejam recuperar a juventude. Para isso, fazem inúmeras plásticas, utilizando recursos como silicone e botox. Com o envolvimento sexual, procuram ser desejadas novamente, já que os homens da mesma idade estão interessados em garotinhas.
Apesar da maioria perceber isso ainda como algo escandaloso, nada pode ser feito. Não existe envolvimento com menores de 18 anos (aí sim seria crime). Teoricamente, são dois adultos numa relação em igualdade de condições. A diferença de idade - seja de 40, 50 anos ou mais - seria apenas um detalhe, afinal, o que importa é "o amor".
INDEPENDÊNCIA E PODER DE SEDUÇÃO
Paquerar é, na maioria dos casos, ser rejeitado. Os homens raramente entendem os sinais das mulheres. Acreditam que basta vestir uma camiseta polo, passar gel no cabelo, seguindo a moda de alguma dupla sertaneja, e falar o óbvio que a garota será sua. Trata-se de uma ilusão, claro.
De acordo com uma entrevista antiga do Keith Richards, os rapazes vão para as casas noturnas em busca de: garotas ou brigas. Na paquera, "atacam" quase todas que estão no lugar. O objetivo, neste caso, é conseguir uma parceira para um relação sexual no fim da noite. Isso quase nunca acontece. No máximo, conseguem beijos. Prometem "amor eterno", mas, na prática, não querem namoro. Querem "one night stand".
Por parte das mulheres, algumas possuem o chamado poder de sedução. Com charme e beleza, dominam os interessados e eles, quase como escravos, realizem o que elas mandam. Existe saída para "essa dependência"?
Irene Ravache, uma vez, deu uma dica interessante:
"Seria muito bom que as pessoas se masturbassem mais, sem o lado pecaminoso e sujo. Olha, quem inventou, inventou muito bem. O teu corpo, como fonte de prazer, é uma coisa incrível. Quando as pessoas começarem a sentir que não precisam da outra para sentir prazer, então, o relacionamento será mais fácil. Sem dependência afetiva ou mesmo material, sem dependência do poder. Você terá ao seu lado alguém apenas para embelezar sua vida." (Playboy, abril 1983, p. 39)
O depoimento trata de maneira sincera um tabu: a masturbação. Sim, poucos admitem a prática e a maioria a condena, mas é uma hipocrisia geral. Ravache afirma que trata-se de algo natural e que pode, inclusive, melhorar a paquera e a escolha de uma companhia adequada para o namoro. Ela está certa.
POR QUE AS PESSOAS SENTEM PENA DOS OUTROS?
O psicopata possui uma tatuagem de uma dragão nas costas. A marca na boca está associada aos abusos sofridos na na infância. A identificação com o "dragão vermelho" é a fórmula encontrada por ele para tentar superar o trauma. Essa história encontra-se em "Red Dragon".
No filme, diante da reclamação de uma amiga cega - de que ela odiava quando as pessoas tinham pena dela -, ele afirma: "I have no pity." Ele não sente pena e isso, na história, não significaria que ele a mataria. Ocorre o contrário, ela a protege. Então, o que quer dizer "eu não tenho pena"? Ou melhor, por que as pessoas sentem pena dos outros?
Primeiro, focar no outro é não olhar para si. É ainda uma forma de criticar mas sem querer parecer ofensivo.
Segundo, o indivíduo, além de permanecer "bom", ainda se coloca como superior ao outro.
Terceiro, imaginar a gravidade do problema do outro (e ter pena) seria como que resolver a própria dor, ou seja, o sofrimento do outro representaria a resposta para os seus problemas, na medida em que a sua situação não seria tão grave.
Quarto, o verbo "imaginar" é o mais adequado neste tipo de situação, afinal, a pessoa imagina que o outro está mal e que ela está ótima. É uma imaginação baseada em aparências para melhorar a autoestima!
Quinto, sentir pena não significa resolver a situação do outro.
Algumas pessoas "funcionam" mais ou menos como os cavalheiros do apocalipse: elas somente "ganham" vida quando o outro sofre. Em outras palavras, elas precisam das tragédias (dos outros) para mostrar (ou imaginar) o seu valor.
Sentir pena é humano. É impossível não se comover diante de algumas situações. A questão, porém, é usar esse sentimento como uma estratégia de fuga de si e/ou de controle do outro. Cindy Crawford, irritada com os olhares e as observações dos homens nas academias, afirmou: "I'm thinking, Hello? Have you looked in the mirror lately?" Sim, antes de sentir pena do outro, seria interessante dar uma olhada do espelho.
IDADE & CRISE
Você consegue imaginar o que estará fazendo daqui 30 anos? Quando eu era adolescente, numa conversa com um amigo, fizemos essa pergunta e imaginamos como seria o futuro de cada um da nossa turma. Acertamos? Claro que não. A última vez que vi esse amigo, ele estava casado e trabalhava no grupo Algar. Na época, eu também era casado e dava aulas em duas faculdades. Não o vi mais desde então.
E os outros? Sei de gente que morreu de AIDs, outros foram presos por causa de drogas e outro foi parar no presídio, depois dos 45 anos, por estelionato e formação de quadrilha. Teve gente que ganhou dinheiro. A maioria, contudo, trabalha muito, mesmo depois dos 50, para sustentar os filhos e/ou pagar pensões.
Pelo menos um tornou-se alcoólatra. Teve gente que formou e nunca exerceu a profissão. Houve garotas que nunca casaram, mas tiveram filhos e moram com os pais. Houve aposentadorias por motivos de saúde (AVC, por exemplo).
Os machistas de outrora ficam desesperados, hoje, com as filhas lindas e loucas - e nem imaginam o que as meninas efetivamente fazem nas noites da cidade...
Teve gente que tornou-se evangélico. Alguns fizeram exames de próstata e outros não (pelo menos falam). Houve quem namorava as meninas mais bonitas e depois assumiu a homossexualidade. Divórcio? Alguns. Crise da meia-idade? Todos (apesar de vários não associarem o "nome" a "coisa").
Enfim, para um grupo de adolescentes que viveu na década de 1970, os rumos assumidos não devem ter sido tão diferentes de outras pessoas que cresceram nas periferias dos municípios brasileiros daquele período.
VOCÊ NÃO SENTE FALTA DO QUE NÃO VIVEU
Você já esteve apaixonado de verdade? Apaixonado de um jeito que tudo perde o sentido... que a única coisa que você deseja é estar com a pessoa amada 24 horas por dia... tão obsessivo que nem o objeto de sua paixão suporta tanto... sentimento?
No filme "Damage Done", o ator Jeremy Irons faz o papel de um ministro inglês, cuja característica essencial é a racionalidade. Ele acredita que pode controlar as coisas. Os ingleses são famosos por sua frieza, por não demonstrarem seus sentimentos. O ministro do filme é assim até o dia que fica apaixonado pela noiva de seu filho. Tem um caso com ela. Perde o controle. O filho suicida. A esposa o odeia. Ele perde tudo.
Muitas pessoas costumam dizer que isso só acontece em filme. Sério?! Será que elas realmente acreditam que podem controlar as emoções? Acreditar é "o" verbo. Cada um acredita no que quer. Na caso do conhecimento teológico, o nome disso é fé.
Acreditar não significa realidade. Desejar algo não significa viver/ter aquilo de verdade. Só acreditar é fantasiar. Viver na fantasia é alienação.
E o amor? É subjetivo, diriam alguns. É invisível, portanto, não existe, diriam outros. Entretanto, como diz aquela velha música: "love hurts". Sim, você não vê, não entende... mas sente!
Isso te faz perder aquilo que você jurava que possuía: o controle. Isso te faz sair da terrível e chamada normal "zona de segurança". Você acha ruim? Não importa. Não faz diferença. A racionalidade perde o valor quando você está efetivamente apaixonado. Nunca passou por isso? Tem gente que achará que você é um indivíduo de sorte. Outros terão pena de você. E quanto à você mesmo?! Pode ser dito que você não sente falta daquilo que não viveu.
"SEXTAPE"
Em 2000, vi num supermercado, em Madri, o vídeo da Pamela Anderson com o então marido Tommy Lee. Estava junto com outros vídeos. O problema era que o conteúdo era particular: tratava-se da intimidade de um casal, num vídeo caseiro. Não se sabe como o vídeo foi parar na internet e, posteriormente, comercializado como um filme qualquer.
Quando surgiu o debate sobre o "bullying", o que era mais ressaltado era o tipo de gravação clandestina - normalmente comprometendo uma pessoa - que , em seguida, era disponibilizada na internet. Recentemente, aqui no Brasil, uma garota teve problemas quando gravou uma dança sensual para a câmera do celular de um amigo e depois ficou sabendo que todos, em sua pequena cidade, tiveram acesso às imagens.
Internet, câmeras digitais modernas em celulares e adolescentes: trata-se de algo que não havia antes e que pode trazer resultados ruins para os envolvidos, além de ficar, como diria aquele humorista, "eternizado na web".
Solução? Nenhuma. Afinal, envolve o instinto do ser humano e não existe lei que possa barrar esse tipo de desejo. O que pode ser feito é educar e tomar medidas de prevenção, mas não existe garantia de que alguém não cometerá uma atitude antiética ou mesmo ilegal.
As celebridades costumam ter mais problemas com este tipo de coisa, como foi o caso de Pamela Anderson. Na época, "caiu na rede" o primeiro "sextape" da Paris Hilton. Só de dizer "primeiro", questiona-se até que ponto o ato de deixar o vídeo ir para internet foi um ato involuntário. No referido vídeo, Paris Hilton aparece bem a vontade, posando para a câmera, mais preocupada com o vídeo do que com o parceiro. O rapaz parece um objeto. Tanto é verdade que, num momento, Hilton pára a relação para atender o seu celular.
De 2000 para cá, os "sextapes" das celebridades ficaram comuns. A novidade, atualmente, são as gravações de pessoas comuns, gravadas com ou sem autorização, que são disponibilizadas na internet.
ESTILO DE VIDA: "TWO AND A HALF MEN"
Uma das frases do personagem Charlie Harper é: "Entre os meus amigos, não existem mulheres."
Ele sai sozinho para os bares e sempre volta com uma garota. Diz todas as mentiras possíveis, faz sexo com ela e na noite seguinte procura uma mulher diferente. É o que ele chama de "estilo de vida". O seu maior medo é o casamento, em segundo lugar vem uma relação estável, como um namoro, por exemplo.
Charlie Harper é o típico solteirão. Tem relações mal-resolvidas com a mãe e recusa discutir o assunto. Quando visita sua terapeuta, é para saber se é gay ou para tratar algum problema com o seu irmão. Para esquecer os traumas da infância, bebe muito e todo dia. Sair sempre com mulheres diferentes demonstra o medo que ele tem de ser dominado pelo sexo oposto. Mais uma vez a mãe é a referência nas escolhas da vida adulta.
A série não trata, mas, na realidade, quem tem este estilo também se envolve com drogas. Tanto é verdade, que o ator Charlie Sheen é um consumidor de cocaína e um fã do sexo com prostitutas. Quando questionado sobre o último tema, afirmou: "pago por sexo porque tenho milhões de dólares para gastar." A vida imita a arte... ou, no caso dele, seria o contrário?
Não conheço um indivíduo que assistia a série e, em algum momento, não dizia que gostaria de ter aquele estilo de vida. Costuma ser lembrado só o lado positivo - mulheres, dinheiro, casa na praia, carrão, entre outras coisas - e omitido os vários problemas que o personagem enfrenta no seu tipo de vida. É normal. Provavelmente, cada um precise de um mito como referência. No caso de um homem solteiro, Charlie Harper aparece como um modelo a ser seguido.
MASOQUISTAS DESCEREBRADOS
Você acredita na ideologia do trabalho? Você trabalha muito para dar conforto para a sua esposa e para os seus filhos? OK.
Você tem, durante as 24 horas do dia, pelo menos uma na qual você pode fumar um (legítimo) charuto cubano e tomar umas 2 ou 3 doses de um (legítimo) whisky escocês, assistindo e ouvindo o que quer numa televisão?
Não?!! Esquece. Você seria um dos masoquistas descerebrados (citados pela Maier) que, provavelmente, não entenderia o que acabei de escrever.
"NÃO FUI COM A SUA CARA"
Uma vez, uma professora comentou que estava no carro, no estacionamento de um supermercado, quando ouviu alguém comentar que ela seria um travesti. Passei por algo pior. Do nada, um travesti gordo, com uma maquiagem exagerada e num vestido branco, olhou para mim e falou: "você é muito feio". São situações inesperadas. A minha professora não era travesti. Ela era linda e com um corpo fantástico. No caso do meu excesso de feiúra, existe controvérsia... ou, pelo menos, tento acreditar nisso.
A questão, claro, é outra. Independente de ser (ou não) travesti e feio, o problema é o que levaria alguém a fazer tal afirmação? São pessoas desconhecidas fazendo comentários de pessoas que nunca viram na vida.
O indivíduo só por existir e ser do jeito que é, obviamente, gera incômodos nos outros. Daí, pode ser agredido com palavras ou até fisicamente. Trata-se do famoso "não fui com a sua cara". Em outras palavras, existe gente que sai para os lugares para ofender gratuitamente os outros e arrumar confusão. Isso é comum no trânsito. O marido chifrado, por exemplo, busca vingança falando palavrões para o motoqueiro.
Uma pessoa que ofende um desconhecido demonstra não só uma falha de caráter, mas revela insegurança e um mal estar com a sua própria existência. Agredir, beber em excesso, tomar drogas, nada disto, porém, será capaz de preencher aquele vazio. Não adianta correr... tentar fugir de si... afinal, você termina sempre onde começou: em você mesmo. Se você não se suporta e é covarde diante do suicídio, seria razoável, antes de envolver os outros em sua loucura, procurar ajuda com um psicoterapeuta ou com um psiquiatra. Se isso não for feito, de qualquer maneira, o fim de gente assim é o presídio ou o hospício.
O DESESPERO DE FICAR SOZINHO
Nas escolhas e nas faculdades, as pessoas precisam dos grupos para construir as identidades.
É uma forma de defesa. No fundo, os sorrisinhos combinados não passam de insegurança - quem nunca viu a cena numa típica festa universitária, sobretudo com um grupo de garotas?
Após o período da faculdade, as paqueras tendem a dar espaço para uma relação monogâmica. Daí para a condenação, digo, para o casamento, é um passo.
Após séculos de fracassos, os "dois pombinhos" acreditam que o casamento deles será diferente e tudo vai dar certo. Não vai. O filme que.melhor retrata essa realidade é "Guerra dos Roses".
Quem vive uma longa relação monogâmica, namoro ou casamento, tende a perder contato com o velho grupo de amigos. Existe um conflito entre a namorada e os companheiros de futebol. Normalmente, ela vence.
Quando a tal relação acaba, o indivíduo encontra-se sozinho e mais velho. Não dá para fingir que o tempo não passou. Rir das mesmas brincadeiras que ocorriam dez anos atrás não faz sentido.
Bate o desespero e ele deseja aquilo que um dia disse que nunca faria novamente: outra relação monogâmica. Dependendo do desespero, a pessoa pode casar duas ou três vezes (ou mais), deixando "um rastro" de pensões, filhos e ex-esposas furiosas (um exemplo de ex-esposa pode ser visto na personagem Judith de "Two and Hal Men").
No final, dependendo da idade, pode voltar a morar com os pais, ir para um asilo ou para um presídio por não pagar as pensões.
A CASA CAIU?
É comum ver uma pessoa que mora num bairro popular, na periferia, paga aluguel, mas usa roupas de marcas famosas e dirige um carro novo e importado. Muitas vezes, esse carro é vermelho.
O que significa isso? Ela finge para os outros que é milionária. O vermelho chama a atenção - não é por acaso que tornou-se a cor oficial da Ferrari, símbolo de status.
O carro e as roupas de marca produzem uma imagem do indivíduo. Se ele for a um bar, por exemplo, é isso que os outros vão ver.
Aparentemente, para este tipo de pessoa, morar na periferia e pagar aluguel não seria um problema, pois os outros não teriam acesso a essa imagem.
Por quê? Qual seria o sentido de deixar de se alimentar para colocar gasolina no carro? Fingir para quem? Para o outro ou para si mesmo? Para quê?
Tentar convencer o outro seria uma forma de tentar convencer a si mesmo? Talvez. Mas, convencer de quê? Convencer que o indivíduo é um milionário é admitir, no ato, que ele não é milionário. Convencer o outro disto não é convencer, é enganar. Assim, enganar o outro representa uma tentativa de enganar a si mesmo.
Por quê? A pessoa finge quando algo a incomoda - no exemplo, o fato de ser pobre. Inventar uma imagem é uma forma de fugir do problema. Trata-se de uma recusa de refletir sobre a sua própria condição.
No fundo, é um exercício de alienação e como tal seria como construir um castelo de cartas: qualquer movimento pode desmascarar a fantasia. Isso seria representado pela expressão popular "a casa caiu", ou seja, os outros não acreditam e se recusam a participar da sua ilusão. Isso coloca o indivíduo diante de si mesmo, que era o que ele tanto temia. Não há mais como fugir, ou ele reflete sobre a condição humana e assume a dor de sua existência ou insiste sozinho na velha fantasia, acreditando, sozinho, que ela seria a realidade - o nome disto é loucura.
PSEUDO-NAZISTA SILICONADA
Ninguém é perfeito. É óbvio. Então, por que encontramos gente que se acha superior aos outros? No interior, em cidades menores, é comum encontrar com o tipo, normalmente numa grande camionete, ouvindo, no som alto, alguma dupla sertaneja.
Se for homem, quando desce do carro, apresenta um andar meio "robótico", provavelmente em virtude das altas doses de anabolizantes usadas nas academias, para inchar o corpo e parecer algo que não é.
Se for mulher, os silicones, as marcas das cirurgias plásticas e o cabelo pintado denunciam um mal gosto típico daquela classe média que assina a revista Veja e vai ao shopping center nos finais de semana.
São pessoas que acreditam que são melhores do que os outros. Muitas são racistas. Elogiam o nazismo sem conhecer essa teoria e sem saber que na Alemanha, por serem latinas, seriam consideradas inferiores. O motivo é simples: pintar o cabelo de loiro e usar lentes azuis não "transporta" automaticamente um indivíduo de um país tropical para a raça ariana.
Os alemães nazistas estavam errados. Os seus princípios e os seus métodos foram equivocados. Perderam a Segunda Guerra Mundial. Foi um preço pago por uma escolha errada. O povo alemão ainda paga esse preço. Por isso, quando aparecem elogios ao nazismo, normalmente são pessoas de outras países, algumas desinformadas, muitas preconceituosas, e, mais importante, não viveram a realidade de um regime totalitário e nem sofreram as consequências desta escolha política.
Os pseudo-nazistas robóticos e as pseudo-nazistas siliconadas representam apenas uma constrangedora parcela da classe média que vive, sobretudo, no interior do país.
NORMAIS E ANORMAIS
As pessoas mais velhas costumam dizer que, na época delas, não havia tantos homossexuais ou indivíduos com depressão. Trata-se de um discurso conservador. Existir sempre existiu, essas pessoas que "não queriam ver". Do outro lado, os "diferentes" não se mostravam, preferiam, por causa do preconceito, a discrição ou mesmo o isolamento.
No caso da depressão, era comum simplesmente dizer que ela não existia, ou era coisa de louco, ou era "frescura" de rico. Ainda hoje, muitos pensam assim. Gláucio Soares, no jb on line, diz que "no Brasil, os pobres que padecem de depressão raramente são tratados e sofrem e morrem como moscas." Em outras palavras, o preconceito e a falta de informação permanecem.
No que diz respeito aos homossexuais, nem precisa dizer muito, basta lembrar os vários ataques de homofobia nas cidades brasileiras.
De fato, o preconceito e a alienação estão, muitas vezes, associados. Não conhecer, quase sempre, implica em não aceitar. Há uma imposição de como deve ser a conduta de um ser "normal". As pessoas buscam "modelos" nos piores lugares - como os programas de grande audiência da televisão. O resultado é uma maioria alienada, que trata o diferente como "anormal".